A cartada final

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Há alguns anos, quando invadi Midgard, tudo o que eu almejava era vingança e um trono. Agora, tudo o que Ultron anseia é destruir o planeta inteiro até não restar pedra sobre pedra.

De acordo com Stark, o campo magnético, que há no núcleo de vibranium, da enorme rocha sokoviana, que Ultron desprendeu do resto da cidade, a mantém íntegra enquanto ganha altitude. Se caísse agora, o impacto mataria milhares. Se for alto o bastante, o resultado poderá ser a extinção global.

Então me digam, eu fui mesmo um vilão tão maquiavélico assim?

Certo, não respondam. Apesar das motivações e intenções distintas, também causei os meus estragos nesse Reino.

Acontece que, na época, eu era movido apenas pela raiva e estava tomado por um desejo amargo de vingança contra Thor e Odin. Dado como morto e exilado no esquecimento, conquistar Midgard me pareceu uma excelente maneira de ressurgir das cinzas, mostrar o meu valor e ocupar minha posição de direito: ser um rei. Era o retorno perfeito e a vingança que me traria um pouco de realização e muito poder, convenhamos.

Entretanto, desde que fiquei próximo da Joia da Mente há alguns dias, venho pensando muito nas atitudes que tomei outrora. Eu fiz minhas próprias escolhas, é verdade, mas sinto que, de alguma forma, posso ter sido induzido a tomá-las. Sutilmente, é claro, afinal ninguém manipula o Deus da Trapaça desse jeito sem que ele perceba ou aceite participar do jogo.

O fato é que quem me ofereceu o acordo — o exército Chitauri em troca do Tesseract — sabia muito bem que eu não teria como recusar. Sendo assim, meu ódio foi alimentado não só pela minha ganância, mas também por alguém cujas intenções fazem Ultron parecer bem menos ameaçador agora.

Pergunto-me ainda se a Joia da Mente teve relação direta com o ódio crescente que eu deixei que me dominasse naquela época. Não sei dizer ao certo, mas é uma teoria interessante, uma vez que, em certos momentos, simplesmente era impossível controlar minha fúria. Era como se fosse tarde demais para mim, como se não houvesse volta, como se não fosse fazer a menor diferença no final. Eu estava completamente cego.

Seja como for, Ultron é a ameaça urgente no momento e no que devo me concentrar. Não posso alterar o passado, é mesmo tarde demais para isso, porém posso fazer algo pelo futuro. É disso que o planeta natal do tormento depende, aliás. Da minha contribuição para a queda de Ultron. Quem sabe esta seja a minha nova forma de provar o meu valor?

Então, assim como almejei a derrota de Malekith anteriormente para vingar Frigga, hoje almejo manter Midgard a salvo por Olivia Mills. E por mim mesmo. O que importa para ela, importa para mim.

Julguem-me, se assim o quiserem, mas é com esse espírito que luto ao seu lado para proteger o ativador do núcleo, no centro de um antigo templo sokoviano, sob o qual Ultron construiu seu plano genocida contra Midgard. É por Olivia e por mim mesmo que aceito a parceria com os Vingadores ao nosso redor e destruo o exército de armaduras patéticas com minha fúria, minha força, minhas adagas e minha espada, impedindo que Ultron chegue perto demais e conclua sua missão.

Todos os Vingadores estão aqui, além dos Maximoffs e da mais recente criação de Tony Stark — alguém a quem Ultron se referiu como minha Visão. Cada um deles usam as armas e habilidades que possuem. Nada comparado a mim, é claro.

Há pouco tempo, Nick Fury surgiu no céu com uma invenção ambiciosa da S.H.I.E.L.D., o aeroporta-aviões, onde já estive como prisioneiro. Olivia ajudou a enviar todos os midgardianos insolentes de Sokovia para lá. Confesso que fiquei aliviado ao supor que o seu trabalho por aqui havia terminado e ela ficaria a salvo. Mas então, a criatura teimosa demonstrou uma bravura audaz ao se juntar a nós nesta derradeira batalha final.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora