Chapter Thirty Four.

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"Estiletes e garrafas quebradas.
Eu estou girando em círculos [...]
Tão longe, mas ainda tão perto.
As luzes se acendem, a música morre.
Mas você não me vê parado aqui.
Eu só vim para dizer adeus".





Essa noite eu me peguei pensando em recomeços. O tanto de nós que eles levam. É uma hora da madrugada, e eu não consigo dormir. Porque nesse momento a minha mente está a mil, perguntando se a sua mente não para também. Durante toda essa história, perdi a conta das vezes que quis voltar no tempo de alguma forma. Queria que a humanidade já tivesse inventado algum jeito disso ser possível, e eu arriscaria. Mesmo com os furos no tempo que os filmes que mexem com isso tanto nos avisam que podem ocorrer. Ainda assim, eu arriscaria. Arriscaria me desfragmentar em um universo quântico — alô Marvel — se assim eu pudesse mudar o rumo que o fio vermelho estava sendo traçado em minha vida. Porque eu não conseguia enxerga-lo mais.

Não nesses lençóis estrangeiros.

Eu deveria ter sido outras versões de mim. Uma mais corajosa. Uma mais indiferente. Uma mais louca. Qualquer uma. Menos essa versão... que eu nem sequer sei denominar. Talvez eu devesse ter sido menos altruísta. Altruísmo não é para mim. Eu sou aquela pessoa que vai atrás do que deseja e, desde que não precise passar por cima de ninguém, eu sempre consigo o que eu quero. E agora nem sequer podia me permitir querer alguma coisa. Porque tudo ia mudar.

— Está acordada?

Pisquei os olhos por um momento, calando minha voz interior.

— Não consigo dormir. — confessei.

Assim que ouvi a movimentação na outra cama, eu estiquei o meu cobertor, pois já sabia que o próximo passo de Maju seria vir se deitar comigo. E assim, ela fez. Logo senti seus pés gelados encostarem aos meus no momento em que ela se aconchegou.

— Você não tinha me dito que aqui era tão frio. — ela suspirou.

Ri baixinho.

— Acho que já me acostumei. — mordi o lábio.

Ela ficou calada por algum tempo, mas seu silêncio era gritante. Na verdade, o silêncio de Maju foi gritante desde que tudo começou a se desenrolar de outra forma.

— Por que não consegue dormir? — ela quebrou o silêncio — Está ansiosa?

— Acho que... — pensei por alguns segundos — Estou com medo do tempo passar muito rápido.

— Você vai estar com olheiras pela manhã. — ela me alertou.

Dei com os ombros.

— Não me importo. — falei sério, mas arranquei uma risada de Maju, que voltou a se calar.

Maria Júlia era a única que parecia perceber o quanto eu me esforçava diariamente para fingir estar "de acordo" com toda aquela situação. Porque todos os outros me cumprimentavam alegremente, com sorrisos largos de satisfação, e uma emoção falsa e pegajosa nos olhos. E em grande parte eu tinha de me esforçar para entender o que falavam também.

Minha mãe se esforçou para que o casamento acontecesse no Brasil, mas é claro que Martín já tinha tudo planejado, e não queria que nada fosse contra isso. O que era bem improvável que fosse, já que ele tinha o apoio forte do meu pai ao lado dele. Que parecia estar nada menos do que imensuravelmente satisfeito com tudo aquilo.

— Ele não pensou que, se eu dormisse aqui, poderia atrapalhar seu sono? — Maju pensou alto de repente — Tipo, sei lá, a noiva não deveria ter seu sono de beleza na noite antes do casamento?

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora