"É, se eu pudesse voltar para
o dia em que nos conhecemos...Eu provavelmente teria ficado na cama".
— Você sabia, não sabia?
Mal esperei que ele fechasse a porta atrás de si, antes de disparar. Martín ainda tinha o corpo curvado sobre a porta, a mão na maçaneta se demorou por algum tempo. E pude perceber seus ombros se curvarem lentamente como se ele respirasse fundo, antes de se virar pra mim.
Já era minha resposta.
— No quis preocupar a ti.
Ergui uma das sobrancelhas.
— Você não quis "me preocupar"? — pude sentir um leve sorriso irônico brotar no canto dos meus lábios — Martín, pelo amor de Deus... Não acha que seria algo que eu deveria saber? Nem que fosse através de um post-it pendurado no espelho com uma mensagem simples tipo: "sua ex vai estar lá". — encarei-o — Sei lá, até um lembrete no celular serviria.
— No pensé que la encontraria. — confessou — Es muy grande aqui.
Respirei fundo, tentando pensar racionalmente ao fechar os olhos por alguns segundos. Sabia que estava descontando nele. Martín não tinha culpa do inferno diário pelo qual eu passei ao longo desses três anos. Porque não era algo que eu simplesmente abrisse a boca para espalhar.
Sempre tive esse problema de sofrer em silêncio. Engolir a seco e digerir à força.
Lentamente, levantei meus olhos novamente em sua direção. Pude observar sua postura meio curvada, os braços ligeiramente cruzados ao redor do corpo, como se ele se protegesse de alguma coisa.
Ou, no caso, de alguém.
Eu o atacava com frequência, e isso não era justo. Sabia que não.
Passeei os olhos pela roupa que havia escolhido. A camisa de dentro tinha um azul piscina muito bonito, que destacava a cor de seus olhos. Estava coberta por um blazer preto, juntamente com a calça de linho. Abri um leve sorriso para seu bom gosto.
— Você está lindo.
Ele piscou os olhos, atônito.
— Obrigado. — pareceu desconcertado ao falar, e logo em seguida gesticulou para mim — Tinha que estar a tu altura.
E em seguida, ele estendeu a mão como um convite. Encarei-a por algum tempo antes de segurá-la e ir em sua direção. Abracei seus ombros e deixei que ele passasse os braços ao redor de minha cintura, para que pudesse repousar a cabeça sob seu peito. Uma de suas mãos foi cuidadosa em direção ao meu cabelo, talvez por medo de acabar bagunçando o penteado.
— Perdón. — pediu baixinho, e eu respirei fundo.
— Está tudo bem.
Ele nos manteve naquele abraço por mais algum tempo. Talvez pra se certificar de que eu estava sendo sincera. E sabia que ele sabia que não. Mas me respeitava ao ponto de fingir não saber de nada, apenas para não invadir o meu espaço. E eu gostava disso. Gostava dessa linha imaginária que ele desenhara para evitar a ultrapassagem.
— Por Dios! — a voz foi escancarada junto com o abrir da porta, e nós dois nos viramos na direção dela — Que hacen aqui? Pensé que ya estaban en sus lugares.
Eu nunca entendia quando ele falava tão rápido, mas devido ao fato de Martín ter me soltado às pressas, presumi que ele estava dando algum tipo de bronca.
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O l v i d a r
FanfictionConsequences pt. II Ela veio calmamente dessa vez. Lentamente. Silenciosamente. Tão silenciosa que quase não a encontrei. Mas sua presença ainda era muito pesada para não ser sentida por mim. Eu ri como se soubesse o que estava acontecendo. Aquele...