Maniqueísta

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Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro;
a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.
(Platão)

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Base da Primeira Ordem

Aquela era mais uma fatídica noite que acabara em vinho, apenas Rey e ela mesma em seu quarto, saboreando daquela maravilha divina da qual teve conhecimento quando chegou na ordem. A bebida dos deuses, era incrível o gosto e como rapidamente subia à sua cabeça e a fazia esquecer das dores. Uma felicidade amarga lhe fazia ferver o sangue, a fazendo rir de qualquer coisa, mesmo que sozinha ou sem um motivo aparente.

Ela era uma oitava, repetia isso para si mesma diversas vezes todos os dias, convencendo-se de que as coisas precisariam mudar e que ela devia seguir a risca os preceitos de seu novo líder se quisesse chegar a algum lugar com toda aquela farsa.

Ficou definido que Rey continuaria seu treinamento com Kylo Ren, a única diferença é que teria sessões extras com o mestre Snoke, afim de despertar os sentimentos das trevas mais ainda em seu interior. E assim foi.

Achava tudo isso de certa forma patético, tinha para si que era impossível que a escuridão fosse maior que a luz. Convicta de que seu lugar era ao lado da Resistência, jamais reivindicaria de seus ideais afim de seguir uma Ordem Absolutista e desprovida de qualquer justiça social.

Ela não faria parte na ascensão de um ilusório Império.

Um considerável tempo então se passou, e a jovem agora possuía sua própria posição dentro da Ordem, assim como um traje próprio, exclusivamente pensado para ela, e pelo menos três vezes na semana tinha de se apresentar à Snoke, reuniões que lhe faziam tremer a espinha. Era sempre uma surpresa, ora uma simples conversa, ora uma sessão de tortura mental.

Duas batidas abafadas entraram em sua cabeça alta pelo álcool, fazendo-a sibilar com a dor que sentiu. Logo foi a voz que a incomodou.

"Rey, o que está fazendo?" E aquela voz era insuportavelmente familiar.

Era Kylo Ren adentrando seu quarto, agora oficialmente um quarto adequado a um membro da Ordem de Cavaleiros de Ren. Ele a encontrou embalada em um lençol, sentada no chão, fleumática. Seus cabelos completamente bagunçados e, ao lado, a garrafa de vinho caída no chão.

Assim como quando chegou ao quarto, continuou com a visão da jovem com o olhar fixado na janela, completamente entretida com a imagem do planeta que orbitavam lá fora. Não fosse pela ressaca, talvez ela nem o teria percebido ali.

"Onde encontrou isso?" Ele se aproximou dela, abaixando-se até alcança-la no chão. Ele pegou a garrafa de vinho pela metade e ela finalmente o olhou. "Se te pegam bebendo..."

"O que?" Forçou para que as palavras saíssem, sendo quase impedida pela enxaqueca. Então Kylo a segurou pelos braços, tentando ajudá-la a se levantar, mas viu que seria inútil no segundo em que ela cambaleou.

Resolveu carregá-la no colo, foi assim que seus olhos se encontraram e ele viu a face cansada de sua aprendiz, olheiras fundas como quem não estivesse conseguindo dormir por dias. Ele sabia o que significava, já tinha visto aquela expressão antes, em seu próprio rosto, no espelho.

"O que estão fazendo com você?" Ele sussurrou horrorizado, mas ela não respondeu, sua cabeça pendeu para o lado, seus olhos se fecharam em cansaço.

Ele a depositou sobre os lençóis e permaneceu por um tempo a contempla-la. Ele a cobriu e ela segurou suas mãos por debaixo das dela, em seguida fechou os olhos e soltou um suspiro.

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora