Chapter Sixteen.

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"E o mais triste de tudo, é aceitar que meus lábios mendigam seus beijos. O mais triste de tudo, é que você não volta, você vai e me esquece. Como se houvesse me amado, e meu nome houvesse apagado. Como se uma vez me houvesse escrito, e sua caneta me houvesse riscado. [...] Quem te curou de mim, e te embriagou de anestesia? Como se tivesse amnésia.".


Eu tô me tornando uma pessoa azeda. Daquelas que recebe um convite pra sair e já pensa que vai ter os órgãos sequestrados. Do tipo que desconfia até se é mesmo do vizinho aquele cheiro de pipoca toda tarde. Desconfia até se realmente é pipoca. Até tic-tac com gosto de pipoca tem hoje em dia, a gente nunca tem como saber realmente o que é o quê. Eu tô me tornando uma pessoa que não é mais a minha pessoa, e eu tô tão perdida dentro de mim mesma que a sensação é de que eu tô pequenininha, e que nunca mais vou conseguir encontrar o caminho da saída do meu próprio labirinto.

O mundo é um lugar terrível de se viver. Eu sei disso. Tu sabe disso. Gente, qualquer alma viva – ou não viva – que habita ou já habitou esse lugar, sabe do que eu tô falando. Parece que a gente tá sempre lidando com um campo minado de boca de lobo (pra quem não sabe, é aquela armadilha cheia de ferro pontiagudo), e sempre tem que olhar por onde anda você antes de dar o próximo passo. Mas o negócio é que a gente não olha. O ser humano é meio burro e tem essa mania de grandeza, esse senso de invencibilidade, achando que monta no mundo que nem um touro mecânico. Mas no final, o touro sempre derruba a gente.

— Me diz que isso não tá acontecendo. — arfei — Por favor, Vi, me dá um beliscão pra ver se eu acordo desse pesadelo.

Vitória se aproximou lentamente, enquanto me observava. Sua voz era um murmúrio.

— Ô minha menina... Eu queria tanto poder fazer isso por ti.

— Vi, pelo amor de Deus, como que isso foi acontecer? — apertei meus olhos e deixei que Vitória me puxasse em um abraço aconchegante, fazendo com que afundasse o rosto nos seus cabelos — Como que em um segundo ela dormiu abraçada comigo, e no outro ela não faz a menor ideia de quem eu sou? De... De nada.

Vitória respirou fundo, enquanto me apertou mais forte em um abraço. Possivelmente porque não sabia o que falar. E nesse momento meu coração começou a palpitar forte na caixa do peito. Era difícil Vi não ter o que falar. E isso só piorava a sensação das coisas. Só arrastava o meu pensamento ainda mais pra baixo.

— Isso não faz sentido nenhum, Vi. — as palavras saíam num jato, descontroladas, antes que eu pudesse engolir alguma coisa na boca e fingir de calma naquele momento — Ela lembrou da irmã dela, falou da mãe, lembrou do Bruno... — uni as sobrancelhas por um momento, afastando um pouco a cabeça — Ela lembrou de ti?

Vitória balançou a cabeça negativamente.

— A médica disse que isso pode ser temporário. — Vitória tentou amenizar o suficiente — Bora deixar que a Doutora, e o moço lá de cima, façam o trabalho deles, bora? Bora confiar?

— Eu tô começando a pensar que isso é karma. Eu vejo tanto filme triste, choro por tanto filme de drama com um pote de sorvete do lado, que agora o universo decidiu me dar um motivo pra chorar de verdade... É ISSO, DEUS?

— Ana! — Vitória me apertou, como se repreendesse, no momento em que eu levantei a cabeça pra gritar — Fala baixo, a gente tá num hospital.

— A gente tá é nos portões do purgatório.

— Ei! — Vitória repreendeu mais uma vez — Parou, tu não vai ficar falando essas coisas. Não é assim que tu é, e não vou te deixar se deixar de lado.

— Gente?

Nós duas nos viramos ao ouvir a voz virando a esquina. Luana olhou pros lados antes de se aproximar de nós.

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora