— Xeque mate.
Gerard encara o tabuleiro em nossa frente por mais ou menos quinze segundos antes de se encostar em sua cadeira e soltar mais um suspiro cansado.
— Eu odeio você.
Sorrio de canto, pegando a peça branca do rei de meu oponente e a girando entre os dedos.
— Nah. Você apenas fortemente não gosta de mim.
Por mais que tentasse esconder, pude perceber quando ele próprio soltou um sorriso. Jogo a pecinha de volta no tabuleiro.
— Mais uma partida?
— Pra quê? Quer me humilhar ainda mais e subir a porcaria do placar para oito a zero?— o anjo levanta as sobrancelhas.— Sinceramente, eu devia ter parado na quarta rodada.
Solto uma risada alta.
— Qual é. Eu já sabia que ganharia desde o início, apenas aceitei sua proposta porque ia ser tão fofo vê-lo tentar competir.
O olhar de Gerard sobre mim poderia fazer os Vermelhos mais prudentes estremecerem, mas ele sabia muito bem que não me faria mover um único músculo. Aposto que ainda se perguntava se isso se dava por eu ser muito burro ou por já conhecê-lo bem demais.
— Lhe disse isto uma vez, e vou dizer de novo: Não fique tão confiante, Iero, não é prudente para alguém como você.
Reviro os olhos.
— Dessa vez eu tenho o direito de ser confiante. Ganhei aos quinze anos de um cara que tinha o triplo do meu tamanho, e você acha mesmo que iria me vencer em um jogo de estratégia?— estalo a língua.— Dessa vez, Gerard, foi você quem me subestimou.
Era para ser uma piada, mas pude perceber pelo desviar de seus olhos que não levou como uma. Sua reação era curiosa, e, talvez, até um pouco irônica: ele tinha uma fascinação mórbida por cadáveres e uma fúria violenta, porém nunca conseguiu superar o fato do que tive que fazer para adquirir o trono. Metade de mim não o culpava. Apesar de meu próprio gênio muitas vezes inconsequente, sempre tive a consciência de que a força bruta, em algumas situações, era o pior dos caminhos.
Entretanto, a outra metade- provavelmente a que tinha mais razão- apenas queria encará-lo nos olhos e dizer que, naquele dia, fiz uma escolha: era eu ou ele. É claro, por conta de minha idade na época, pensei um milhão de vezes em desistir antes de botar os pés naquele ringue. Eu poderia me dar por vencido, levantar a bandeira branca e viver nos confins do Reino Vermelho pelo resto de minha vida, da mesma maneira que vários herdeiros- que ainda não estavam física ou mentalmente prontos- fizeram antes de mim. No entanto, ainda havia alguma coisa dentro de meu peito que me impediu de realizar a ação, quando a hora chegou. Ainda houve uma pequena região de meu cérebro que planejou uma estratégia, mesmo sem o meu consentimento.
E, desta maneira, no último segundo em que poderia me dar ao luxo de selecionar um lado, eu escolhi sobreviver. Parecia errado qualquer um querer me culpar por isso.
— Ah, meu Deus, eu estou tão ferrado.
Vejo Caspar vir em nossa direção, no canto do jardim.
— O que aconteceu desta vez?— Gerard pergunta, a voz com um cansaço irônico. O outro faz cara feia.
— O que você acha? Krickitt enchendo a porra da paciência de novo.— se joga na terceira cadeira da mesa.— Mas, desta vez, ele levou Spero inteiro junto na paranoia.
Franzo a testa.
— Como assim? O que ele disse dessa vez?
— Algum Azul abriu o bico e falou para um Marrom que você estava por aqui.— ele aponta para Gerard, que levanta as sobrancelhas, os olhos se enchendo de reconhecimento e uma leve decepção.— Mais um pouco de fofoca e uma Rosa disse que, em uma dessas conversas pós-sexo, um Vermelho revelou que o governante também estava por aqui.
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A Love Like War | Frerard
FanfictionUm dia, Deus olhou para a Terra e viu criaturas vis e cruéis governando o planeta que Ele tão arduamente criou durante sete longos dias. Um dia, Deus olhou para baixo e viu os humanos destruindo a maior e mais complexa obra-prima já criada. Viu-os c...