Gafanhoto, aí vou eu!

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A primeira vez que voei nessa coisa medonha — lê-se: Quinjet —, Loki estava no assento ao meu lado. Depois de se divertir um pouco com a minha cara de assustada, o trapaceiro irresistível segurou minha mão, fazendo qualquer receio que eu sentia se dissipar completamente.

Pois é, aquele traste consegue ser fofo às vezes.

Entretanto, agora Loki não está aqui e isso significa que eu tenho que me virar como posso e vencer esse medo sozinha. Para o meu próprio bem, é melhor me acostumar logo a voar nesse peculiar meio de transporte da S.H.I.E.L.D., pois algo me diz que esse tipo de viagem será cada vez mais frequente.

No mínimo duas vezes por semana. Foi o que Coulson disse sobre minhas idas à base secreta.

Respiro fundo, aos poucos diminuo a pressão dos meus dedos agarrados ao assento e abro os olhos devagar, me acostumando com o cenário à minha volta. Vejo Clint, um pouco adiante, pilotando o Quinjet com uma tranquilidade e experiência invejáveis, como se ele pudesse fazer isso de olhos fechados e com os pés nas costas.

Será que ele poderia?

— Olivia?

Reconheço a voz de Natasha Romanoff e olho para a esquerda imediatamente. A ruiva está sentada ao meu lado, visivelmente tranquila com a viagem, porém intrigada com a minha postura. Claro, eu devo estar branca como um papel e tremendo feito vara verde. Que vergonha...

— Está tudo bem? Você ouviu o que eu disse? — Ela arqueia as sobrancelhas e me olha de um jeito até gentil para a Viúva Negra.

Controle-se, Olivia. Essa coisa não vai cair e em breve você estará em terra firme de novo. Pare com a palhaçada agora mesmo! Oxente! Aviões são os meios de transporte mais seguros do mundo! E embora não seja um avião propriamente dito, o Quinjet deve ser mais seguro ainda. A S.H.I.E.L.D. não brinca em serviço, menina!

— Estou — sibilo, porém como a minha voz sai quase inaudível, limpo a garganta, me endireito no banco e reitero de um jeito mais firme: — Eu estou bem e ouvi tudo o que você disse, diva master.

Tudo mentira. Eu não ouvi patavinas do que essa criatura falou. Rá! Me julguem, mas eu não consegui me concentrar porque estava preocupada demais com o voo.

Contudo, não é preciso ser muito inteligente para deduzir que Natasha estava explicando a sua postura durante nossa luta na base da S.H.I.E.L.D. e justificando a sua rixa com o meu gafanhoto magia.

Como se soubesse que eu não prestei a mínima atenção em seu discurso, a ruiva retoma:

— Resumindo, não é que eu não acredite que Loki mudou. Um pouco, pelo menos. Mas isso não é o suficiente, não é o bastante para me fazer esquecer tudo o que ele fez, entende? É algo... Complicado para mim e para os Vingadores de uma forma geral. E por mais que você ache essa situação injusta, não pode nos julgar por pensarmos assim. Você tem os seus motivos para confiar cegamente em Loki, nós temos os nossos para não confiar.

Permaneço em silêncio por um algum tempo, apenas analisando o que ouvi — e não é a primeira vez que ouço esse tipo de argumento vindo de algum membro da equipe de heróis —, até que organizo meus pensamentos e contra argumento:

— Olha, eu sei que o gafanhoto errou e muito, mas uma coisa que eu aprendi nos últimos tempos é que se apegar ao passado não nos leva a lugar algum. Ou melhor, só nos mantêm presos ao ontem e é horrível viver assim. — Faço uma breve pausa e depois prossigo: — Pois bem, Loki me tirou do passado, mudou a minha vida, me fez enxergar o futuro com esperança e agora tudo o que eu quero é fazer o mesmo por vocês, Vingadores. E eu vou fazer. Custe o que custar.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora