"Tento encontrar sentido no que ninguém pode explicar. Mas eu tenho tido esses sonhos depois de acordar. Então enfrentarei a realidade no dia seguinte".A essas alturas, eu não sabia identificar que parte de mim fora silenciada pela vida. Só o que sabia era que era gritante, dentro do oco. A noite era ensurdecedora quando o silêncio era escutado, e o meu zunia em gemidos oscilantes no pé do meu ouvido. Quase como se você tivesse levado pra cama uma pessoa que você beijou no meio da noite, achando que sabia o que estava fazendo, mas no meio de todo o desenrolar, se dá conta de que na verdade não quer nada daquilo. Entretanto, por conta das regras de convenção social, você faz. Você termina o que começou. E depois, você simplesmente não quer ser tocado, mas aquele ser não tem culpa por suas frustrações, e não se dá conta, então continua na busca de mais preenchimento do próprio vazio. Sem perceber o alargamento que havia acabado de fazer no seu.
Parei de contar quantas vezes estendi a mão apenas para não obter respostas voluntárias. Em algum momento, eu parei. Simplesmente parei. Aprendi a fechar meu punho quando sentia a exigência de uma carga sentimental muito forte. E também a demorar no banho quente. Descobri que a sensação da água aquecendo seu corpo pode ser bastante acolhedora em comparação à rotina. Era algo que nem sequer beirava o pensamento diante do sol escaldante do Rio de Janeiro. Aqui, por outro lado, eu poderia me dar ao luxo de tentar ser louca. Às vezes sentava no chão do banheiro enquanto deixava a água do chuveiro escorrer sobre a cerâmica, e era onde adquiria a noção de segurança, perdia dentro do tempo, e quando tudo estava pronto pra corroer, tirava as roupas nas pressas e voltava pra dentro da água.
Esse era o meu mundo. Não conhecia nada nas extremidades, e não permitia a entrada de pessoas nele. Não importava o quanto barulho fizessem, não mais do que um olhar atravessado era dado. Eu era um ser de armaduras. Minha porta estava fechada, os passos eram dados sem frequências, e minha respiração não mais acelerava. A história acabou, mas ela ainda transcorre sobre a minha pele. E eu me perdi de novo, pra variar. Tem se tornado um costume constante desde tudo que houve. Não era mais a mesma. Eu me dividi em duas. É certo considerar que uma ferida pode falar mais de mim do que eu mesma? Ou será que a frequência delas fizeram o que eu sou hoje?
Eu não sei responder sobre nada disso.
Mistura de sentimentos complexos envolve muito apelo.
— Está linda. — pude perceber que minha voz soou meio vaga, logo depois de ter pronunciado a última palavra.
— Dissiste el mismo de todas las outras.
Martín me observava com uma expressão meio observadora, e eu mordi o lábio, puxando um leve sorriso no canto dos lábios na tentativa de amenizar as coisas.
— Porque todas estão lindas! — dei com os ombros, enquanto o observava de canto, com o sorriso leve de canto.
Ele não pareceu cair nessa.
— Donde está tu cabeça?
Respirei fundo, voltando os olhos à revista que tinha em mãos.
— O Enrico vem jantar com a gente hoje?
Ele continuava a me observar, e eu fingi que não percebia enquanto fingia ler as palavras por onde meus olhos passeavam, na revista.
— Sí. Tiene uma novidade para nosotros.
Desviei meus olhos na direção dele.
— E não disse o que era?
Ele deu com os ombros, enquanto voltava a segurar as camisas em frente ao corpo, gesticulando com a cabeça para uma, e depois a outra.
— Qual?
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O l v i d a r
FanfictionConsequences pt. II Ela veio calmamente dessa vez. Lentamente. Silenciosamente. Tão silenciosa que quase não a encontrei. Mas sua presença ainda era muito pesada para não ser sentida por mim. Eu ri como se soubesse o que estava acontecendo. Aquele...