"Você leva um pedaço meu.
Quando essa porta se fechar...
De tudo que virou vício,
eu tenho que desapegar".— Ninha, calma.
— Calma uma pinóia!
Eu apertava o botão do elevador repetidas vezes, mas isso não fazia com que ele chegasse mais rápido. Visualize aquelas cenas de desenho animado, tipo Patolino ou Tom e Jerry, onde o personagem tenta fazer uma coisa e não consegue, e ele vai indo do princípio onde está calmo, e no final onde ele quebra o telefone, ou pula em cima da TV até ela ligar, ou literalmente perde a cabeça tentando fazer uma coisa simples que parece que simplesmente decide empacar para testar a nossa paciência.
Eu continuava a encarar o botãozinho do alarme de incêndio, dentro da caixinha onde estava escrito para quebrar o vidro. E minha mão formigava para quebrar alguma coisa.
— É um alarme de incêndio. — Vitória enfatizou, como se já não fosse óbvio, falando calmamente perto do meu ouvido — Se tu quebrar, vai começar a sair água de tudo que é canto, e tu não gosta de como teu cabelo fica quando tá molhado.
Ela estava certa. Mas o elevador finalmente chegou, antes que eu cedesse ao meu impulso destrutivo. Voei para dentro com uma ânsia tão grande que quase apertei o andar errado. Vitória me seguia com uma sutileza tão grande que parecia que avaliava cada um dos meus passos com cuidado, pronta para me impedir de cometer algum tipo de crime. Mas eu, de fato, parecia uma leoa pronta para dar o bote.
— Segura a porta, por favor! — ouvi uma voz do lado de fora, quando a porta do elevador estava prestes a fechar e, por instinto, coloquei a mão na entrada para impedir.
Se arrependimento matasse.
A voz de repente se multiplicou, dando origem a meio campo de um time de futebol para vir se espremer junto conosco. Era dia de festa no prédio. Por costume, quando tinha muita gente presa em algum lugar junto comigo, eu levantei o rosto para o teto, onde conseguia respirar melhor. Mas a cada segundo que continuava naquele lugar, a claustrofobia se rastejava lentamente até mim. Eles continuavam em um zumbido sem fim enquanto riam debochadamente de alguém que estava na festa, e eu fechei os olhos só esperando chegar no andar deles para que sumissem dali, mas parecia que o elevador não se mexia. E eles continuavam a rir. Abri os olhos. O elevador realmente não havia se mexido. Eles estavam tão bêbados que nem perceberam que o braço de um dos meninos estava impedindo que a porta do elevador fechasse. Olhei para Vitória com uma expressão de súplica.
— Gente, chega um pouquinho mais pra cá, pro elevador fechar. — Vitória pediu educadamente, se espremendo ainda mais contra o espelho do elevador para que o time de futebol também se espremesse mais. Mas eles continuaram só rindo.
Deus, me ajude a não cometer um assassinato hoje.
Cutuquei a menina que estava mais na minha frente, e ela desviou para me encarar com um sorriso no rosto. Tentei forçar um no meu.
— Metade do corpo do teu amigo tá pra fora, e a porta do elevador não tá fechando. — falei simplesmente.
Ela uniu as sobrancelhas e virou o rosto na direção dele.
— THIAGO! — só assim para ser ouvido no meio desse zumbido todo — COLOCA O CABEÇÃO PARA DENTRO DO ELEVADOR!
— Quê? — o moleque uniu as sobrancelhas.
Todos riram alto. E o meu nível de paciência estava no limite.
Me espremi por entre os bêbados ali na frente — vantagens de ser pequena — e puxei o braço do garoto, trazendo o corpo dele totalmente para dentro, segurando-o ali até que a porta do elevador fechasse.
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O l v i d a r
FanfictionConsequences pt. II Ela veio calmamente dessa vez. Lentamente. Silenciosamente. Tão silenciosa que quase não a encontrei. Mas sua presença ainda era muito pesada para não ser sentida por mim. Eu ri como se soubesse o que estava acontecendo. Aquele...