Os dias haviam transcorrido na ilha. A vida cotidiana fez com que o que aconteceu na Noite de Núpcias, caísse nas brumas do esquecimento. Não se comentava mais sobre um suposta luta entre a rainha e sua filha naquela noite.
Himiko e suas amigas sentiam falta de Sora, que nunca mais havia voltado do mundo dos homens. As missões no mundo dos homens costumavam demorar, mas essa tinha eventos que levantavam suspeitas entre as amigas de Sora.
Himiko e Atalanta concluíam a limpeza do tempo, varrendo, acendendo as tochas, esfregando os degraus das escadas. Himiko, estava em um silêncio tumular o dia todo e Atalanta reparou. Resolveu contar uma notícia agradável.
—A Elis vai me levar para um luar hoje a noite. Disse que vai tocar harpa para mim.
—Que bacana! Vocês estão se dando bem, não é?! Ela te trata bem? - Atalanta parou de esfregar o degrau, mas respondeu sorrindo "Sim.".
No mesmo momento Himiko se virou para Atalanta, olhou para o chão procurando as palavras e então a perguntou.
—Atalanta, você nunca sentiu nada estranho vindo da Elis?
—Não. Como assim?
—Digo... Você nunca sentiu uma forte presença negativa vindo dela?
O semblante de Atalanta parecia preocupado.
— Você não sente nada? - Atalanta se aprumou quando Himiko insistiu.
—Elis é uma amazona gentil e generosa, não sei sobre o que você está falando, Himiko. Inclusive, sugiro que não comente sobre isso com ninguém.
Desconcertada com o que havia sido dito sobre Elis, Atalanta recolheu o balde e o pano e se retirou para seus aposentos, deixando Himiko sozinha na nave principal do templo.
A noite caiu, Himiko penteava seus longos cabelos negros, enquanto ouvia a movimentação da Atalanta no quarto lado. Era um casebre de pedra no fundo do templo, separado apenas por biombos. Himiko permanecia calma, mas notou que a colega sacerdotisa estava agitada. A colega loira então saiu do recinto vizinho. Por causa do encontro anunciado pela colega mais cedo, Himiko sabia que ela iria tomar banho.
Himiko era filha de uma mulher japonesa que havia sido miko, uma sacerdotisa em um templo xintoísta no mundo dos homens. Sua mãe, tratou de ensinar tudo que sabia para a filha. Então a guerreira-sacerdotisa de Vulpecula sabia de todos os rituais de purificação, proteção, adivinhação e exorcismo.
Embaixo da cama de Himiko estava um baú, com todos os pertences de sua mãe. Ela abriu o baú, retirou um incensário, um pincel, um tinteiro e várias folhas de papel cortadas retangularmente, chamadas de ofuda, selos de proteção espiritual. Acendeu o incenso, começou a recitar um sutra de benção e escrever encantos para o exorcismo que iria realizar mais tarde. Atalanta ouviu e cheirou que algo acontecia no quarto de Himiko, mas não deu atenção, estava empolgada demais para a noite que teria ao lado de sua amiga mais íntima.
Já era madrugada. O templo estava fechado e Atalanta e Elis retornavam de mãos dadas do lual que foram, cantando canções antigas sobre as vitórias de Pallas no meio da noite. Atalanta convidou Elis para dormirem juntas, já que a casa da general estava longe. Era raro ver general tão sorridente assim.
Atalanta abriu a porta do templo e puxou Elis para dentro. Assim que pisou no templo, Elis começou a se sentir mal. Sua respiração ficou pesada, ela mal conseguia ficar de pé, caiu de joelhos. Atalanta que já estava mais a frente, se virou para Elis.
— Bebeu demais, Elis? - brincou Atalanta.
A sacerdotisa levou um susto ao ver o olho vermelho da amiga e ela espumando pela boca.
— Elis o que está acontecendo? - Atalanta correu para ajudar a amiga.
—Se afaste dela Atalanta. - Disse Himiko do alto da escada.
Com um dos selos espirituais em mãos, Himiko o lançou em direção a porta, por onde o casal entrou no templo. O selo vôou todo o pátio de entrada e se afixou na porta. Fechou o cerco. Os demais selos, que estavam cercando toda o local, fazendo de Elis uma presa capturada, acenderam. Elis berrou, se debateu, jogou Atalanta longe.
Himiko recitava um sutra, enquanto batia com o cetro no chão. Um vulto negro começou a rodar por todas as paredes do templo, mas quando chegava perto dos selos, se afastava. O vulto parecia ter a forma de uma aranha. Atalanta estava encolhida, atrás de uma coluna de pedra.
— Eu ordeno: qual é o seu nome demônio? - Himiko gritou.
— DISCÓRDIA - berrou a voz profunda que vinha de Elis, mas não era dela. - Meu nome é Discórdia, mortal! Me liberte agora!
Himiko soltou em direção ao corpo de Elis e recitando sutras na língua de sua mãe, ela iria atingir um golpe com o cetro na general, mas o cetro se partiu.
— Você não tem força para me deter, mortal. Eu vou botar esse mundo em caos mais uma vez e não tem ninguém que possa me impedir.
O espectro sombrio então fez sombra no pescoço de Himiko, que começou a ficar sem ar. Himiko, com o pedaço de cetro que restava em sua mão, conseguiu o lançar em um dos selos afixados nas parede do templo. O selo se rasgou, perdendo a eficácia da armadilha espiritual. Assim, Elis caiu desacordada no chão. O exorcismo havia falhado.
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Saint Seiya - Amazonas Parte I: Além do Véu
FanficA profecia recebida naquela noite lança tramas que serão fatais para todas as amazonas de Amástris. Elis e Sora eram grandes amigas, mas as coisas começam a mudar partir do momento que uma delas veste a armadura amaldiçoada de Crux. Essa série con...