Viva

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"Viver
Viver era ficar vivo.
E o preço era a culpa, aliada à vergonha."
(A menina que roubava livros)

•••

Kira sentiu um chamado, um nó na garganta que se formou sem permissão. De repente as laterais de seus olhos, sua visão periférica, passou a se tornar turva, escura. Estava em outro lugar, um local não muito ameno, nem aconchegante. Mas havia alguém especial lá, ela, Ray of sunshine como o papai dizia, sua mamãe.

Ela foi logo em direção a cama onde a mãe dormia, chamou por ela algumas vezes, mas percebeu que seria em vão. Renesmy recusava-se a ouvir. Kira tentou tocar nela mas também pareceu improvável. Rey não sentia, estava cega demais para enxergar que tudo não passava de uma grande confusão. Sua filha, sua amada filha, estava ali tentando conectar-se com ela, mas ela não ouvia.

Kira estava quase se dando por vencida, com o olhar para baixo perdido enquanto tentava controlar a tristeza inebriante que insistia em atingi-la como punição, quando sentiu um chamado, uma força, uma luz tão intensa que não poderia ser ignorada, vindo do ventre da mãe. É verdade, havia um bebê ali, seu pai disse que ela teria um irmão ou irmã, assim como Dana disse, e vovó Leia também.

Ela sorriu apesar do breve ciúme que sentiu, mas nos instantes depois ela entendeu que não deveria sentir-se daquela forma. O ciúme era possessão... a possessão a levaria ao medo... e o medo a levaria ao lado sombrio. E havia muito medo em sua mãe. Ela não podia se comunicar, mas ela podia sentir.

Rey não estava bem, nunca esteve. Havia muito conflito em seu coração, e dor, e dúvida, e principalmente medo. E também havia compaixão, estava enraizado nela, e por mais que negasse, ela existiria. Também se sentia sozinha, isolada, havia uma grande sensação de vazio, um tipo de vazio que só poderia ser preenchido por Ben.

Kira sentiu-se mal por ver a mãe daquela forma apesar de não compreender exatamente o que se passava. Ela podia sentir a imensidão sombria ao redor do corpo dela, sendo contraposta pela luz quente e reconfortante no ventre. Kira sentiu-se atraída por essa luz, colocou sua mão ali, cautelosa, curiosa... e assim se conectou com a criança dentro.

Havia vislumbres de um possível futuro, um futuro incerto. Haviam imagens felizes em que estavam todos reunidos, mas ao mesmo tempo também vinham imagens de uma criança treinada por Snoke, maligna, sombria.

O futuro era incerto, ele poderia mudar a qualquer momento, e Kira assustou-se com isso. Mas a conexão com a criança ali sendo gerida era intensa, era como se uma parte de Kira vivesse nele. Uma sensação de completude nunca sentida antes, ela precisava daquela criança para que finalmente se completassem.

Yin e Yang, luz e trevas, bem e mal. Ali ocorria. Duas metades de um só. Kira sentiu-se com um certo medo pois naquele instante ela sentiu que era trevas, que a luz da criança era muito maior e completa que a dela. Ela sentiu uma profunda necessidade de chorar, então tentou novamente.

Kira e o bebê se conectaram mais uma vez, e ela sentiu-se acolhida por ele. Havia algo que dizia a ela para não ter medo, ela se sentiu confortável. Algo que a consolava e a incentivava a acreditar em sua importância, algo que a fazia compreender, e não temer, a porção de trevas em seu interior. Tudo podia ser balanceado, tudo poderia ser remediado.

No súbito momento seguinte ela soube que o bebê conhecia a existência dela, assim como tinha noção de sua própria existência. Era como se o bebê entendesse o que estava acontecendo e nesse tempo tentava mudar as coisas.

O bebê conectou-se a irmã de uma forma que apenas os opostos na força poderiam fazer. E Kira sentiu o amor no mesmo instante, ela amou aquela criança de imediato, parte de sua família, carregando os mesmos genes de seus pais. Era mais um fadado às consequências de carregar os nomes que ela já carregava.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora