Perdão

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"A morte é uma festa surpresa. A não ser, é claro, que já se esteja morto por dentro."
(SAW III)

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Ben permaneceu sob o domínio de Dana, a antiga mestre estava furiosa, como de costume, o levando pela gola da camiseta como se ele fosse uma criança. Ela permaneceu olhando fixamente para o horizonte ao percorrer o caminho, ignorando qualquer pergunta que Ben a fizesse. Para onde está me levando? O que vai fazer comigo? Para onde levaram minha filha?

Ben ansiava por respostas e há bastante tempo não era tão desrespeitado dessa forma, a não ser por Snoke, pois, é claro, ele detinha a posição superior e controle do que os outros fariam perante a ele. Mas, agora, na Resistência, não existia mais isso, ele não era mais superior a ninguém e seria forçado a tratar a todos com irmandade. É claro que ele não se sentia contemplado com isso.

O pior de tudo foi ver os membros da Resistência pelos quais passavam encarando-o. Todos demonstraram-se surpresos e gratos pelo fato de agora Kylo Ren, o maior da Ordem depois de Snoke, estar sob a posse deles, e alguns até satisfeitos pelo fato de Leia finalmente ter conseguido trazer seu filho para ela de volta, em compaixão pela general a princípio.

Dana o levou até uma sala, ela era pequena, como as câmaras da Primeira Ordem, e lá dentro estava Luke Skywalker, já de pé como um poste esperando pelo sobrinho. Dana fechou a porta por trás de si e juntou-se ao antigo Grã Mestre. Ben permaneceu quieto, fitando o tio pois de sua boca não sairia nada, ele esperaria para saber o que o velho queria.

"Bem vindo, Ben Solo." Ele disse em tom ameno, surpreendendo Ben que esperava ser mal tratado por ele também.

"Devo dizer obrigada?" Ele perguntou apático.

"Não é o que esperamos." Luke completou. "Fico feliz que tenha encontrado sua filha." Ben virou os olhos. "Fico mesmo, Ben!" Seu tio aproximou-se. "Sua filha merece estar com a família dela, independente de tudo que tenha acontecido. E eu... eu sinto muito, Ben, por tudo..."

"Ah, muito obrigada. Sente mesmo?" Ele riu sem humor. "Sabe, Skywalker, eu não ligo mais pra o que você pensa, ou o que você sente." Luke olhou para o chão, permitindo que o sobrinho dissesse tudo que quisesse. "Quando eu precisei de você, quando eu procurei por apoio você me negou, me descartou como se eu fosse uma coisa qualquer!" Ben parecia agressivo agora.

"Ben, eu entendo minha parcela de culpa sob tudo isso, sei que não é o único motivo desse caos todo!"

"Já parou pra pensar que tudo o que eu queria, tudo o que eu mais queria, Skywalker, era compreensão? Eu amava Rey, eu a amei acredito que desde o princípio. E por essa Força que nos ilumina, tenho certeza que nós íamos acontecer, querendo ou não! Não existe uma vida sem sentimentos, Skywalker, nenhum jedi, qualquer que fosse, e eu duvido, seria eternamente puro de sentimentos e desejos. Por mais nobre que seu objetivo fosse." Luke permaneceu quieto pois após anos isolado e de muita reflexão era exatamente à mesma conclusão que houvera chegado. "Não existe isso de luz pura, Skywalker. Dana ao menos enxergou isso, mas não adianta muito porque parece não ter aprendido nada." Lançou seu olhar severo sobre Dana, eles não iriam cala-lo agora, ainda mais ela, que tantas vezes houvera o feito se calar. "Vive mais nas trevas do que na luz, sempre lutando com você mesma pra se convencer de que é mais luz do que trevas, e isso a corrói também. Você não vê? Pois eu vejo, desde que a conheci." Dana o fitou com ódio mas também não respondeu pois sabia que ele estava certo. Ben afastou-se com ambas as mãos na nuca, negando com a cabeça para si mesmo a realidade. "Eu não sei, não sei o que fazer." Ele lutou contra a ardência em seus olhos, o nó em sua garganta, ele não queria chorar, mas não conseguiu segurar por muito tempo. "Eu não sei o que fazer, eu não sei o que pensar, não sei o que sentir. Eu não sei o que a Resistência espera de mim."

Herdeiros do Império - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora