— Frank. Carta. Pra você.
Ouço a voz de Jio atrás de mim, então abaixo meu bastão, vendo o garoto em minha frente franzir as sobrancelhas em dúvida. Suspiro.
— Volto já, Polin... não deve ser nada muito importante.
Murmuro, desarrumando os cabelos da criança. Encosto o pedaço de bambu em um dos bancos e agarro minha camiseta com pressa, a vestindo com rapidez enquanto andava e me atrapalhando apenas brevemente com as asas.
— De quem?
— Dourados. Deve ser assunto sério.
Franzo a testa. Da última vez que coloquei os pés naquele Reino, não havia algo sério o suficiente que requeresse uma carta. Entretanto, Caspar podia não pensar da mesma maneira. Ele era um ótimo governante, e um amigo melhor ainda, mas... era inseguro. Por mais que eu não me importasse em ajudá-lo a tomar algumas decisões mais irrelevantes, sabia que não poderia governar dois Reinos ao mesmo tempo.
Afasto a aba da tenda e pego a carta em cima da mesa, rasgando o papel fino com facilidade.
Frank, algo terrível aconteceu... você apenas irá acreditar com seus próprios olhos.
Venha o quanto antes, por favor,
CasparCoço o queixo. O tom da carta não era exatamente dos mais formais, mas era cuidadoso o suficiente para não revelar nenhuma informação essencial. Caspar estava com medo de alguém ler o recado antes de mim, o que, por um lado, me ofende, pois meu Reino não é uma total bagunça como todos pensavam, mas por outro, me fazia perceber que boa parte da minha população empunhava uma espada como ninguém, porém porcamente conseguia ler um bilhete como aquele.
A questão do analfabetismo ainda me incomodava, e muito. Era até estranho pensar que eu era o primeiro Lorde Vermelho a realmente se preocupar com isso, mas como iríamos convencer os outros Reinos que éramos intelectualmente capazes de tomar decisões importantes para Spero se nem ao menos sabíamos ler? Era por motivos conservadores como estes que os Azuis continuavam se achando superiores a nós, e, para ser honesto, eu estava ficando cansado de criar desculpas para contrapor o inegável.
— E aí? — as sobrancelhas do guerreiro ainda parado à minha frente se levantam em antecipação, e eu forço minha expressão para permanecer neutra ao soltar mais um suspiro. Parece que Polin, de fato, perderia seu treinamento de hoje.
— Caspar disse que era importante e que não acreditaria se simplesmemte me contasse. — solto um meio sorriso irônico, amassando o papel em minha mão. — Aposta quanto que aquele viado do Way finalmente saiu do armário?
Jio solta uma risada tão grande que estremece a tenda inteira, e me permito soltar um sorriso tenso. Por mais que estivesse brincando, no momento, a coisa parecia ser séria... realmente séria. Estava com um péssimo pressentimento sobre aquilo, e todos os Vermelhos sabiam o que isso significava. Toda vez em que eu sentia que algo ruim aconteceria, então uma tragédia estava por vir. Assim foi com O Acidente das Minas de 75 e assim foi com a Catástrofe Aérea dos Lordes Stump... que Deus os tenha. Eram pessoas boas. Não mereciam o que lhes aconteceu.
Entretanto, não sentia que algo assim aconteceria. Não sentia que estava relacionado a qualquer um dos Reinos, não, sentia que isto... era algo com o qual nenhum de nós jamais viu. Algo que nem mesmo os narizes empinados dos Azuis já presenciaram nos nove mil anos desde que caímos.
— Não sei... mas quebre o nariz dele na próxima vez que o ver, isso vai ser engraçado.
Diz, quando passo por ele. Respiro fundo ao estender minhas asas.
— Parto em trinta minutos. Tente manter todos mais ou menos em ordem, isto não deve demorar.
Jio iria falar alguma coisa, mas meu olhar por cima do ombro o faz se calar e assentir com a cabeça. Ninguém ousa protestar contra nada que faço, não apenas por aquela espécie de dom premonitório, mas porque sabem o que fiz com Faggio. Sabem as coisas que fiz dentro daquele ringue, e sabem que não as fiz apenas para sobreviver. Não, eu ainda poderia ter sobrevivido sem tê-lo destroçado daquela maneira. A sorte do Reino, no entanto, é que eu não era muito de abusar dos meus poderes, como Lorde Krickitt, porque senão não sabia onde os Vermelhos iriam parar.
Porém, não era como se pudesse culpá-los. Eles sabem que o medo é o que os mantém vivos, e me viram matar de novo depois daquele dia. Me viram matar com frieza e me viram, algumas vezes, cravar a lâmina em meus inimigos da exata mesma maneira que cravei o osso de minha asa no crânio de Faggio, há onze longos anos atrás. Por isso, sentem medo. Por isso, me respeitam. Gostaria de dizer que é pela maneira justa e inteligente com a qual governo, mas sabia que isto seria, em maior parte, uma mentira.
— Senhor! Senhor! Mas... mas e quanto a mim?
Me viro a tempo de ver o pequeno Polin correndo em minha direção, os cabelos extremamente ruivos grudando com o suor em sua testa, e os olhinhos da cor de safiras me encarando com desespero. Eu era o primeiro líder que se disponibilizou para treinar crianças até hoje. Alguns viam como uma fraqueza, diziam que o líder deveria cuidar de assuntos mais importantes, enquanto outros afirmavam que estas crianças seriam guerreiros maiores e melhores, porque comigo, não aprendiam apenas golpes de combate, mas também táticas de guerra e estilos de luta alternativos.
Suspiro, me agachando e colocando uma mão em seu ombro.
— Eu... preciso cuidar de alguns assuntos nacionais, tudo bem? Infelizmente, nosso treinamento não vai poder continuar por hoje.
— Ah, certo... — diz, mas sua postura murcha e seus olhos se tornam tristes.
Entorto a boca.
— Mas ei, vou estar aqui antes mesmo que consiga falar o nome de todas as famílias dos Reis Vermelhos! — exclamo, dando uns tapinhas no pescoço dele e me levantando. — E, enquanto isso, continue treinando sozinho ou com seu irmão, combinado, soldado?
Coloco ambas minhas mãos na cintura, e Polin enrijece o corpo em um sinal de respeito.
— Sim, senhor!
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A Love Like War | Frerard
FanfictionUm dia, Deus olhou para a Terra e viu criaturas vis e cruéis governando o planeta que Ele tão arduamente criou durante sete longos dias. Um dia, Deus olhou para baixo e viu os humanos destruindo a maior e mais complexa obra-prima já criada. Viu-os c...