Capítulo Onze

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O dia havia chegado enfim.

O dia que ele soube que chegaria.

Ele estava lá, sentado na cadeira marrom bem acolchoada. As mãos cruzadas debaixo da mesa de vidro. Não estava observando o ambiente, mas era típico. Uma sala acinzentada, sem janelas. Haviam homens conversando. Uma única voz feminina entre eles.

Ele estava lá, olhando para o canto da sala, onde haviam orquídeas. Este ele era Frank.

Frank que não olhava nos olhos de Gerard. Frank que estava envergonhado, atípico.

Gerard havia notado isso diversas vezes.

O dia após o primeiro beijo quando ele se entupiu de pizza, refrigerante e futebol.

Como as coisas tinham mudado.

Iero perdeu o jeito perto de Way.

E após o segundo beijo. Droga, Gerard pensou que seria sufocado até a morte naquele momento. Mas nada aconteceu. Assim como na primeira vez.

E então quando eles se reencontraram na escadaria, sob a presença de uma estranha, como ele pareceu hesitante e amedrontado. Claro que tudo por causa da nota publicada.

Gerard imaginava exatamente como devia ter acontecido. Ele deve ter pensado por horas a fio se postaria ou não, com o texto pronto, brilhando na tela de seu celular. Até decidir que bem, dane-se Gerard Way.

E todo o resto é confete.

Agora, ele estava ali.

O pequeno filho da puta, pensou. Sem coragem de encara-lo nos olhos.

Pois bem, Gerard tinha coragem naquele momento. E o encarou profundamente do outro lado da mesa. Levantou o queixo um pouco quando ouviu os advogados entrando na questão do texto publicado. Iero desviou os olhos das orquídeas no canto da sala e mirou para seus dois pares de sapatos sociais pretos, levantando os olhos imediatamente ao notar que o outro incendiava seu rosto com os olhos verde-oliva. Franziu o cenho para Way, que deixou os olhos entreabertos como um míope tentando ler um cartaz ao longe. Iero consertou-se na cadeira e tossiu, prendendo os olhos nas mãos agora entrelaçadas em cima da mesa. Gerard se recostou na cadeira, apoiando um braço no objeto enquanto o outro deslizava sob a mesa, revirou os olhos para aquela atitude covarde do menor e assistiu Hayley terminar um de seus vários monólogos.

Pensou sobre tudo mais uma vez, desde o começo. Todas as brigas, todas as não felicidades. Eles nunca trocaram um sorriso sincero, sem ironia. Nunca riram de uma piada que o outro contou. Nunca foram amigos de fato. Nunca deram certo.

Frank foi uma desgraça em sua vida desde quando soube de sua existência.

E mesmo assim... mesmo assim...

Mesmo assim queria beija-lo mais uma vez. Nem que isso rendesse outro processo. Ele queria senti-lo contra sua boca em toda sua amargura e babaquice.

Era loucura. Ele nem sabia se Frank conseguia sentir atração pelo mesmo sexo.

Ele sabia que era gay, apesar de já ter pensado ser bisexual quando mais novo. Ele sabia que algumas pessoas já tinham a certeza desde novas outras levavam anos para se descobrir por causa da coisa toda sobre heteronormatividade.

Mas isso não queria dizer que Frank de alguma forma curtia a coisa. Ele podia ser pansexual, bisexual. Ou podia simplesmente ser hétero, ew. Esta era a pior das hipóteses.

Mas ele queria... queria testar. Como fez antes. Sem maldade, sem essa de partir o coração do outro. Só... testar.

Beija-lo sempre que vê-lo.

Loaded Gun † Frerard Onde histórias criam vida. Descubra agora