De volta às origens

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Ouço passos se aproximando pelo corredor e logo vejo a silhueta do meu irmão através do vidro que isola o laboratório — mais silencioso do que nunca — de Bruce Banner. Foi para cá que vim depois do primeiro contato — desastroso, aliás — com aquele que diz ser o meu pai, J'son de Esparta. Grande coisa...

Encolhida em um canto da moderna ala, enxugo o rosto e observo quando Peter empurra a porta e entra com uma expressão que mistura alívio e culpa. Alívio por finalmente ter me encontrado, e culpa, de certo, por não ter me avisado que a Torre dos Vingadores estava hospedando presença tão ilustre.

Sim, ainda estou com raiva. Com a macaca, melhor dizendo! Porém, de alguma forma, também estou um pouco mais calma e disposta a ouvir o que o meu irmão tem a dizer em sua defesa.

Enquanto se acomoda ao meu lado no chão, ele rompe o silêncio:

— Que bom te encontrar aqui. Por um momento, eu pensei que você tivesse saído feito uma maluca e estivesse zanzando com essa roupa asgardiana em plena Nova York.

Por instinto, olho para os meus trajes por um breve instante. Prova irrefutável da minha urgência em me afastar de Asgard, em virtude daquele papo estranho de Odin sobre casamento.

Afasto essa lembrança e volto a fitar a parede de vidro adiante. Permaneço mais muda do que o Dunga da Branca de Neve, o que leva Peter a tentar quebrar o gelo de novo:

— Eu fiquei preocupado. Ouvi dizer que você foi atropelada por uma bicicleta uma vez.

Fecho os olhos e amaldiçoo a única criatura que poderia ter contado para o meu irmão sobre esse trágico e vergonhoso incidente: Tony Fofoqueiro Stark, é claro, o linguagudo-mor.

Afasto esse pensamento também, pois percebo que nada disso importa no momento. E embora Peter não esteja merecendo muita consideração da minha parte, sinto-me mal por ficar indiferente as suas tentativas de diálogo. De certo, está querendo se explicar. Então respiro fundo, abaixo a guarda e resolvo interagir:

— Eu ia sair sem rumo certo mesmo. Mas aí... eu lembrei dos meus bacuris e hesitei. Não que eu estivesse prevendo ser atropelada por uma bicicleta de novo, mas eu não quis arriscar sair assim, tão nervosa. O laboratório do Bruce me pareceu uma alternativa bem mais segura. Um bom lugar para me acalmar e colocar a cabeça em ordem.

Peter hesita, mas enfim pergunta:

— Funcionou?

Esboço um sorriso torto e deixo a resposta subentendida:

— Bem, eu estou falando com você, não estou?

Um sorriso amarelo surge em seu rosto.

— Foi mal por não ter contado sobre o novo hóspede da Torre. Eu ia te falar dele antes de qualquer coisa, juro, mas então teve o atentado de Ultron, de repente você estava em Asgard e eu não esperava que fosse voltar para cá tão cedo. Eu não tive tempo hábil para te contar ou te preparar, foi isso.

— Tudo bem.

Aceito sua justificativa ao perceber que ela faz todo o sentido. Peter não sabia que eu ia voltar para Midgard assim, de repente, não mais que de repente. Ele estava crente que teria tempo o bastante para conversar comigo e preparar o terreno para o fatídico encontro. E apesar da nossa breve discussão a respeito do meu desejo de adiar isso, está claro para mim que ele também não esperava que J'son fosse surgir na sala daquela forma. Peter não quis forçar uma situação, disso eu tenho certeza.

Sendo assim, não posso ficar com raiva dele. Não fico. Quando dou por mim, já estou segurando sua mão ao lado da minha no chão e sorrindo amigavelmente. Peter retribui da mesma forma.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora