Chapter Thirty One.

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"Cada lembrança é uma lágrima.
Não sei como fazer para estar de pé,
sempre me digo que é a última vez.
Mas volto a cair quando penso em ti,
não sou nada sem ti. E não posso te esquecer".





CECÍLIA


Eu sou uma viajante do tempo. Continuo deslizando para o passado, eventualmente. Às vezes fico lá, perdida em algum lugar entre o ontem, e o hoje. Tenho medo de passar mais tempo lá. Continuo desperdiçando meu tempo voltando, para que o meu futuro seja prejudicado. Costumo voltar ao mesmo local de anos atrás. O dia em que a conheci, e tudo parecia mágico. Então sou atingida pelo passar do tempo e começo a sangrar, e tento manter meu foco no presente onde estou parada, mas não sou mais o caminho que deixei quando viajei. Me machuquei durante o tropeçar, e agora estou ainda mais ferida. E temo ser enjaulada para nunca mais voltar, envolvida por correntes de aço.

O amor quebrou. A noite me engoliu. Mas nem tudo são estilhaços e poeira. Com calma e tranquilidade, deixarei que o tempo faça seu trabalho e assopre, levando embora tudo o que sobrou. A noite me engoliu. O vento sussurrou no meu ouvido todos os segredos que eu queria te dizer, mas agora seu nome já está longe demais. A noite me engoliu. E fui digerida pelos acasos do mar de gente que ondulam nessa cidade de concreto e metais verticais. A noite me engoliu. E o único conforto que me valia de verdade era olhar para o céu e senti-lo respirando, juntamente com a tua respiração que acompanhava minha mente, de algum lugar. Cada esquina vazia era cheia do que eu encontrava de você. E às vezes eu esqueço o caminho de volta para casa... Mas a rua continua me trazendo de volta, como a maré devolve as coisas ruins. E a noite continua a me engolir.

— Você precisa comer. — ouvi a voz de Maju me tirar de meus pensamentos novamente.

— Não estou com fome. — murmurei, a voz saindo ligeiramente abafada por conta do cobertor que estava todo por cima de mim.

— E vai ficar enfiada debaixo desse cobertor para sempre? O que isso vai resolver?

Ouvi o barulho da xícara tilintando no pires na hora em que ela apoiou mais uma bandeja de comida em cima do criado mudo, ao lado da cama. Maju tinha os pensamentos muito altos enquanto podia sentir a pressão de seu olhar sobre minhas costas, ainda que eu não a enxergasse. Tinha os olhos fixos nas cortinas, do outro lado do quarto.

— Pode falar. — apertei os olhos, soltando um suspiro.

— Eu não disse nada. — se defendeu.

— Você pensa muito alto, Maria Júlia.

Ela ainda passou mais alguns minutos calada, talvez decidindo se a curiosidade valia à pena ou não.

— Você fingiu o tempo todo? — por fim decidiu que sim.

Suspirei, e balancei a cabeça negativamente. Mas então me dei conta de que o cobertor estava me escondendo.

— Não. — me forcei a falar.

— Então quando... ?

Mordi o lábio.

— Eu diria que... Só os primeiros dias foi de verdade. Com o tempo, as lembranças começaram a vir como flashes. E a cada nova coisa que eu dizia, tocava, sentia, vivia... Mais flashes apareciam.

Ela demorou algum tempo pra responder.

— Por que você não falou nada?

Pensei por alguns minutos antes de responder, e lentamente tirei o cobertor de cima do meu rosto, me ajeitando na cama de forma que ela pudesse me observar.

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora