Cortes

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  "O ódio provoca dissensão,
mas o amor cobre todos os pecados."
(Provérbios 10:12)

•••         

Ren se reaproximou de Rey.

"Não! Não faça isso, deixe os cacos aí, vai se machucar mais ainda." Ren parou as mãos de Rey as colocando por debaixo das suas com certa agressividade.

Richard Dorn apareceu para buscar a garota, assustando-se com a poça de sangue que se encontrava abaixo dela. Ele balançou a cabeça em negação, perguntando ao mestre o que aconteceu.

"Houve um problema no treinamento e ela acabou caindo por cima de um espelho velho. Rasgou o corpo inteiro." Ele suspirou, preocupado.

"Não deixou que ela se mexesse, deixou?" Então Rey e Kylo se entreolharam compartilhando o erro. Dorn revirou os olhos.

Ela foi levada pela equipe médica até a ala hospitalar, foi colocada sob uma maca e Dorn pegou vários utensílios e lavou as mãos. Se aproximou da garota e cuidadosamente começou a retirar os cacos do braço e perna de Rey.

Cada pequeno pedaço de vidro que Dorn retirava de sua pele fazia Rey sentir a dor novamente. Era aguda, e a inconformidade com o que aconteceu a deixava deprimida.

A sala ficou em silêncio por um bom tempo, e Rey observava atenciosamente cada atitude do doutor, até que uma grande peça de vidro tirada de sua coxa lhe chamou atenção. Não entendia como algo daquele tamanho podia estar dentro dela.

No fim da tarde Kylo a visitou. Parecia estar muito preocupado, perguntava a todo momento se ela ainda sentia dores, perguntava ao doutor se ela ficaria bem logo e que ele providenciaria tudo que ela precisasse para ficar bem e sem sequelas. Ele pedia desculpas a todo momento também, desculpas por ter lhe causado essa dor enquanto ela o agradecia por ter lhe salvo a vida.

No dia seguinte Kylo se dirigiu bem cedo ao salão principal onde o holograma de Snoke apareceria para se comunicar com ele.

"Kylo Ren!" O tom agressivo na voz de Snoke era perceptível. "Eu fui informado de um conflito estabelecido entre você e Mera Ren, explique-se."

"Líder Supremo, de antemão suplico que reconsidere o que Mera tenha dito. Ela foi extremamente insolente e insubordinada quando tentou trair o juramento que fez ao servir a Ordem de Ren. Sua aprendiz foi derrotada por Rey e então Mera ordenou que a garota a matasse, mesmo depois de a luta já ter acabado. Senhor, estou sendo piedoso em não considerar isso como traição e expulsar Mera da Ordem!"

"Não!" Snoke se inclinou na direção de Ren. "Não é um momento estável para se estabelecer um conflito entre você e Mera Ren. Exijo que esqueça a insubordinação, há coisas maiores a se preocupar!"

"Sim mestre!" Kylo Ren respondeu.

"Como está a garota? A catadora de lixo?" A voz arrogante de Snoke se difundiu pelo salão.

"Está ferida mas Dorn me informou que o estado de saúde é estável." Ren respondeu evitando transparecer sua preocupação com a garota.

"Eu não perguntei isso, Kylo Ren, você sabe que não!"

"O que exatamente quer saber, meu líder!?"

"Já conseguiu despertar o lado sombrio?"

"Não totalmente." Kylo olhou para baixo evitando contato visual.

"Há algo que você deve saber sobre ela, Kylo Ren." Snoke se endireitou no trono. "A garota possui indícios de escuridão dentro dela. Muita raiva, angústia, magoa. Não será difícil trazê-la ao nosso lado!"

"Como tem certeza disso, líder supremo? Só vejo luz dentro dela!"

"Eu sinto!" Snoke rosnou. "Assim como senti os genes de Vader em você eu consigo sentir genes sombrios rondando pelo sangue dela. É por isso que eu quero que traga-a a mim! Preciso confirmar aquilo que já sei!"

"Sim senhor, com sua licença!"

"Kylo Ren?" Snoke chamou por ele quando Kylo já estava quase saindo do salão.

"Sim?"

"Você ainda sente compaixão por ela, temos que acabar com isso em você, ou isso vai cega-lo."

As palavras de Snoke perturbaram Ren durante o resto da noite, no outro dia Kylo levaria Rey ao encontro do líder supremo.

•••

"Socorro!" Os gritos femininos podiam ser ouvidos em diversos cantos do vilarejo. "Socorro, me ajudem!" A voz da moça ecoava pelo campo quando duas senhoras nativas correram para acudir.

"O que está acontecendo?" A senhora mais velha perguntou desesperada para a mulher e em seguida reconheceu quem era. Ela não respondia, apenas gritava de dor.

"Me ajude Pomfrey, me ajude!" Ela gritou segurando nas mãos da senhora.

"Pela Força!" A senhora exclamou tampando a boca com as duas mãos quando viu que o lençol branco estava todo manchado de sangue. "Ela está parindo!"

A outra senhora paralisou e a expressão na face da moça mudou de uma intensa dor a um tremendo desespero.

"O que?" Ela gritou, "Parindo? Parindo o que?"

"Você não sabe?" A senhora arregalou os olhos.

"Sei o que? Por favor eu não estou entendendo, o que está acontecendo comigo? Estou morrendo?" Ela já não respirava mais direito.

"Não, minha querida, você está grávida." Pomfrey dizia acariciando a testa da menina. Houve um silêncio instantâneo e as mulheres se entreolharam. Mais duas senhoras entraram na cabana trazendo jarras de água quente, lençóis limpos e todo o material necessário.

"Grávida? Não, não eu... Eu não posso estar grávida! Como eu não soube?" Ela suplicou para Pomfrey.

"Calma!" Ela dizia segurando as mãos da garota. "Se acalme, poupe suas energias!" A garota lentamente foi acalmando sua respiração e então foi colocada sobre a cama e lençóis limpos. "Eu sinto muito."

"Essa criança não podia existir. Vão nos expulsar!" Lágrimas caíram de seus olhos.

"Não pense nisso agora." A senhora respirou fundo, lançando um olhar fraterno em direção a jovem. Sabia a gravidade daquilo. "Vamos, você precisará fazer muita força se não o bebê pode não sobreviver, precisamos fazer isso rápido e com calma, ta bom?"

"Não! Eu não quero deixá-lo morrer." Ela sussurrou. "Eu vou fazer tudo o que você me pedir, eu prometo!" Soluçava.

"Vamos lá, isso! Está indo muito bem Renesmy, isso!" Ela gritava e a cada segundo fazia mais força. Outras duas senhoras seguravam a mão da mulher e a amparavam.

Depois de uma longa noite de tentativas e muito desgaste físico o choro da criança finalmente ecoou dentro da cabana.

"É uma menina!" Ela exclamou com felicidade nos lábios. "É uma menininha, Renesmy!" Entregou a criança aos braços da mãe. "Onde está o pai!?" A expressão facial da moça se fechou completamente e isso chamou a atenção da senhora que imediatamente entendeu o que estava acontecendo.

Renesmy fixou seu olhar em Pomfrey mas não esboçava nenhuma reação. "Quem é o pai?" Ela desviou o olhar e então deitou a cabeça e descansou. Madame Pomfrey se afastou da garota e suas mãos se fecharam por cima de sua sua boca, um aperto no peito se fez presente. "Não me diga que... Oh, não!"

Rey gritou após acordar de mais um pesadelo. Ela olhou para a cama e viu sangue entre suas pernas, sangue nas mãos. Ela gritou e então dois enfermeiros chegaram correndo e a encontraram gritando que havia sangue por toda parte. Eles analisaram mas não viram nada. Dorn constatou que aquilo deveria ter sido reflexo dos analgésicos que tinha tomado antes de dormir, mas ela sabia que não.

O sonho dessa vez foi mil vezes pior. A criança já não estava mais lá e ela não reconhecia aquele nome, não conhecia aquela gente. Quem era Pomfrey? E Renesmy? Ela indagou aquela manhã inteira e quanto mais o tempo passava mais os flashs daquele sonho retornavam à sua cabeça.

Desejou que tudo aquilo acabasse, mais uma vez, como todos os dias em que acordava naquela mesma base...

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora