Mudanças

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"Querido, eu perdoo você por tudo
Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha
E no final, eu acho que eu tinha que cair
Sempre encontro meu lugar entre as cinzas."
(Lithium - Evanescence)

•••

"Papai?" A voz delicada, infantil, doce e suave de Kira era uma das coisas que Ben mais gostava de ouvir. Ele virou a cabeça para respondê-la com um sorriso. Ela se aproximou, sentou-se ao lado do pai que repousava sobre a cama lendo o manual de instruções de alguns caças da Resistência. Ainda era bem cedo, ela poderia estar dormindo, mas havia algo que ela queria contar: "Eu vi a mamãe noite passada."

"É mesmo?" Ele questionou com um largo sorriso. "Sonhou com sua mãe?"

"Não era um sonho." Piscou algumas vezes aproximando-se do pai. "Eu a vi, eu até toquei nela!" Kira segurou na mão do pai como se demonstrasse.

"A tocou? Como..." franziu o cenho enquanto se ajeitava. "Do que está falando?"

"Eu vi meu irmãozinho também..." Ela foi logo interrompendo. "Na barriga dela. Eu ainda o ouvi... de alguma forma." Ela baixou os olhos fitando o chão. "Eu... vi uma luz, a luz mais bonita que eu já vi, papai."

Ben sentiu a boca secar, queria muito que Kira estivesse falando sobre um sonho, mas o tom da conversa o levava a pensar em algo que ele realmente, do fundo de todo seu coração, esperava que não fosse real.

"Uma luz?" Perguntou. Era como a luz que ele houvera presenciado?

"Ela estava lá, ela precisa de nós." Kira interrompeu novamente, um pouco mais agitada. "Ela precisa de ajuda. Precisamos tirar a mamãe de lá."

"Não, Kira, vamos começar de novo... Você não sonhou com ela, você não esteve lá com ela, então como você pode tê-la visto?"

"Eu não sei, eu só estava lá, estava andando pelo corredor quando tudo começou a ficar escuro, então eu vi a mamãe. Daí eu estava em outro lugar, num quarto, e mamãe estava deitada numa cama."

"Como era esse lugar?"

"Era escuro... e frio..." a voz falhou com a emoção em que disse as palavras, um certo medo. "E de metal, as paredes... eu não sei, eu só estava lá, tentei falar com ela, mas ela não me ouviu... Eu não sei..." Ela franziu o cenho, a decepção evidente em suas expressões. "Ela não acordou, ela só ficou lá... ai eu comecei a conversar com meu irmãozinho. Eu senti algo bom... ele se importa com a mamãe, ele me disse..."

"Disse?" Perguntou Ben.

"Não disse, exatamente..., mas eu senti, é um tipo de coisa... eu não sei, eu me senti conectada a ele."

"Kira, isso é muito importante. Você precisa me dizer... você acha que teve uma conexão com sua mãe, pela força?"

"Eu não acho que seja com a mamãe, papai. Eu acho que foi com meu irmão, e ela só estava lá."

"Tudo bem..." Concluiu com um longo suspiro.

"Mamãe está fechada, ela não quer ouvir... Eu sinto falta dela, papai, precisamos trazer ela para perto da gente!"

"Nós iremos Kira..." Ele a puxou pelos ombros e a abraçou. "Nós iremos."

Ben sentiu-se um pouco perdido de início, confuso e amedrontado. Proteger sua filha era a única coisa que lhe restava, e ter agora a certeza de que ela possuía inclinações para a força o fez sentir-se pávido.

Ele não queria que a filha sofresse. Desde que ela nasceu ele tentou convencer-se de que ela poderia ser diferente, que ela não fosse uma criança incomum bem como ele havia sido. Sabia o quão difícil houvera sido lidar com as instabilidades no humor, com os sentimentos sobre a luz e as trevas, sobre como era sentir a energia fluir pelo seu pequeno corpo sem capacidade de lidar com tamanho poder. Mas ainda havia a profecia de Statera, as duas crianças, as escolhidas, elas haviam de ser algo também.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora