Capítulo 03

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A falta de sono me importunava mais uma vez. Não conseguia deixar de me recordar do passado. Quando aquela data se aproximava, era inevitável conter aquele tipo de sensação: um vazio imenso tomando conta da minha mente, como se a purificasse. Instantes depois, uma mancha vermelha se instalava na calmaria do meu ser e me dava altas doses de dor intensa. Dores não físicas que me entristeciam.

Quando isso acontecia eu me levantava da cama no meio da noite, buscava por um cobertor que eu costumava usar quando era criança e ia até a sala de estar para me sentar no sofá e permanecer dentro da escuridão e do silêncio noturno. Muitas vezes acabava adormecendo ali mesmo, abrindo os olhos no dia seguinte enquanto minha mãe me sacudia, pedindo para eu ir para a cama.

E minha vontade não estava sendo diferente. Com o mesmo cobertor infantil, abri a porta de meu quarto e decidi descer. Fazia isso porque passara muito tempo com meu pai naquele lugar, ouvindo enquanto ele me contava suas histórias sobre as viagens que fizera antes de se casar com a minha mãe. As pessoas que ele conheceu, os prédios que visitou, os lugares que o fizeram ter um carinho especial por Cheonan, por sempre achar que seu lar era o melhor lugar para seu coração.

E seria o lugar onde ele permaneceria para sempre.

Suspirei, apertando o cobertor contra meu corpo e de repente bati em alguém.

- Ah! Que susto! - eu ralhei, tapando minha boca em seguida por quase ter gritado. - O que está fazendo?

Baekhyun estava parado no meio da escada. Tocou a tela do celular e a apontou pra mim.

- Estou sem sono - ele respondeu e fez uma careta engraçada quando reparou nos meus trajes. - E você?

Eu deveria estar vermelha de vergonha, coisa que ele não notaria apenas com aquela luzinha. Sorri, tentando disfarçar meu constrangimento.

- Também estou sem sono - eu falei, encostando-me no corrimão como ele fizera. A luz do celular se apagou e nós ficamos em silêncio. Se não estivesse ouvindo o som de sua respiração, poderia jurar que ele não estava mais ali.

- O que fazia no escuro? - eu quis saber. Baekhyun tocou a tela do aparelho mais uma vez.

- Eu dei uma olhada nas fotos - ele apontou para a parede e para os quadros -, e estava só... Pensando.

Sorri sozinha. Aquela era uma mania que Kyungsoo costumava ter. Por vezes eu o encontrara admirando as fotografias expostas na parede ou observando os álbuns que ele mantinha em seu quarto. Eram peças muito significativas para ele.

A luz do celular se apagou, mas Baekhyun retomou a conversa.

- Como se sente depois disso tudo? - ele indagou. Minha mente estava concentrada na imagem de meu irmão naquele momento, por isso demorei a entender.

- Disso o quê? - perguntei.

- Nosso avô... O seu pai - ele explicou. - Deve ser... Difícil.

Como se para ele também não fosse. Respirei fundo, sentindo o vazio me ferir de novo.

- Nós somos iguais, Baekhyun - eu disse de forma sincera. - É estranho que tenhamos passado por situações tão parecidas.

Era o que eu pensava. Ele só não havia presenciado a morte da mãe adotiva, como acontecera comigo quando meu pai fora assassinado. Fora isso, a dor era a mesma. Meu primo iluminou a parede mais uma vez, concentrado nas fotos de minha tia. Isso me fez lembrar o quão incrível ela era, sempre tentando agradar os sobrinhos, chamando-nos para passear com ela e ocupar um pouco do seu tempo. Antes de adotar Baekhyun, ela nos visitava sempre e passava horas conversando com a minha mãe. Talvez sobre sua carreira, talvez sobre como se sentia sozinha. Depois de tanto tempo sem ela por perto, eu começava a imaginar como deveria ter sido difícil pra ela não se casar por medo. O fato de que era estéril lhe tirara toda a confiança necessária para se entrar num bom relacionamento.

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