Dor

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"Pois a noite é escura e cheia de terrores."
(GOT)

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"Kira, meu amor, está nos ouvindo?" Rey perguntou sem sucesso, nenhuma resposta. "Kira, meu amor, nos de um sinal, nos deixe encontrar você!"

Kira pulou quando ouviu a voz dos pais. Ela gritou por eles, batendo contra as paredes metálicas do cubículo onde estava presa. Ela fez tanto barulho que um dos capangas de Unkar entrou no lugar para lhe dar uns tapas mandando-a calar a boca. 

Ela se sentou no meio do quarto, com a face entre os joelhos e os braços se abraçando. Ela começou a chorar dizendo que estava ali. Mas ela não era ouvida, em resposta recebia o silêncio. Ficou se perguntando se estava sonhando acordada, como poderia ouvir a voz dos pais que há tanto tempo não os via?

Ela começou a chorar, perguntava-se se aquela fora uma chance perdida, se estava ouvindo fantasmas, se estava sonhando. Ela não aguentava mais, estava lutando pra continuar viva, não possuía mais motivos, estava machucada demais, abusada demais. Seus pensamentos não eram mais os mesmos de antes, não era mais uma criança qualquer. Era uma criança que sentia vontade de morrer.

Na manhã seguinte Rey acordou bem cedo, sua cabeça estava doendo e para sua surpresa Ben a estava observando ao lado. Não disse nada, continuou respirando devagar.

"Você fez isso de novo." Ela disse com a voz baixa e amena. "Você me apagou."

"Você estava à beira de um colapso."

"Prometemos que não íamos fazer esse tipo de coisa um com o outro." 

"Eu fiz pelo seu bem." 

Ela logo pulou da cama e vestiu-se. Organizou todas as coisas. O Sol não tinha nascido ainda, mas sua pressa por Kira era desesperadora. 

Eles fecharam a conta do local e seguiram em silêncio e o mínimo de atenção possível até a nave. Seguiram seu caminho por entre as espessas tempestades de areia do planeta procurando por visibilidade em alguma vila. Cada vez que viam algum tipo de movimentação ou aglomerado eles se infiltravam no lugar. Procuravam por ela como quem não queriam nada, fingiam-se despreocupados.

"Devia comer alguma coisa, pelo menos." Ben comentou em um sussurro para ela e então aproximou-se de uma barraquinha de suprimentos do vilarejo e pagou por duas porções. No passado era muito para ela. "Coma." 

Ela encarou a comida por um tempo, lembrando-se do sofrimento de sobreviver com meia porção nos dias em que sequer conseguia alguma porção. Ela sentiria aquele gosto de novo e não sabia se estava preparada para a memória. 

"Não sinto fome." Ela preferiu repudiar.

"Rey, por favor, não pode enfraquecer. Não iremos chegar a lugar nenhum assim, ainda mais na sua atual..." ele parou. Rey levantou as sobrancelhas. "Na sua atual situação." 

"Não estou doente, Ben." 

"Eu sei." Ele respondeu. "Está grávida." Então assentiu com a cabeça e pediu mais uma vez para que ela comesse.

Por fim ela se deu por vencida, mas não foi tão satisfatório quanto era antes. Hoje ela possuía boa comida, boas roupas e uma vida melhor, mas aquelas coisas simples ainda significavam algo pra ela. O gosto em si não era bom, mas foi o suficiente. 

Eles retornaram até a nave e continuaram o caminho. Uma, duas, três... quatro vilas visitadas e nada. Rey já começava a sentir o desespero até que decidiram passar por pelo menos mais um lugar.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora