Chapter Forty Three.

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"Você foi Aquiles e eu na areia

Alucinações de uma sereia

(...)

E se o mundo voltar, e se à casa tornar

Me encontra lá fora".



ANA.


— Tu vai acabar fazendo um buraco no chão.

— Antes no chão que na cabeça de alguém.

Pude sentir Vitória se encolher com minha resposta grosseira, e respirei fundo em seguida, me apressando em tentar consertar as coisas.

— Desculpa, Vi. Eu só... Parece que tá tudo desabando.

— Eu sei. — disse calmamente — Tá tudo bem.

— Não, não tá tudo bem. — suspirei com pesar, levando uma mão no rosto — Só... Não me deixa ser idiota contigo, tá bem?

Ela abriu um sorriso gentil.

— Mas aí tu não seria tu.

Franzi o nariz pra gentileza dela. Sabia que Vitória estava só tentando me acalmar, mas a verdade é que realmente eu acabaria fazendo um buraco no chão em algum momento. Ou, realmente, na cabeça de alguém. O que faria mais sentido pra mim.








— Cecília?

Tentei mover as mãos sem sucesso ao ouvir o barulho de um estrondo vir aparentemente da sala. Mas o silêncio que se seguiu foi ainda mais perturbador porque qualquer um que já tenha tido uma crise de ansiedade entende como é se sentir engolido pelos fantasmas dentro da sua cabeça. Pelo escuro. Pelas sombras. Por dementadores. Qualquer que seja o jeito que use pra dar "forma" à coisa. Mas sempre me arrependo da última opção quando lembro das oficinas de teatros na adolescência, onde eu sempre tinha o pior patrono existente, que se podia ser feito com tnt branco.

— Cecília, para de coisa, não tem graça.








O barulho do trinco da porta fez com que o meu coração descesse pros pés, e pelo visto o de Vitória também, porque viramos na mesma hora em direção ao barulho. Bruno quase pareceu arrependido de ter entrado ali ao ver a nossa expressão de decepção.

— É... Eu acabei de falar com o Detetive Campos de novo.

Minha decepção foi subitamente substituída por esperança – de novo.

— Ele tá aí? Tem alguma notícia?

Ele mordeu o lábio. Parecia frustrado de novo.

— Não, ele ligou. — mas se adiantou antes de nos fazer criar esperança de novo — Nenhuma notícia. Eles emitiram um alerta geral, mas até agora nada.

Trinquei os dentes.

— Eles prestam pra alguma coisa de verdade? Porque pra me tirar arrastada de um casamento, eles foram rapidinhos.

— Ninha, eles tão fazendo tudo que...

— NÃO TÃO FAZENDO DIREITO!








Não faço ideia de quanto tempo eu ainda fiquei ali dando gritos em direção ao corredor, xingando Cecília por uma brincadeira invisível até me dar conta de que nada daquilo tinha sido planejado. Na verdade devo ter me dado conta rápido, só que é aquela velha história de que a gente sempre pensa no pior até realmente estar no pior, que aí o cérebro inverte as coisas e a gente transforma o lobo mau em ovelha e vice-versa. A gente nunca quer acreditar que as coisas são ruins até não ter como pensar outra coisa.

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora