Entrega

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Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
(Camões)

•••

Mais tarde, depois de resolver alguns assuntos iniciais com madame Pomfrey, Ben voltou para a cabana e encontrou Rey já deitada. Ele hesitou em deitar-se ao seu lado principalmente depois de ter sentido algo forte se formar em seu estômago no momento em que avistou o pescoço desnudo de Rey fitando-o e lhe causando a estranha sensação de querer toca-lo.

Ele evitou o olhar, evitou perceber o quanto a pele clara de Rey fazia um par lindo com a camisola de seda salmão com a alça fina que lhe caía sobre o ombro. Pela Força, só ele sabia o quanto seus lábios ansiavam por tocar aquela parte especial do corpo dela, delicada e atraente.

Ele balançou a cabeça tapeando sua própria face tentando tirar os pensamentos estranhos de sua mente. Fez um árduo trabalho nesses anos todos para se livrar deste sentimento, não seria agora que se entregaria.

Rey sentiu o lençol movendo-se e trazendo Ben para perto dela. O rapaz se deitou tentando não incomoda-la, não toca-la. Ele virou-se para o outro lado quando ouviu Rey sussurrar:

"Senti tanto sua falta." Ele imediatamente abriu os olhos que tentou fechar antes numa tentativa desesperada de adormecer. "Eu nunca disse isso a você mas, todos os dias, não houve um dia sequer, em que eu não tenha pensado naquele beijo." Ela puxou o ar em seguida o soltando. "Não houve um dia em que eu não tenha imaginado uma vida paralela onde eu estaria exatamente aqui, deitada ao seu lado, o tendo como meu esposo." Seu coração bateu mais forte e Ben começou a sentir sua cabeça formigar. "Eu sei que é errado, mas todos esses anos com você, sozinha, não está ajudando em nada."

Ele permaneceu paralisado apenas a ouvindo. Era tão sincera com ele, tudo o que falava ele podia se ouvir dizendo para ela, ele também sentia.

"Não sabe a confusão que está na minha cabeça! Eu quero que pare!" Ela suspirou novamente, agora mais forte. "Ben, está me ouvindo?"

Ele congelou. Permaneceu quieto por alguns segundos fazendo Rey acreditar que talvez ele já estivesse adormecido. Ela suspirou agradecendo aos céus por ele não ter ouvido nada aparentemente, agradeceu pela chance de ter pensado de novo. Repousou sua cabeça mais fundo no travesseiro e respirou aliviada.

"Estou." Ela abriu os olhos num segundo arrependida pelo momento de loucura em que disse tudo aquilo. "Posso me afastar de você se achar melhor, posso conseguir outro mestre pra você, não quero lhe causar essa dor." Ela não o respondeu, apenas segurou as lágrimas que queriam romper suas glândulas lacrimais e então dormiram sem trocar mais nenhuma palavra, sabia que não adiantaria muita coisa agora.

No outro dia não falaram nada sobre a noite anterior. Foram em direção às suas missões, tomaram conhecimento de porções de terras desconhecidas do planeta, conheceram as construções principais, tudo na tentativa de analisar com quem eles estavam lidando e se a situação daquele planeta era realmente difícil. Aparentemente não era, mas mesmo assim toda cautela era pouca, a todo momento fingiram ser apenas um casal, diferente das outras vezes que não fingiram nada, causando certas desconfianças.

Depois daquela noite estava ainda mais difícil se manter perto dele, ainda mais fingindo ser algo que ela queria tanto ser: sua esposa. Seu coração batia mais forte a medida que cruzava seus braços aos dele, a medida em que Ben lhe sorria tão abertamente quando lhe apresentava aos nativos como tal. Seu coração era apunhalado todas as vezes.

Quando finalmente voltaram à aldeia de baixo de uma grande chuva que lhes pegou de surpresa, puderam rir um do outro, ter um momento de relaxamento depois de um dia tão tenso.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora