Pesadelos

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"Sim, sei de onde venho!
Insatisfeito com a labareda
ardo para me consumir!
Aquilo em que toco torna-se luz.
Carvão aquilo que abandono.
Sou certamente labareda!"
  (Friedrich Nietzsche)

••• 

Aquele dia fora a mesma coisa.

Após uma longa noite de pesadelos consecutivos, e a maioria contando com a mesma narrativa em que uma criança era arrancada de seus braços por Snoke, Rey finalmente conseguiu acordar e agradecer por isso.

Era ótimo estar longe agora. Em seus sonhos, a criança usava um penteado parecido com o dela quando jovem, os clássicos três coques dispostos um por baixo do outro, em ordem como uma espinha dorsal.

Perguntou a si mesma se aquele era um vislumbre de seu passado, como se pudesse ver sua criança interior sendo abandonada em Jakku, mas a lembrança desse dia específico, peculiarmente, não existia em sua memória.

Ela se lembrava de existir em Jakku, mas não exatamente quando chegou lá, e como chegou.

Em contrapartida, para Kylo Ren a noite havia sido normal como todas as outras. Ele não dormia muito e quando dormia era inundado de vislumbres horríveis de seu passado. Ele passava por todas as suas memórias novamente.

Uma das memórias que mais o assombravam era a do dia em que fora deixado com Luke para ser treinado. Após consecutivos distúrbios com a força, seus pais chegaram à conclusão de que ele precisava de ajuda. Ben era muito sensitivo e, sua mãe, Leia, podia sentir os genes sombrios de Vader circulando por seu sangue.

Snoke também aparecia em seus sonhos, tentando o controlar. Ele também via uma mulher, ela agonizava em dor enquanto ele a via todas as noites, mas não podia ajudar. Tinha vontade de acabar com a dor dela, mas sempre que chegava perto, Snoke aparecia e lhe impedia. Aquela figura feminina o acompanhou por muito tempo. Todas as noites.

Ele não sabia o que ela significava. Eram sonhos preenchidos por dor e terror. Por morte, por chamas, por destruição. Ele via os cavaleiros de Ren, a mulher, seus pais, Snoke...

Ele se levantou naquela manhã se sentindo diferente, com um tipo de enjoo, tontura. Seus músculos estavam fracos, seus olhos embaçados e sua garganta ardia em conjunto com sua cabeça que doía.

Ele estralou o corpo e se levantou. O homem vestiu seus trajes escuros após se alimentar em seu próprio quarto.

Ja no lavabo ele se olhou no espelho. Uma generosa cicatriz lhe atravessava o rosto e toda vez que ele olhava para a mesma se lembrava dela. Da catadora de lixo. Da garota que uma vez o derrotou.

O derrotou! Ele havia mentido para ela. Era obvio dentro dele de que ele estava fraco naquela noite. Aquela noite em especial, à noite em que assassinou seu próprio pai. Era óbvio dentro dele que ele tentou o seu máximo para impedi-la, mas ele não conseguiu, e isso o deixava mais intrigado ainda. O que tinha nela? O que ela era?

Ele nem mais se lembrava do que pensou naquele dia. Era tudo um branco novamente. A lavagem cerebral de Snoke funcionara de novo, principalmente na mente de Kylo Ren. A única memória daquele dia que vinha à sua cabeça estava no formato de um sentimento.

Kylo não conseguia de jeito nenhum sentir o ódio necessário por Rey. Ele a venerava tanto internamente que sua morte talvez fosse a única solução, então ele se rendeu aos planos de Snoke: Matar a garota.

Ele a idealizava sem saber o porquê, ele só o fazia. Se achava tão imbecil por isso, e mais imbecil ainda por fingir estar treinando a garota quando, no fim, ela morreria de qualquer jeito. Ele só precisaria de uma oportunidade, de uma única chance de cravar o seu sabre de luz no corpo dela e então tudo voltaria ao normal, ele seria o mestre impiedoso e forte de antes.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora