Toda história tem um final

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Há cerca de um ano, fui surpreendida enquanto voltava para o meu amado cafofo, depois de uma longa jornada de trabalho escravo. Após ter sido atormentada pelos meus dois chefes demônios o dia inteiro e saído muito tarde da agência publicitária Lee & Lewis — com certeza, fachada para uma sucursal do inferno —, me deparei com um cosplayer de gafanhoto despencando no meio de Nova York.

Foi assim que Loki, de Asgard, Deus da Trapaça e da p... toda, entrou na minha vida. De forma surreal e abrupta. Sem pedir licença, despertando minha empatia, mas também me irritando com sua prepotência e seu ego do tamanho de uma jamanta.

Na época, eu não podia imaginar que minha vida mudaria tanto por causa daquele evento. Hoje, não consigo imaginá-la de outro jeito. Não consigo me imaginar sem meu gafanhoto asgardiano, boy magia e trapaceiro irresistível ao meu lado.

Loki me ajudou a amadurecer ao mesmo tempo em que eu o fazia perceber que também queria mudar, melhorar, torna-se menos insuportável e alguém mais digno por sua própria conta. Ele me levou a enfrentar os meus traumas do passado, meus medos e inseguranças, ao mesmo tempo em que eu lhe mostrava que havia um futuro para ele e que o dito cujo não era uma causa perdida. De alguma forma, nos ajudamos mutuamente. Ao mesmo tempo, nos aproximamos cada vez mais.

Quando dei por mim, já estava com os quatro pneus arriados pelo traste. E quando Loki deu por si, já estava me beijando no meio de uma estrada deserta, pois também estava de quatro pela midgardiana que, por algum tempo, julgou tão desprezível e insolente.

É engraçado relembrar tudo isso e perceber que cada escolha que tomamos, cada acontecimento pelo qual passamos e cada mísero detalhe dessa história maluca nos trouxeram até este momento decisivo. O momento em que me vejo estagnada diante de Loki, no meio da festa do casório da Viúva Negra com o Gavião Arqueiro, esperando por sua resposta ao meu convite para uma dança.

Neste fatídico momento, chego a pensar que seu silêncio absoluto já é uma resposta. Uma resposta negativa. Talvez Thor esteja errado, talvez eu também tenha me enganado, talvez seja tarde demais para voltar atrás e conquistar um final feliz para a história de Loki e Olivia. Talvez nós não tenhamos nascido para terminar juntos afinal.

Acreditando nisso, engulo a derrota e preparo-me para me afastar. Quando lhe dou as costas, no entanto, Loki apressa-se em dizer:

— Com uma condição.

Viro em sua direção e, um pouco irritada com tanto doce que a criatura está fazendo, cruzo os braços e arqueio as sobrancelhas.

— Se estiver ao meu alcance.

O Deus da Trapaça coloca as mãos para trás e, com um leve sorriso cretino, expõe cheio de si:

— Tente não ceder de novo ao desejo que, claramente, nutre por mim. Uma repetição do que aconteceu mais cedo, em Nova York, com toda aquela plateia, pode perpetuar a sua imagem de midgardiana pervertida.

Loki não vai esquecer o meu fatídico ataque de piriguetismo tão cedo. Nunca, talvez. Porém, eu também não vou me esquecer que o danado gostou muito e correspondeu à altura àquele beijo de cinema.

Então, com a autoestima nas alturas, rebato sua provocação:

— Qual o problema, gafanhoto? Por acaso está com medo de não resistir aos meus lábios de mel de novo? Porque uma repetição do que aconteceu pode abalar ainda mais a sua imagem também. Não que alguém nessa festa ainda tenha dúvidas do desejo que você, claramente, também nutre por mim.

Antes que a criatura se recupere do tiro e tenha tempo de retrucar, dou um passo à frente e jogo meus braços em volta do seu pescoço. Com o olhar cravado nos seus olhinhos de noite serena, arremato:

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora