Chapter Thirty Eight.

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"Mas é repetindo sinais em frequência
que paixão vira consequência;
um sorriso, um abraço gostoso
seu jeito de olhar pira minha consciência".


Apesar do blackout das cortinas, eu conseguia visualizar os raios de sol tentando invadir o quarto, pelas frestas da janela. Aproximei-me o suficiente para agarrar o tecido da cortina e arrastá-la para o lado de uma vez, deixando que a luz se alastrasse pelo cômodo, iluminando tudo à sua frente. Logo que a cortina cedeu, pude ter a visão privilegiada de quem mora à beira-mar. A praia de Copacabana se mostrava imensa em sua plenitude, apenas o manto limpo de areia branca seguido pela imensidão azul do mar. Os únicos habitantes a passearem pela areia eram os que a tinham como uma casa. Talvez uma ou outra maria-farinha a correr livre e desimpedida. Nem uma outra alma sequer, além disso. Era uma cena linda — e assustadora — de se ver.

— É lindo, não é?

Virei rapidamente ao ouvir a voz de Cecília. E não pude conter o sorriso ao ver que carregava uma bandeja cheia, que já se encarregou de apoiar na cama.

— É lindo, mas dá até uma dorzinha no coração de pensar no motivo disso tudo.

Ela entortou os lábios, vindo na minha direção em seguida. Quando parou na minha frente, observou meu rosto por alguns segundos e depois segurou a toalha que estava em meu pescoço, subindo-a novamente para os cabelos, me ajudando a secá-los.

— Tudo isso vai passar logo, você vai ver. — disse calmamente, enquanto passava a toalha pelos meus cabelos úmidos, bagunçando-os lentamente. 

— Tu não se assusta? — uni as sobrancelhas.

Ela passou os dedos lentamente pela raiz dos meus cabelos, enquanto arrumava minha franja.

— É claro que me assusto. — suspirou — Todo mundo está assustado, mas não adianta de nada nós ficarmos paranoicos. — desceu a mão delicadamente até o meu rosto, acariciando a maçã de minha bochecha com o polegar — Nós temos que nos acalmar, e ter fé. E foco.

— E força? — ergui uma das sobrancelhas. Ela riu.

— E força. — concordou — E por isso, você precisa comer.

— Ah, não...

— Ah sim!

Não tive muita escolha, Cecília simplesmente me colocou à frente da bandeja. Eu não estava com fome alguma, e para ser bem sincera, nem conseguia pensar em comer. Meu corpo parecia ainda não estar funcionando direito. Mas quando percebi sua expressão inocente e orgulhosa ao apontar tudo que havia feito, já que não sabia o que eu sentiria vontade de comer, eu me senti mal de negar. Ela havia recheado um misto quente "gourmet" — palavras dela — com peito de peru no lugar do presunto, e dois tipos de queijo (que segundo ela, eu não conseguiria adivinhar). O copo estava cheio de suco de abacaxi com hortelã, e de sobremesa a bandida havia trazido um pote de Nutella e uma tigela de morangos que estava me encarando enquanto eu ouvia o sussurro quase gritante no meu pé do ouvido, que dizia: "me come".

— Como você não gosta de gorgonzola?

— Porque tem fungo! — retruquei.

Ela ergueu uma das sobrancelhas.

— Ana Clara, você adora queijo minas. Como acha que eles são feitos?

— Ora, sei lá, pelo leite da vaca mineira? — uni as sobrancelhas — Os outros queijos não são verdes.

— Você não vai comer só porque o queijo é verde?! — ela arregalou os olhos.

— O cheiro dele é ruim.

O l v i d a rOnde histórias criam vida. Descubra agora