A Love Like War | Frerard

XIV

Gargalho mais uma vez à medida que Caspar joga as próprias cartas na mesa com irritação.

— Uma pinóia que você ganhou de novo!— o Dourado cruza os braços.— A gente deveria parar de jogar esses jogos de humanos, são muito idiotas.

Reviro os olhos enquanto cato as cartas na mesa para voltar a embaralhá-las.

— Os jogos dos humanos são idiotas porque foram criados por humanos ou porque você não consegue ganhá-los?

Ele provavelmente estava prestes a me xingar quando um guarda Dourado adentra o salão e vai diretamente até seu rei. Caspar levanta as sobrancelhas quando o anjo termina de sussurrar a mensagem em seu ouvido e solta um suspiro pesado.

— Frank ainda vai se matar antes de arrumar um herdeiro, tô te dizendo.

Rio baixinho, franzindo minhas próprias sobrancelhas.

— O que você quer dizer com isso?

— O desgraçado foi atacado... parece que enfiaram uma faca bem no coração dele.

No momento em que a frase deixa seus lábios, o ambiente inteiro ao meu redor para. As cartas caem de minhas mãos na mesa, porque de repente não havia mais jogo, não havia mais nada.

— Gerard?

— O... o quê?— Tento engolir, mas minha garganta estava seca.— O que você disse?

— Frank foi atacado agora há pouco, mas já está bem. As curandeiras locais conseguiram estabilizar tudo, apesar de terem métodos bem rudimentares.

Perco totalmente o controle de minha respiração, e tento juntar as mãos para impedi-las de tremerem tanto. Penso que iria desmaiar, mas consto pelo rei de copas molhado na mesa que a sensação era causada pelas lágrimas.

— Por Deus, Gerard! Por que está chorando?

Finalmente levanto o olhar para ele.

Por que está chorando?

Como não percebia? Haviam tantas razões para chorar que poderia passar minha vida inteira listando e ainda precisaria de mais tempo.

Por que está chorando?

Todo mundo tem uma história triste. Na verdade, não apenas anjos, mas humanos também. Há tantas histórias tristes que nunca vou viver o suficiente para ouvir, então eu morrerei e me tornarei mais uma história triste que ninguém terá tempo para ouvir também.

Eu não sei se estou quente ou frio ou o que está acontecendo com meu corpo agora mesmo ou por que estou tremendo. Eu não sei o que sou e não sei o que me tornarei. Eu deveria pedir desculpas pelo que sou ou pelo que não sou? Deveria me arrepender do que me tornei ou do que não me tornei?

Quero dormir para sempre, eu atingi o tipo de tristeza perigosa que jurei para mim mesmo que sempre passaria longe. Me tornei o tipo de bêbado que se afoga em álcool para tentar esquecer o fato que preferiria se afogar em um lago.

Eu estou bem mas não deveria estar. Há pessoas que acreditam no meu potencial, mas elas não deveriam. Deveriam me levar para o ártico e me largar por lá. Ursos polares comem qualquer coisa que se move. Ótimo.

Tantos humanos se apaixonaram e agora todos estão mortos. Eu nunca me apaixonei e nunca vou me apaixonar, mas no final estarei morto também. A diferença é que nada de bom passará na frente dos meus olhos quando o momento chegar.

Uma vez li que ninguém realmente morre até que seu nome seja dito pela última vez, o que significa que todas as tragédias que conhecemos não são realmente tão trágicas assim, porque ainda são lembradas milênios depois. No entanto, penso que talvez eu seja uma tragédia, porque estou caindo dia após dia, mas não acho que alguém lembrará meu nome. Li que ninguém morre até que seu nome seja dito pela última vez. Talvez eu já esteja morto há algum tempo.