A vaca foi pro brejo

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O clima na Torre dos Vingadores ficou bem tenso depois do ataque do Robocop genocida, há algumas horas. Especialmente entre Tony e Steve, já que o herói patriota ficou passado na margarina light — afinal, ele é fitness — quando soube o que o companheiro de equipe andou aprontando, nos últimos três dias, em seu laboratório, sem consultar o restante do time e tomando decisões arriscadas por conta própria.

Todos nós ficamos abismados, aliás. Ainda mais porque Bruce — sempre tão certinho — também estava envolvido no babado. Ele ajudou o amigo a transferir a consciência artificial do Cetro para o audacioso Projeto Ultron que, teoricamente, deveria proteger o planeta de futuras e hostis invasões alienígenas. Sabe como é, o seguro morreu de velho.

Claramente, algo deu errado e o tiro saiu pela culatra. Para piorar, antes de fugir por meio da internet, Ultron afanou o Cetro, deixando claro que o potencial completo do artefato ainda é um mistério para todos nós.

Resumo da ópera: a vaca foi pro brejo.

Apesar de tudo, não consegui ficar decepcionada com o Homem de Ferro por muito tempo. Ele meteu os pés pelas mãos, é verdade — quem nunca? —, mas tinha boas intenções, como sempre tem.

Além disso, ele mencionou algo sobre uma visão apocalíptica e perturbadora que teve em Sokovia. Algo que, com certeza, o influenciou para acelerar o Projeto Ultron da forma como fez. Tudo indica que a tal Wanda Maximoff não é camarada como a Eleven de Stranger Things, apesar de terem poderes parecidos, na minha opinião. O fato é que ela devia estar por perto quando Stark encontrou o Cetro e mexeu com sua mente de alguma forma.

Sobre Ultron, o que sabemos até o momento é que o infeliz vem tentando acessar e acionar códigos nucleares. Para nossa sorte, ele tem sido barrado por um possível aliado dos Vingadores. Ninguém sabe quem o sujeito é.

Esse perrengue todo circunda minha mente enquanto vejo Amy na ala médica da Torre, através da janela de vidro que separa a área do corredor. Minha amiga não se feriu gravemente, mas teve escoriações por conta de alguns estilhaços.

Ao meu lado, e mais mudo do que o Dunga da Branca de Neve, Bruce observa uma enfermeira fazendo um último curativo no ombro dela. Amy está distraída e não nos nota.

— O que aconteceu com ela não foi sua culpa — digo, embora eu tenha certeza que Bruce não pensa assim.

Provando que eu acertei e que está mesmo se martirizando pelo ocorrido, ele replica sério:

— Não? Para mim, foi uma pequena amostra do que pode acontecer, se eu continuar... fazendo isso que estou fazendo, deixando que ela se aproxime, mantendo contato, permitindo que entre na minha vida.

Volto-me em sua direção e argumento mais incisiva:

— Você e o Homem de Lata cometeram um erro, ok. Mas quem trouxe a Amy para essa confusão toda fui eu. Se não fosse minha melhor amiga, ela não teria se envolvido nessa história, para começo de conversa. Eu a convidei ontem. Além disso, o mais importante é que não foi nada grave. Acredite, Amy já se machucou bem mais do que isso, fazendo uma simples faxina no quarto. Ela vai ficar bem.

O alter ego do Incrível Hulk permanece em silêncio por um longo momento. Por fim, assente de um jeito que eu não gosto nem um pouco:

— Nisso, nós concordamos. Eu tenho certeza que ela vai ficar bem sim.

Sem dizer mais nada, Bruce começa a se afastar.

Deduzindo que ele está colocando um ponto final na pequena, porém importante, proximidade que estabeleceu com minha amiga, e com isso zelar pela segurança dela, tento argumentar:

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora