Penitência

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"Tudo está bem agora,
vamos dormir aonde os cães dormem;
Nossas decisões já foram tomadas,
nós causamos isso;
Ninguém está fora do tempo, não.
O que será, será;
Deixe tudo para trás,
deixe o oceano levar tudo embora."
(Religion - Lana Del Rey)

•••

Parecia um moribundo perambulando pela areia. Ben caminhava sem rumo, eternamente, por vezes se rastejava, por vezes ficava paralisado no solo ali mesmo, esperando pelo fim. Mas seus instintos mais profundos, a ânsia por sobrevivência de sua espécie todas as vezes o trazia forças para se salvar.

Era como alguém que tentasse prender o ar, você poderia tentar, poderia segura-lo o maior tempo que sua vontade de morrer quisesse, mas seu cérebro, seu bulbo, ele não o deixaria se sabotar. Ele te obrigaria a respirar, ele te obrigaria a voltar a viver. As espécies não foram feitas suicidas, elas foram feitas para prosperar.

Por esse motivo ele continuou. Havia algo dentro dele, algo muito maior que qualquer força, que não o deixava parar. Ele estava com fome, sede, estava com a pele desgastada, o rosto queimado pelo Sol, protegendo alguns centímetros pelos pedaços de pano que rasgara de sua túnica para cobrir uma parte.

Estava anoitecendo, pelas contas ele deveria estar andando há pelo menos dois dias do horário de Jakku, e o frio começou a invadir o deserto, novamente. Durante o dia o Sol lhe arrancava até a última gota de suor, e durante a noite o frio não o permitia dormir. Estava tremendo já, tencionando os músculos, encolhendo-se em sua própria existência quando viu uma breve luz. Ele achou que aquela fosse a hora. Seu corpo não aguentou mais, ele caiu sob seus pés, novamente acompanhando-se da areia, e suspirando suas últimas expirações de vida, até que ouviu uma voz feminina aproximando-se, passos rápidos acompanhando.

"Pela Força! " A voz disse, e com sua visão embaçada ele pôde enxergar a figura distorcida de uma mulher.

"Rey?" Ele sussurrou fechando os olhos, desistindo.

Nesse momento ele apagou. O vazio e eterno tomando conta de sua visão. Um sono profundo que o teria levado embora, sem noção da Graça que estava recebendo. Ele acordou com golpes de água na face, ouvindo vozes clamando para que ele acordasse, e quando abriu os olhos ainda era noite, mas agora não via estrelas, e sim um teto de palha e três rostos. Dois homens e uma mulher.

"Pela Força!" Ela disse de novo dessa vez agradecendo, suspirou aliviada. "Achamos que tivéssemos perdido você!" Quando ele se deu conta de que estava ainda vivo ele levou um susto, tentou esquivar-se, mas fora impedido pelos dois rapazes. "Calma!" A moça disse novamente. "Estamos aqui para ajudá-lo! Céus, você está péssimo."

E ela lhe ofereceu uma caneca, e sem ao menos pensar Ben a tomou de sua mão e engoliu o líquido que compunha num gole só.

"Mais!" Ele ordenou. "Por favor..." Se policiou, não eram seus subordinados.

A jovem o analisou com complacência e lhe entregou mais água. Agora ele recuperava a visão e definitivamente, ele já sabia, aquela não era Rey. Era uma moça que aparentava ser pouca coisa mais nova que ele, talvez entre a idade dele e a de Rey, e ela possuía cabelos bem compridos, lisos e negros, os olhos ligeiramente puxados, o rosto arredondado, era bonita e forte.

"Aqui, tome." Ela disse preocupada, depois virou-se para pegar alguma comida para ele. Ele devorou o que a jovem lhe ofereceu de novo, sob os olhares curiosos do trio. Ele agradeceu aquelas pessoas, não se lembrava da última vez em que agradecera por algo.

"Me chamo Gaia, e esse é Roger e Adonis. E você, como se chama?" Ele os olhou desconfiado, hesitante. "Pode nos dizer."

"São da Resistência?" Perguntou de modo rude. "Ou da Primeira Ordem? Ou alguma merda de ordem?"

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora