Embaraçoso

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Apesar de estar me sentindo perfeitamente bem, os Vingadores insistem para que eu volte à ala médica da Torre e me deite. Segundo Bruce, eu ainda preciso de repouso para me recuperar por completo e poderei conversar com Coulson lá. Acho melhor não retrucar e volto para a cama.

Assim que eles saem, meu chefe adentra o quarto com sua costumeira postura firme. Somente ao vê-lo me dou conta de que terei que encarar o que aconteceu comigo. Aquele pesadelo foi real e terei que falar a respeito. Eita.

Para meu alívio, Phil começa a delicada conversa:

— Olivia, que bom te ver acordada e melhor. Antes de mais nada, sinto muito pelo o que houve. Eu devia ter imaginado que algo assim pudesse acontecer eventualmente, mas acho que fui negligente. Espero que você aceite minhas desculpas e a promessa de que a partir de agora sua segurança é prioridade para a S.H.I.E.L.D.

— Não foi sua culpa, mas obrigada pela preocupação — respondo. E percebendo que ele estava falando sério sobre se desculpar, acrescento para tranquilizá-lo e colocar uma pedra neste ponto do assunto: — Desculpas aceitas, chefe.

— Que bom. — Coulson puxa uma cadeira que estava no canto do quarto e senta bem perto da cama antes de recomeçar: — Eu sei que você tem muitas perguntas, eu também tenho. Então como vai ser? Damas primeiro?

Definitivamente tenho muitas perguntas mesmo. Por isso, resolvo aceitar a oferta e despejo minha primeira dúvida cruel:

— Quem diabos é Grant Ward?

Quase no mesmo instante, Phil esclarece:

— Acho que eu não preciso dizer que ele está diretamente ligado à HYDRA. O fato curioso é que Ward já fez parte do meu time. Quando a S.H.I.E.L.D. caiu, ele finalmente mostrou sua verdadeira face. Por muito tempo eu me recriminei por não ter notado os sinais antes. Hoje eu estou convencido de que ele não me deu essa chance. Grant Ward é um psicopata, dissimulado, manipulador, perigoso e traiçoeiro. Sinto muito que você tenha o conhecido.

— Uau! Gente boa então, hum? — brinco numa tentativa de dissipar a tensão. — Ele está aqui? — prossigo, com uma ponta de receio, pois a simples possibilidade de que este infeliz esteja sob o mesmo teto que eu me causa náuseas.

Para meu alívio, Coulson reporta:

— Não, Ward está a quilômetros de distância, Olivia, não se preocupe. Ele está preso na base que chamamos de Playground. Aquela onde eu e você conversamos há pouco tempo, lembra? Embora ainda esteja inconsciente, a segurança em torno dele foi redobrada.

Inconsciente. Tal palavra me lembra o ocorrido em meu terraço, quando Loki quase matou o lacaio da HYDRA com o seu poder de gelo. Mesmo deduzindo que a situação de Ward é crítica, pergunto retoricamente:

— Como ele está?

Coulson se ajeita na cadeira e pensa um pouco, como se estivesse escolhendo as melhores palavras, e então diz:

— Em coma. Seu corpo entrou em choque por conta da severa... Hipotermia e falta de oxigenação no cérebro.

— Que forma sútil de dizer que o gafanhoto quase o matou congelado e asfixiado — observo ainda com meus pensamentos focados naquela fatídica noite.

— De fato, Loki quase fez isso. Um minuto a mais poderia ter sido decisivo — Coulson comenta, pensativo e um pouco distante. Logo depois, ele torna a olhar para mim e emenda: — Se ele não fosse Grant Ward, eu diria que jamais iria se recuperar. Mas eventualmente, eu sei que ele vai.

E eu sei que impedi o gafanhoto de matar Grant Ward, mas ao ouvir as últimas palavras do Diretor da S.H.I.E.L.D., uma parte de mim espera que ele esteja enganado. Essa parte sombria deseja que Ward não acorde mais... Nunca mais.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora