Capítulo Treze

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Admirador Secreto

  A minha vida nunca teve um sentido, nunca tive força de vontade para fazer nada, tudo o que eu fazia era somente porque deveria ser feito, não porque eu desejava aquilo, nunca desejei nada. Portanto, tudo mudou, quando te vi fiquei totalmente, completamente, loucamente hipnotizado pela sua beleza. Ah! E que beleza... A forma como você andava, a forma como sorria, a forma como seus cabelos mexiam de um lado para o outro quando desfilava pelos corredores da faculdade, o jeito que tratava as pessoas dando total atenção, o perfume que deixava quando passava por mim, era tudo tão seu, tão único. Parece que finalmente havia encontrado algo que desejo, agora minha vida tinha sentido, pois o sentido dela é você. Lyla Campos.
  Toda manhã antes de ir para faculdade passava na casa da Lyla e aguardava ela sair para irmos juntos, pode parecer que estou perseguindo ela, mas não estou, quero apenas garantir de que ela chegará segura.
-Tchau, mãe! - ela depositou um beijo na bochecha de sua mãe, como desejava um beijo desse.
-Vai com cuidado, filha! - pode ficar tranquila, Sra. Julia, estou garantindo a segurança dela.
 Quando sua mãe adentrou, comecei a andar alguns passos atrás de Lyla, observava cada movimento seu, era tão perfeita. Ela parecia um pouco cansada, deve ser por conta da festa de ontem, queria tanto tê-la ajudado com a vaca da Mirela, me perdoe por não salvá-la. Queria de alguma forma poder me desculpar por isso.
  Lyla sentou no seu lugar na sala, então abaixei um pouco o boné e passei por ela, sentando logo duas carteiras atrás. Precisava pensar em alguma forma de me aproximar da Lyla, mandei mensagens para ela, mas parece que ela não consegue compreender meus sentimentos, tenta me manter longe de todas as formas, infelizmente terei que me aproximar.

Lyla

  Laura havia faltado a aula de hoje, estava um pouco preocupada já que ela havia avisado que ia a um encontro ontem e sequer falou com quem era. Estava andando pelo corredor e enviando uma mensagem para ela, quando esbarrei em alguém, todos os meus livros e papéis foram para o chão.
-Me desculpe. - não consegui ver o rosto do garoto, já que ele usava um boné e sua cabeça estava um pouco baixa.
-Está tudo bem. - abaixei e comecei a juntar as coisas, ele logo em seguida também começou a me ajudar. - qual é o seu no... - fui interrompida.
-Desculpa, preciso ir. - ele me entregou os papéis de volta, se virou e saiu andando sem me dar tempo de terminar minha pergunta.
  Estava sentada junto com a Ana ensinando suas tarefas do dia, então o Noah se aproximou de nós.
-Oi aninha. - ele beijou o topo da sua cabeça.
-Maninho. - ela levantou para abraça-lo.
  A cara dele não parecia muito boa, parece que havia acabado de chegar de uma noite e tanto. Ele me encarou e respirou fundo.
-Lyla. - percebi um pequeno sorriso brotar em seus lábios. - preciso tanto falar com você.
-Não temos nada para conversar. - fingi que estava lendo alguma coisa nos livros da Aninha.
-Aninha, pode nos dar licença? - Noah sentou na outra cadeira ao meu lado.
-Claro, maninho. - Ana se retirou do seu quarto, nos deixando a sós.
-Noah, já disse que não temos nada para conversar, se você não se retirar agora, eu me retiro.
-Lyla, me escute. - seu olhar parecia bastante cansado.
-Não quero ouvir mais uma vez suas desculpas, não vou acreditar nelas.
-Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo com você, não quero perder sua amizade, Lyla. - Noah tentou segurar minha mão, mas recuei.
-Quantas vezes vou ter que aturar ser humilhada pela Mirela, enquanto você apenas observa sem fazer nada? Quantas vezes, Noah, terei que continuar sendo maltratada por aquela garota? - ele abaixou a cabeça.
-Infelizmente, não posso te ajudar no momento.
-POR QUE VOCÊ NÃO PODE ME AJUDAR, NOAH? - aumentei minha voz.
-Não posso falar. - sua cabeça permanecia baixa.
-POR QUE VOCÊ NÃO PODE ME AJUDAR, NOAH? - repeti a pergunta, eu queria um motivo, uma explicação, ele me devia uma explicação.
-Lyla, eu não posso... só me perdoe, por favor.
-RESPONDE A MINHA PERGUNTA, NOAH! - levantei da cadeira.
  De repende ouve um enorme barulho que ecoou pelo quarto, Noah havia batido na mesa com toda sua força.
-EU NÃO POSSO FALAR, LYLA, TEM MUITAS COISAS EM JOGO. - confesso que fiquei um pouco assustada com sua atitude.
-Então não posso te perdoar.
  A porta do quarto abriu e a Sra. Patrícia adentrou.
-O que está acontecendo aqui? - ela parecia preocupada, correu até o Noah e colocou as mãos no seu rosto. - você andou bebendo?
-Já estou de saída. - comecei a juntar minhas coisas para me retirar.
-Noah, não faça isso consigo mesmo novamente, por favor, meu filho. - o que ela estava querendo dizer?
-Me deixe em paz. - ele afastou a Sra. Patrícia e saiu do quarto rapidamente.
-Você está bem, querida? - ela colocou as mãos nos meus ombros.
-Está. Desculpa perguntar, mas o que quis dizer quando falou para o Noah não fazer isso novamente? - Sra. Patrícia se sentou na cadeira e respirou fundo, também sentei ao lado dela.
-Você deve ter percebido que o Noah não estuda em nenhuma faculdade, no momento fica mais em casa, as vezes ajuda o pai na empresa. Ele tem enfrentado seus demônios por alguns anos, esteve em casa para aliviar a cabeça e se manter longe daquilo que o levava de volta para o inferno.
-Não compreendo. - aonde ela queria chegar?
-Aos 19 anos, Noah não morava aqui na cidade, estava vivendo sozinho por conta da faculdade...
-Então ele fazia faculdade? - aquilo me surpreendeu.
-Sim. Alguns meses foram se passando e comecei a perder o contato com ele, suas mensagens pararam de chegar, minhas ligações não eram atendidas. Quando fui atrás dele, encontrei meu filho no pior estado de todos, estava completamente jogado em seu apartamento inconsciente de tantas drogas que havia utilizado, o apartamento estava tão sujo, drogas e bebidas para todos os lados. - ela respirou fundo mais uma vez. - não gosto de imaginar o que poderia ter acontecido se eu não tivesse chegado naquele momento. Tentamos afastar ele das drogas o levando de volta para casa, mas ele continuou usando, com isso também começou a se tornar agressivo, principalmente quando seu pai cortou o acesso dele ao dinheiro. - ela levantou a manga de seu vestido, deixando seu ombro a mostra, havia uma enorme cicatriz nele. - ele não fez isso por querer, o Noah é um garoto doce e gentil, mas quando está possuído por esses demônios que o perseguem tanto, ele se torna outra pessoa. Depois dele ter me agredido e tentar diversas maneiras de afastar ele das drogas, decidimos interna-lo. Ele passou um ano e meio longe de nós, fazendo tratamento contra drogas e alcoolismo. Agora ele está bem, mas tenho tanto medo, Lyla, tanto medo que meu filho volte para esse inferno, tenho medo de perdê-lo. - as lágrimas começarem a escorrer pelo seu rosto.
-Eu sei o quanto ele é forte e gentil, vai ficar tudo bem.
Envolvi ela em um abraço e tentei reconfortá-la. Nunca imaginei que a família Martins possuiam problemas assim, pareciam tão perfeitos.
Depositei um beijo em sua bochecha
e apertei o abraço.
-Vai ficar tudo bem. - sussurei, desejando com todas as minhas forças que realmente tudo ficasse bem.

O Admirador SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora