XIII

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Eu estava bem próximo de terminar meu jantar quando o guarda Dourado adentrou silenciosamente o salão.

As conversas cessaram imediatamente. Não era incomum algum aviso surgir no meio das refeições, porém os Governantes espremiam-se uns nos outros para ouvirem o que seria dito ao rei.

— Frank, é pra você.— levanto minhas sobrancelhas diante das palavras.— Jio.

Deixo minha cadeira calmamente, apesar deste relaxamento ser apenas um disfarce para a verdadeira tensão que residia dentro de meu peito.

Assim que cheguei ao castelo e descobri do que a urgência de Caspar se tratava, há quase um mês, imediatamente informei a Jio que passaria mais tempo aqui que o estimado... ele era o segundo no comando, cuidava das coisas quando estava fora, e diria que é tão bom nisso quanto eu próprio, possivelmente até melhor. No entanto, era de seu costume me convocar apenas quando algo precisava mesmo da minha atenção.

— E aí?

Olho para o grande caldeirão no centro da sala, onde se era possível ver a expressão cautelosa e preocupada do Vermelho de minha maior confiança.

— Saqueamentos ao sul.— ele engole em seco.— Três, sincronizados.

Grunho baixinho e passo a mão pelo rosto.

— Estão ficando mais organizados, essas ceitas de independência.— suspiro.— Mortos?

— Poucos. No entanto, a situação está instável, o medo corre solto.

Eu sabia que não por conta das mortes. Vermelhos olham para sangue com a mesma frequência que Azuis olham para páginas de livros.

— Estão querendo enviar uma mensagem...— cruzo os braços.— E suponho que querem usar minha estadia aqui em prol disso.

— Ainda não encontramos o responsável por liberar essa informação, mas...

— Besteira.— faço um estalo com a boca.— Se você está dando ordens, então não é difícil deduzir que estou fora.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Sabia que ele conseguia sentir a culpa de até aquelas poucas mortes em meus ombros, apesar de não estarmos fisicamente no mesmo ambiente. Eu sabia que não tentaria me consolar ou algo do tipo. Nenhum Vermelho tentaria. Nossa missão nesta terra sempre foi e sempre será salvar as vidas dos inocentes. Não havia nada que pudesse ser dito para nos confortar caso falhássemos nesta missão.

E todos sabiam que eu vinha falhando vezes demais naqueles últimos anos.

Jio me dá os nomes das aldeias que foram atacadas e a quantidade de mortos. Os saques aconteceram naquela mesma tarde, porém ele quis saber dos detalhes antes de passar para mim. Não havia nada que pudesse ser feito agora, no meio da noite, ainda que sentar ali e apenas discutir perdas me comesse por dentro. Essa parte era sempre a mais agoniante. Por mim, voava para lá agora mesmo e tentava ao menos recuperar um pouco da ordem perdida, impedir que a notícia de que aldeias foram saqueadas e o rei não fizera nada se espalhasse muito mais. No entanto, precisava me convencer de que era— de longe— a ideia menos sensata. 

— Bom, acho que isso é tudo.

— Pousarei aí ao amanhecer, então voaremos juntos com o pelotão para as aldeias. Vou falar com Stump e Knute para ver se podem enviar suprimentos.

— Certo.— ele faz uma pausa, seu rosto consternado tremulando na água do caldeirão.— Frank?

Chama, no momento em que estava prestes a alcançar a porta. Paro no lugar, porém não me viro.

A Love Like War | FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora