Como o usual, fico alguns segundos com os olhos fechados quando a consciência me alcança. Estava acostumado a acordar no mesmo horário tanto em minha própria residência quanto quando saía em algum evento diplomático, portanto a esta altura, meu corpo estava completamente habituado com aquele horário, ao ponto de não precisar mais de um despertador.
No entanto, aquele não era um dia usual.
Queria ter tido mais tempo para aproveitar minha preguiça matinal. Queria poder dizer que minha memória olfativa era um pedaço de lixo inútil, mas a ligação daquele cheiro incomum que não era o meu com a pessoa ao qual pertencia foi tão rápida que quase me derrubou novamente para a inconsciência. Minhas suspeitas apenas são comprovadas quando arregalo os olhos e me sento sobre o colchão, dando uma boa olhada ao redor.
Aquele quarto não era meu. Não é como se não soubesse como havia chegado ali, porque ah, eu sabia. Milhares de memórias, sensações, cheiros e cores diferentes vinham à tona em pouquíssimos segundos, e era simplesmente demais para que eu pudesse assimilar num tempo tão rápido, de maneira que afundo o rosto em minhas mãos com força. Não sei se aquela dor literal em meu cérebro se dava ao fuzuê imensurável de pensamentos ou à luz incomumente brilhante vinda da janela, mas começo a considerar que os três provavelmente eram originários do whisky em meu cantil de ontem.
Não bebi até cair. Não cheguei nem perto disso, para ser sincero, mas oh Deus, como queria tê-lo feito. Se tivesse me dirigido ao meu próprio quarto, aquela teria sido apenas uma noite comum em que lia um livro e bebia até dormir, mas é claro que tive que parar para observar a porcaria das estrelas que estão sempre na porcaria do céu.
Entretanto, parando para pensar, de fato não bebi tanto ontem à noite. Não, foram no máximo alguns goles, que possibilitaram um pico absurdamente assustador de coragem e inconsequência dentro de mim que fizeram com que jogasse vinte e nove malditos anos de cuidado na lixeira. Foram apenas alguns goles... não era o suficiente nem para me colocar em ressaca, considerando minha resistência alcoólica considerável. E, mesmo se estivesse em uma, isso não explicaria a inacreditável tontura que estava me acometendo, nem a dor no peito e batimentos dolorosamente acelerados, nem a incapacidade de respirar ou o incapacitante senso de pavor ou a vontade quase incontrolável de chorar.
Oh... olá, ataque de pânico.
Apesar de não ser muito difícil reconhecer os sintomas em meus episódios, muitas vezes o desespero era tanto que não conseguia. Portanto, o fato de ter percebido era um sinal de que, pelo menos, dessa vez não seria tão ruim ou exaustivo. Ainda assim, o pensamento de que o dono do quarto no qual estou poderia chegar a literalmente qualquer momento apenas fez com que o nível de exasperação aumentasse.
Okay, eu preciso me acalmar. Dessa vez não é uma questão simples em que poderia dar ouvidos aos meus próprios sentimentos e limites, dessa vez realmente preciso me recompor e sair dali, porque sabia que ficaria muito pior se encontrasse com Frank naquele momento.
Com movimentos trêmulos, me levanto da cama e me dirijo para o banheiro. Não pensei muito sobre o ato, e era um milagre que não havia desmaiado no meio do caminho devido ao meu precário estado físico. Após este primeiro movimento, os próximos passos foram mais fáceis. Me sentei na beirada da banheira e liguei ambas as torneiras. Era menos desesperador fazer aquilo quando percebia que aquele era exatamente igual ao meu próprio banheiro, portanto sabia como tudo funcionava.
No entanto, não pude me impedir de abraçar meus joelhos assim que meu corpo encostou a água. Agora, não havia nada que pudesse me impedir de alcançar aqueles pensamentos.
Tudo bem, é inevitável, então os abordaremos com calma e racionalidade: sim, eu fiz sexo com Frank. Sim, eu sou um Governante que fez sexo com outro Governante. Sim, eu sou um Azul que fez sexo com um Vermelho, a Cor inimiga da minha.
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A Love Like War | Frerard
FanfictionUm dia, Deus olhou para a Terra e viu criaturas vis e cruéis governando o planeta que Ele tão arduamente criou durante sete longos dias. Um dia, Deus olhou para baixo e viu os humanos destruindo a maior e mais complexa obra-prima já criada. Viu-os c...