III

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Respiro fundo ao virar a página, sentindo meu coração bater tão forte que conseguia ouvi-lo em minhas orelhas.

Permiti que me puxasse, afagasse e me deliciasse com os arrepios que me arrancava, enquanto eu deixava que minha mão recaísse por uma de suas coxas, enquanto a livre apoiava-se no chão, logo ao lado de seu corpo. Afundei meus dedos contra o tecido grosso da jeans que ele usava e...

— Oh, você já chegou... que surpresa agradável.

Fecho o livro imediatamente assim que escuto o barulho do vento, sem nem ter tempo de me preocupar em marcar a página em que estava, e encaro o homem com as asas vermelhas bem abertas na minha frente.

— Iero.

Digo, com desgosto, me sentando na toalha de piquenique e soltando um bufar.

— Way... então Caspar te chamou também... bom, isso quer dizer que não deve ser algo tão importante assim, afinal de contas.

Franzo a testa e me levanto, indignado. Quem ele achava que era para falar comigo desse jeito?

— Do que você está falando? Os Azuis compõem o cérebro dos Reinos... e inteligência é bem mais funcional do que armas e... músculos, e... — contra minha própria vontade, desço o olhar das asas fortes para os braços torneados. Os músculos completamente cobertos por tatuagens estavam levemente tensionados por Iero manter os antebraços cruzados e...

— A longo prazo, porque acho difícil abater um ladrão de pão com um livro... a não ser que o jogue nele.

Levanto o olhar, sentindo minhas bochechas corarem tão intensamente que suspeitava que estavam da exata mesma cor das plumagens do lorde à minha frente.

— Se não... educarmos as pessoas, elas... continuarão roubando e...

— Besteira. Um ladrão de pão não rouba porque é burro. Rouba porque quer desesperadamente alimentar seus filhos, enquanto mauricinhos que nem você ficam no conforto de suas mansões, se alimentando e engordando como porcos, apenas para criarem mais regras que dificultarão ainda mais a vida do ladrão de pão.

Minha boca se abre, mas logo em seguida se fecha. Ele estava tentando me desestabilizar, aquilo era apenas um debate como qualquer outro, estava acostumado com aquele tipo de coisa.

Mas é diferente quando seu oponente está tão perto e nu da cintura para cima... isso é um fator agravante.

— Argh... — fala, se virando. — não acredito que eles preferiram continuar com você mesmo podendo votar contra... bem, suponho que decidiram isso baseando-se no governo de seus pais, não é mesmo?"

Não posso me impedir de encolher os ombros. Dessa maneira, o guerreiro se vai, me deixando ali, parado e em silêncio, apenas observando sua pequena, porém mortal, figura se distanciar cada vez mais de mim.

Eu tinha decidido ler no jardim porque no momento parecia ser uma boa ideia. Meu médico havia dito que deveria pegar mais sol, e parecia estar sempre ensolarado no Reino Dourado, mas não de uma maneira ruim, então apenas catei um cobertor em meu quarto e o estendi na grama. 

Bom... agora aprendi que é muito melhor tomar suplementos alimentares do que correr o risco de isto acontecer de novo.

Havíamos chegado ontem no castelo, e estávamos apenas esperando o Lorde Iero para começarmos a reunião. Apesar de Caspar ter rigorosamente avisado que o assunto era sério, é claro que ele não pegaria um teletransportador. Claro que não. Iero não perderia a oportunidade de usar suas asas, não é mesmo?

Assim que retorno ao meu quarto- meu rosto ainda vermelho como fogo e o cobertor jogado de qualquer jeito em cima de meus ombros-, sou parado por um guarda dourado, que me informa que a reunião começaria em vinte minutos.

A Love Like War | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora