Eu tinha uma razoável ideia da grandeza da residência real dos Azuis. Era bem rasa, pois não foram muitas as vezes em que já estive ali. Em todas elas, não andei pelos corredores ou sobrevoei a estrutura por tempo o bastante para gravar a planta do lugar. Quando Mikey- que quebrara apenas um braço e adquira uma hipotermia leve no tempo em que passou na floresta- me indicou a biblioteca e disse que era onde provavelmente o irmão mais velho estava, não pude deixar de ter a sensação de que a casa aumentara ao longo dos anos.
Entretanto, o que me fez sorrir enquanto percorria os corredores era que em todas as minhas visitas, sempre torci para não encontrar o Azul que havia justamente se tornado o dono de meus pensamentos nos últimos dias.
— Ah, Gerard, aí está você, eu-
— Quero que saiba que estou grato.
Interrompeu, assim que abri as portas da maior área de estudo de Spero. Havia um pequeno sofá próximo a uma mesa, uma grande garrafa de vidro contendo um líquido âmbar em seu centro. Estes se localizavam entre mim e Gerard, que, por sua vez, encarava a janela. Estávamos em um dos andares superiores, portanto era possível ver a maior parte do Reino Azul de onde o anjo estava.
Não posso me impedir de pensar que, daquela maneira, ele se parecia muito mais com um monarca do que Caspar ou até seu pai.
— Quero dizer... tínhamos acabado de discutir quando você resolveu sair e o encontrou...— ele solta uma risada, então se vira. Entretanto, não olha em meus olhos, e sim a própria mão que segurava um copo vazio.— Qual a probabilidade disso ter acontecido se não tivéssemos discutido? Você sabe... como Azul, sou responsável por calcular essas coisas. Qual a probabilidade de você ter saído do castelo no exato mesmo segundo se não estivesse puto comigo pela coisa mais absolutamente trivial do mundo?
Imediatamente, sinto a sensação que, de fato, aquele não era o anjo que eu estava passando a conhecer melhor. De fato, houvera uma discussão entre nós ontem, mas não me lembrava dela de uma maneira tão intensa como estava colocando naquele momento.
— Você... tem noção do quão pequena era a chance de tudo ter terminado do jeito que terminou? Tem a mínima noção do quanto as coisas poderiam ter dado errado, do tamanho da sorte que foi-
— Gerard, eu não quero que-
— Não, não. Meu irmão quase morreu, Frank. Quase morreu. Ele estaria morto agora se você não estivesse sobrevoando as florestas no momento em que o fez. E... E...— ele estava ficando mais histérico, cortando o ar com movimentos mais erráticos à medida que tropeçava nas palavras como se fossem degraus de uma escada íngreme.— E... as chances eram ainda menores. Você estava com raiva de mim, e eu fiquei as três últimas horas inteiras me perguntando o porquê. Por que infernos salvou meu irmão? Você... você não tinha nenhum motivo. Nenhum. Poderia ter simplesmente ignorado quando o viu, ninguém o culparia porque ninguém jamais saberia que estava passando por aquelas bandas naquela hora.
Gerard cambaleia para frente, se aproximando da mesa. Algo estava errado, e eu estava cada vez mais convencido de que este fato estava diretamente relacionado ao copo de vidro entre seus dedos.
— Passei esse tempo todo me perguntando o porquê, mas não consegui encontrar o motivo, porque você me odeia, Frank. Todo mundo sabe disso. Cada cidadão dessa merda desse país sabe que você não me suporta, que me acha um mauricinho de nariz empinado, metido a Dourado, e-então... então por que está gastando seu tempo comigo?
— Eu te disse! Ontem mesmo! Não quero que as coisas continuem assim entre nós dois, não-
— Ah, corta essa. Ambos sabemos que não é assim que o mundo funciona. Eu sou a porra de um Azul, você não espera mesmo que vai me enganar com meio punhado de palavras bonitas e um sorriso fingido, não é?— Ele passa a mão pelos cabelos, consternado. Não havia foco em seus olhos, porém era perceptível que, mesmo assim, seu cérebro tentava encontrar uma razão em meu comportamento. O anjo derrama um pouco do conteúdo da garrafa no copo e o bebe de uma vez só logo antes de recomeçar a falar.— Deve... d-deve ter sido alguma aposta que perdeu para Caspar, porque essa sua onda de bondade não faz o menor sentido, e... e-
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A Love Like War | Frerard
FanfictionUm dia, Deus olhou para a Terra e viu criaturas vis e cruéis governando o planeta que Ele tão arduamente criou durante sete longos dias. Um dia, Deus olhou para baixo e viu os humanos destruindo a maior e mais complexa obra-prima já criada. Viu-os c...