Prêmio Nobel de Fofura

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Sem reação. É assim que me sinto. Estagnada, muda e culpada. Como uma criança que é pega em flagrante aprontando alguma arte, consegue despistar o adulto responsável por ora, mas depois de algum tempo se vê diante do desconfortável e inevitável reencontro.

É assim que me sinto enquanto Natasha Romanoff me encara, se levanta da cadeira e caminha até a entrada da cozinha, onde me encontro petrificada como uma estátua, segurando firmemente o braço do meu melhor amigo.

Quando finalmente para diante de nós, a Viúva Negra lança um sorriso discreto para Josh e reporta:

— Stark disse "Fiquem à vontade e, se sair alguma coisa boa dessa brincadeira, deixem um pouco pra mim."

Meio ansioso — afinal ainda não se acostumou com o fato dos Vingadores fazerem parte das nossas vidas, a ponto de um deles nos ceder a sua equipada cozinha para brincarmos de Master Chef —, Josh assente várias vezes e diz meio engasgado:

— Sim, sim... pode deixar. Combinado!

Natasha toca suavemente em seu ombro, e então Josh me solta e se vai.

Com os olhos arregalados e descobrindo que não estava segurando o braço dele com tanta força assim, acompanho seu trajeto até o balcão, onde Amy e o Dr. Patel separam uma infinidade de ingredientes e conversam sobre uma receita.

Quero correr até eles e deixar a figura intimidante diante de mim no vácuo, mas isso seria muito suspeito da minha parte. Além de uma tremenda falta de educação, diga-se.

Sem saída, torno a fitá-la. E estou convencida de que ela vai agarrar meu pulso a qualquer momento, me arrastar para fora da cozinha e me obrigar a falar sobre o ocorrido na sala de treinamento mais cedo, quando sou surpreendida pelo tom compreensivo em sua voz:

— Eu estou do seu lado, Olivia. Se você não quer falar a respeito do que houve, tudo bem. Mas não finja que não aconteceu nem subestime a minha inteligência. Você é melhor do que isso. Quando quiser conversar, quando estiver pronta, me procure. Eu não vou te julgar.

Devo dizer que apesar de compreensiva, Natasha despeja essas palavras de um jeito firme, pontual e, claro, num tom baixo para que as outras pessoas presentes não escutem, apenas a maior interessada — no caso, eu. E devo dizer também que o efeito do seu discurso em mim é imediato.

Percebo o que fiz ao fugir o dia inteiro, como fui infantil e como subestimei não só sua inteligência, mas como sambei em cima de sua amizade. Sinto-me envergonhada e tudo o que consigo sibilar em resposta é:

— Desculpe e... obrigada. Eu vou me lembrar disso quando... estiver pronta. Juro juradinho.

Visivelmente satisfeita por termos esclarecido a situação, a Vingadora diva me tranquiliza com um sorriso torto e contido, olha rapidamente para as visitas atrás de nós, volta-se em minha direção e se despede:

— Divirta-se.

Sigo-a com um olhar tranquilo, sentindo-me totalmente diferente de como estava há poucos segundos. Leve e acolhida, como se um peso tivesse saído das minhas costas.

— Fofa — murmuro enquanto Natasha atravessa a porta e desaparece.

Embora não me sinta confortável para falar sobre como meu lado alienígena vem me afetando, é muito bom saber que posso contar com alguém. No fundo, eu sei que posso contar com os demais membros da equipe também. Mas neste momento, não estou preparada para me abrir. Além disso, talvez eu esteja exagerando e minha força descomunal nunca mais se manifeste.

— Está tudo bem, gata? — A voz de Josh me desperta e deixa claro que, apesar de não ter ouvido a conversa, ele sentiu a tensão no ar.

— Sim, tudo perfeito. — Com deboche e enquanto caminho até o balcão, minto do jeito mais convincente que consigo: — Natasha só estava... me contando uma piada do Homem de Ferro. Tão sem graça que eu até já esqueci. Sério, esse homem se acha mais engraçado do que realmente é. Alguém tem que lhe dizer isso.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora