Chapter Ten.

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"Não ouça uma palavra que eu digo. Todos os gritos

soam iguais, embora a verdade possa variar.

O navio levará nossos corpos seguros para a costa".



— Você não muda nunca! — trinquei os dentes enquanto a observava me observar com olhos risonhos. O que me deixava ainda mais irritada.

— Mas que que foi que eu fiz?

— O que você fez, Ana? — ergui uma das sobrancelhas — Isso é sério? Olha o estado do meu cabelo!

— Molho de tomate faz bem pro cabelo.

— Ah, é? Então vamos testar no seu.

Ameacei correr em sua direção novamente, mas ela fez sinal de trégua, enquanto apontada em direção à porta da cozinha. Disse pra mim mesma que não cairia no truque, mas no final das contas eu acabei olhando pra onde ela apontou.

— Isso aí era pra ser o almoço?

Pude ver que Maju continha a risada, o que me fez revirar os olhos.

— Cale a boca.

Marchei pra fora da cozinha, antes que eu afogasse Ana dentro de uma daquelas panelas. Maju veio atrás de mim, ainda arrastando a mala de carrinho acima da escada, pra mostrar o quarto onde estávamos. Aliás, o quarto onde ela estava. E que agora eu também estaria. Embora eu tivesse passado direto pela porta, em direção ao banheiro. Tudo o que queria era deixar de me sentir uma lasanha e tirar aquele cheiro de molho de tomate de mim, se é que isso era possível.

— Você não tá brava, vai. Por uma besteira dessas?

Encarei-a, parando por um momento de desarrumar a mala.

— Foi no seu cabelo, por acaso?

Ela sorriu.

— Não, mas pelo que soube, você ameaçou fazer no dela primeiro.

— São só boatos. — revirei os olhos.

— Toda a minha experiência em uma infância crescendo com você, me diz que os boatos são verdadeiros.

Ergui uma das sobrancelhas.

— Do que está falando? Eu fui um anjo de irmã.

Foi a vez dela de erguer as sobrancelhas.

— Cecília, eu me lembro como nunca da vez que você enrolou uma bolinha de massa de modelar, pintou de branco e enfeitou com coco ralado. — falou — Eu encontrei aquilo na geladeira e fui sedenta pensando que era beijinho de festa.

— A culpa não era minha se você sempre roubava os meus doces da geladeira!

— Eu quase perdi um dente nessa brincadeirinha! — me acusou.

— Tá... Talvez eu não tenha sido um anjo.

Ela deu com os ombros.

— Alguma hora o troco teria de vir.

Respirei fundo, arrastando a mala pro lado pra que pudesse me deitar na cama.

— É engraçado o curso que as coisas tomam.

— Como assim?

Virei de lado pra poder observá-la. Ela fez o mesmo.

— Nunca pensei que em algum momento eu estaria aqui. Não depois de tudo o que aconteceu.

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora