Eu Odeio Te Amar

Eu Tô Fora!

O dia seguiu tranquilo, Marisa passou o dia lá mesmo e ao chegar a noite, foi para seu apartamento. Saiu tirando salto, camiseta e se jogou na cama.

-Que dia! - e ficou olhando pro teto. -Por quê, meu Deus? Logo ele, de novo! - cruzou os braços e ficou questionando Deus até ela conseguir adormecer, não demorou muito.

Miguel já em casa, tira os sapatos e sua roupa e entra no banho, pra espairecer um pouco a mente. Questionou o que aconteceu umas três vezes e jurou a si mesmo que não pensaria mais nisso.

Os dois em suas casas, em suas camas enormes de casal... Marisa estava deitada do lado esquerdo da cama dela, e Miguel estava deitado do lado direito na cama dele, era como se tivessem combinado.

Eles pensaram que foi um dia cheio, mas pra ser sincera com vocês, leitores, o dia seguinte será ainda mais.

AMANHECEU

Os dois acordaram mais cedo que o normal, e foram rapidamente se arrumar para ir a Globo. Perceberam que tinha um envelope em baixo da porta. Eles os pegaram. Era o roteiro. Tinha chegado lá a noite, mas eles não haviam visto. Era justamente pra hoje. Hoje às 16:00 eles iriam fazer o ensaio geral, com todos os envolvidos, diretores, roteiristas, criadores, figurinistas, alguns artistas que não teriam nada pra fazer no momento iriam assistir... Marisa colocou a mão sobre a cabeça, e Miguel olhou para o teto.

-Ah pronto, agora danou-se. - os dois falaram ao mesmo tempo. Será que são só eles que não percebem que mesmo há quilômetros de distância eles tem uma sintonia? (Tá, beleza. Autora não pode falar nada hahaha)

Eles só na primeira lida já estavam treinando o jeito de falar. Estavam indo super bem e estavam amando, até a parte que...

-Ah, mas por quê não?- Marisa fala super dentro da personagem, se sentando no sofá, porém, como ela mesma, ela revira os olhos por justamente nessa cena ter que se sentar no colo de Miguel.

-Ah, Magda. Hoje não. - Miguel fica desconfortável por ler no roteiro que teria que ficar olhando muito pro corpo de Marisa (nada que ele nunca tivesse feito), mas promete a si mesmo que vai tentar, ao máximo, ignorar.

-Eu pensei que não fosse resistir ao... - leu o nome duas vezes pra ver se estava certo. -Canguru perneta? Mas que merda é essa?

-Me convença a resistir o canguru perneta hoje. - Miguel em casa ri sozinho, várias vezes, com o nome. Mas entrando no personagem, revira os olhos, porque é exatamente o que ele teria que fazer naquela cena.

-Ah é? Vai bancar o esperto, agora? - fala num tom super cômico, não era pra menos, sua personagem é 99,9% cômica.

Quando os dois pensam que não poderia ficar pior, lêem a palavra "beijo" antes de qualquer coisa. Miguel fica super nervoso e Marisa surta.

-Não pode ser! - os dois falam ao mesmo tempo, por mais que, obviamente, já soubessem que isso aconteceria.

-Estou pensando seriamente em sair desse elenco. Não tem como eu fazer um papel assim com alguém que eu detesto! - Miguel diz, cruzando os braços e balançando a cabeça com negatividade.

-Eu já estou pensando seriamente em sair. Eu nunca mais vou fazer uma cena de beijo com Miguel Falabella. Nunca mais! Isso era pra ser uma comédia, não deveria ter "beijos e provocações" envolvidos. Era pra ser comédia e somente comédia! Se não tiver como tirar todas essas cenas assim, eu juro... eu juro que saio! - Marisa olha para sua folha com o roteiro com todo ódio possível, era tanto, que nem sei como ela conseguiu se controlar para não amassá-la.

Os dois se arrumaram e foram imediatamente pro local. Queriam ser os primeiros a chegar pra ter uma pequena palavrinha com o diretor Afonso, que era quem cuidava de maior parte dos roteiros. Chegaram lá fervendo, Marisa demonstrava isso bem mais que Miguel. BEM MAIS, dava até uma pontinha de medo. Marisa é um amor de pessoa, super fofa, atenciosa, resumindo, um nenê. Mas, por favor, não queiram ver esse "nenê" com raiva. E agradeçam por ela só ficar assim pelo "efeito Miguel".

Os dois chegaram juntos. Ao mesmo tempo. Não se viram. Mas a recepcionista reparou bem e não deixou de comentar a si mesma sobre o estado dos dois. E foi assim : um indo pelo lado direito do corredor, e o outro indo pelo esquerdo. E, por incrível que pareça (sorte talvez?), não se viram em nenhum momento. Até chegarem ao diretor, Marisa falando sem parar, e Miguel fazendo uma única pergunta.

-Ei! Calma aí, vocês dois. Um de cada vez. - Afonso diz e finalmente faz com que os dois realmente se "notassem" ali. Os dois bufaram depois de um silêncio desconfortável, e Miguel acabou optando por deixar que Marisa falasse primeiro.

-Eu só gostaria de saber que merda de cena é essa! - entrega a folha com o roteiro nas mãos de quem, justamente, o criou.

-É óbvio que teria um beijo, mas cenas assim né, desnecessárias. - Miguel completou.

-Primeiro que nem beijo eu queria que tivesse, Falabella! - Marisa fala irritada e o diretor fica só observando.

-Tô tentando ajudar. - Miguel revira os olhos.

-Tá ficando chato isso. - Afonso fala. -Já deu, né? Vocês vão ter que me responder uma pergunta, e neste exato momento. Vão sair? Se forem, já me avisem. Mas de antemão, já falo que, além de estarem perdendo a oportunidade dessa experiência incrível, muita gente vai ficar chateada com essa decisão. Eu, inclusive. Ajudei na escolha do casal pela química que vimos em vocês na novela "Agora é que são elas", só não queríamos essas brigas e implicâncias incluídas na bagagem! - depois de falar, o diretor encarou os dois.

Miguel pareceu pensar bem em tudo que tinha escutado agora, olhava várias vezes pra Marisa tentando decifrar o que ela estava pensando. Que silêncio chato!

Ugh, posso agradecer o Miguel a vida toda por tê-lo quebrado agora.

-Eu fico, creio que a melhor opção não seja sair assim. - Afonso apertou a mão de Miguel, sorrindo vitoriosamente. Mas olharam com receio pra Marisa, que pareceu bem incomodada.

-Se ele fica, eu saio! Perdão, mesmo, mas não tem cabimento algum eu continuar nisso sendo que "meu parceiro" é alguém que eu não suporto e isso é, com toda a certeza, algo recíproco. - ela diz e encara Miguel, cruzando os braços. -Ele tem amigas comediantes que devem ter essa tal de "química" que vocês procuram.

-Tipo....? - o diretor pergunta intrigado, só se permitiu dizer isso, não havia aprovado a atitude de Marisa. Ele a queria na peça, mas não podia fazer mais nada.

-Ah, sei lá...! - pareceu pensar em vários nomes, até que.. -Cláudia Raia. Pronto! Vão lá e chamem a Cláudia Raia. - Marisa encara Miguel.

-Até que não é má idéia. Ela vai se sair muito bem no papel. - Miguel fala, encarando Marisa de volta, a mesma tentava não o olhar nos olhos.

-Marisa... você tem certeza disso? - o diretor pergunta, na esperança de ela mudar de idéia, mas não, ele falhou miseravelmente ao pensar nessa possibilidade.

-Sim. - falou com uma voz firme, mas com o olhar no chão. Não quis olhar nos olhos de nenhum dos dois, ela sabia que iria chorar se o fizesse. -Eu tô fora!