Eu Odeio Te Amar

Nada mais importa

M.O

Acordei completamente diferente de todos os dias nesses últimos dois meses que, por acaso, foram infernais. Às vezes acho que meu coração vai explodir de felicidade, se não é que já explodiu. Poder dizer um "eu te amo" pro Miguel, e ser retribuída com as mesmas três palavras... fez com que eu me sentisse até mais leve, sabe? Como se eu tivesse soltado algo que estava preso aqui há muito tempo. De certa forma, até que estava mesmo. Porque agora, eu não só acho, como tenho certeza, que eu nunca deixei de estar apaixonada por aquele loiro dos olhos azuis, que, às vezes, ou melhor, muitas vezes, me tira do sério. Mas eu amo. Amo, amo! E nada nem ninguém vai me fazer deixar de dizer isso, agora que eu finalmente posso.

Ugh, não sei se esse enjôo que senti agora foi por algo que comi ontem, ou se foi pela emoção. É, deve ter sido realmente a emoção, nem comi nada ontem, direito. E, pra falar a verdade, a sensação que eu tive agora pode ser facilmente confundida com o que qualquer mulher por aí chama de "borboletas no estômago".

Me dirijo a sala toda sorridente... nossa... sorridente! É, isso é algo que eu não tenho sido pelos últimos dois meses.

-Bom dia, amores da minha vida! - dou um abraço em Aracy e outro em Márcia e, pelo visto, as duas estão tão felizes quanto eu.

-Tão bom ver você assim. Feliz! - Márcia comentou e eu apenas assenti, me sentando no sofá.

-Toda sorridente. - Aracy falou. -Eu tô tão feliz por você, minha menina.

-Faz um bom tempo que eu não me sentia assim. - encarei o chão.

-Assim...? - as duas perguntaram no mesmo tom, para que eu pudesse completar minha frase.

-Assim... feliz! Simplesmente feliz! Muito feliz! - ri à toa.

-E essa felicidade pode ser mais conhecida como "efeito Miguel". - Aracy falou e eu sorri, concordando.

-Que ironia, não? - Márcia comentou, se sentando no sofá ao lado. -No segundo capítulo, o "efeito Miguel" te deixava "p da vida", e vejamos... agora no vigésimo quinto te deixa feliz da vida. - piscou e nós três rimos.

-Realmente... - um flashback de dois minutos passou por minha cabeça, até chegar no dia de ontem. -Mas... de verdade, eu não tenho palavras pra descrever nem minha mente, e nem meu coração agora.

-Ótimo, agora vamos ter que aguentar Marisa Orth apaixonada. - Márcia riu, falando. -Antes era uma Marisa Orth com um ranço mortal de Miguel, depois foi pra uma Marisa Orth triste, e agora apaixonada. - Aracy assentiu com a cabeça e eu dei risada. -Mas de todas as fases, eu prefiro a de agora, simplesmente pelo motivo de que você está feliz. - fiz um sinal com a mão como se fosse apertar a bochecha de Márcia. Ninguém sabe o quanto sou grata por ter essas duas na minha vida.

-Muito filósofa. - Aracy riu. -Concordo plenamente. - completou. -Só que eu acho, que você nunca deixou de estar apaixonada por ele.

-É. - sorri lembrando dos meus pensamentos no quarto. -Eu estava realmente pensando nisso.

-Gente, como assim... "nunca deixou"? - Márcia perguntou. -O que eu perdi?

-Só que... - Aracy deu risada da cara de Márcia e continuou. -Aquele suposto ódio por algo que ele supostamente fez falava mais alto.

-Ei? Hello? Eu tô aqui! - Márcia interferiu novamente, querendo entender do que estávamos falando.

-Eu... - ri da cara de Márcia, mas voltei a conversa. -Eu fui tão trouxa de ter acreditado naquilo. Eu podia ter investigado melhor, mas... nem isso eu fiz. - encarei o teto, com as mãos sobre a cabeça.

-Pois é, Marisa. - Aracy continuou. -Se bem que, pra ele, você também tinha feito algo, então um não queria falar com o outro.

-Gente? - Márcia praticamente gritou, mas Aracy piscou pra mim e eu continuei a conversa.

-Mas... será que o Evandro foi falar com o Miguel também? - acabei soltando uma dúvida. -Não, eu acho que ele não seria capaz.

-Eu também acho. Naquela época os dois não se conheciam. - Aracy se sentou ao lado de Márcia. -Então, Evandro deve ter entrado em parceria com alguém nisso.

-Mas teria que ser alguém que soubesse dos meus sentimentos por Miguel e... - Aracy me interrompeu.

-E que soubesse também que ele sentia algo por você. - ela me olhou, seus olhos demonstravam clareza.

-Tá legal. Mas essa pessoa, juntamente com o Evandro, teriam que ter um objetivo em comum. - falei. -No caso, não queriam nós dois juntos...

-E no caso, te... - Aracy começou a falar, e Márcia a interrompeu.

-EU TÔ AQUI, INFERNO! - Márcia gritou e eu comecei a rir, bem alto.

-Espera aí, Márcia. - Aracy falou e Márcia revirou os olhos, enquanto eu continuei rindo. -Então, pode ter sido uma mulher.

-Mulher? - ignorei um pouco minha risada. -Naquela época... - busco na memória. -A Vera Fischer?

-Não... bom, eu pelo menos acho que a Vera não. - Aracy discordou.

-Verdade. A gente se dava bem... bom, um pouco. - balancei a cabeça. -Mas de qualquer forma, viajei.

-Não tinha nenhuma mulher que ficava atrás do Miguel? - Aracy perguntou e eu tentei recordar.

-Olha, por agora... eu não lembro de ninguém. - pisquei pra Aracy e olhei pra Márcia. -Cê faz ideia, Márcia?

-Claro. Eu sei de tudo. Vai ver foi a Lília Cabral, né? Já pensou nela? Eu acho que foi, hein. - Márcia falou, com a cara fechada de ironia, e Aracy soltou o riso. -Você é muito filha da mãe, viu. - Márcia balançou a cabeça. -Vocês duas, no caso. - revirou os olhos. -Eu não faço ideia nem do que vocês estão falando, caramba! - gritou e eu dei risada.

-Tudo bem, a gente te conta. - Aracy falou e eu assenti.

-Tá legal. - ouvi a voz de Miguel, e foi inevitável olhar pra trás sem um sorriso de orelha a orelha. Mas, espera... desde quando ele está aí? -Nada de história nenhuma agora. Só acho... que já esperei demais. - me olhou. -Assim, só acho.

-Demorou a se manifestar, hein lourinho. - Aracy riu e eu me levantei, indo na direção dele.

-Tô querendo falar há um tempo. Mas ver a Márcia sem entender nada foi hilário. - o sorriso de Márcia desapareceu e eu dei risada em seu ombro. Nos cumprimentamos com um selinho.

-Muito engraçado você, viu. - ela revirou os olhos.

-E... só pra tirar a dúvida de vocês, foi Zaíra Zambelli. - Miguel falou e eu encarei o teto, forçando a memória, tentando lembrar da cara da moça.

-Zaíra Zambelli...? - repeti.

-É uma loira? - Aracy perguntou e eu franzi o cenho.

-Depende de quando você viu ela. Na época ela era loira. Parece que tá morena agora, mas também, dane-se. - Miguel deu de ombros e eu o olhei.

-Ah... eu acho que sei quem é. - Aracy falou e eu repeti o gesto de Miguel: dei de ombros.

-Ok, mas isso não importa mais. - Miguel falou e eu concordei.

-Pois é. Agora absolutamente nada mais importa. - envolvi seu pescoço em meus braços, sorrindo, e ele fez o mesmo.