O Admirador Secreto

Capítulo Dezesseis

  -Como foi a caminhada, filha? - minha mãe apareceu na sala toda sorridente.
-Foi boa. - forcei um sorriso.
-Que ótimo! O café já está servido, se alimente e não demore muito para me ajudar nos afazeres de hoje, por favor.
-Pode ir na frente, daqui a pouco estou indo.
  Fui em direção ao meu quarto. Quando o mordomo Marcos me trouxe de volta tive que usar uma faixa no olhos, não pude ver aonde fica localizada a casa do Admirador Secreto, isso é um pouco agonizante, não fazer idéia para onde estarei indo todos os meus sábados.
-Lyla! - Laura saiu do banheiro toda alegre, parece que ela estava melhor comparado a noite anterior. - você não me parece bem.
  Ela entrou em minha frente, seu rosto tomou conta de toda a minha visão, parecia está analisando minha expressão. Sentei na cama e comecei a contar o que havia acontecido. Sei que posso confiar na Laura, se eu ficar guardando toda essa informação para mim, garanto que a qualquer momento posso surtar.
-Lyla, isso passou completamente dos limites. - ela se pôs em minha frente apoiando suas mãos em meu joelho. - ele não pode fazer isso com você.
-Pior que pode. - respirei fundo.
-Tem que sair dessa. - Laura parecia está pensando em alguma solução.
-Desiste de pensar em algo. Qual parte você não entendeu que ele me ameaçou? Se eu não fizer as vontades dele, as pessoas que amo correm perigo.
-Então você vai continuar a manter contato com ele?
-Sim, mas até eu pensar em alguma forma de me livrar dele. - coloquei a mão no queixo, estava pensando se poderia haver algum plano. - Laura, pense comigo. Agora tenho acesso a casa do Admirador Secreto, isso significa que posso encontrar o ponto fraco dele.
-Isso é ótimo! - ela soltou um gritinho animada.
-Ele descobriu qual é o meu ponto fraco, agora vou descobrir o dele. - sorri.
-Humm... Você está com uma cara de maléfica, não vou mentir, adorei!

                        🌻🌻🌻

  Estava recolhendo as roupas da família Martins para lavar, olhei em frente e avistei o cesto de roupas do Noah ao lado de sua porta. A porta estava um pouco aberta, olhei pelo espaço pequeno, meus olhos deslizaram por todo o quarto e avistei o Noah sentado em sua cama, estava lendo um livro. Confesso que desde o último acontecimento envolvendo ele, estava preocupada, parte de mim queria perguntar como ele está, mas a outra parte não quer me deixar fazer isso. Lyla, você é tão idiota. Coloquei as roupas que estavam em meus braços, dentro do cesto e tentei levantá-lo, não deu certo, o cesto caiu e as roupas se espalharam pelo chão.
-Droga!
-Está tudo bem? - Noah apareceu na porta, fechei os olhos. Querido Universo, me diga que isso não está acontecendo, não quero encará-lo agora.
-Está tudo perfeitamente perfeito. - comecei a rir de nervoso e passei a mão pelo cabelo.
-Perfeitamente perfeito? - ele levantou uma sobrancelha.
-Sim, apenas deixei o cesto cair, mas tenho que ir agora. - juntei as roupas rapidamente.
-Lyla. - Noah segurou meu pulso. - precisamos conversar, por favor.
-Infelizmente estou muito ocupada agora. - não quero retornar naquela discussão novamente. - está ouvindo isso? - coloquei uma mão em meu ouvido, como se estivesse escutando algo.
-Ouvindo o que? - ele parecia confuso.
-Minha mãe está me chamando, preciso terminar os serviços.
-Não estou ouvindo nada.
-Precisa limpar melhor os ouvidos então. - soltei meu pulso de sua mão, terminei de juntar as roupas e sai o mais rápido possível. - tchau, Noah.
Nunca desci as escadas da mansão tão depressa. Coloquei o cesto no chão e esperei minha respiração normalizar.
-Ora, Ora... - conheço essa voz. - Se não é a filha da empregadinha, que prazer te ver. - como um sorriso de uma pessoa poderia me incomodar tanto? Não sei, mas o da Mirela me incomodava.
-Para mim está sendo um desprazer te ver.
  Ela avançou em minha direção, seus olhos estavam fervendo de raiva. Hoje não está sendo meu dia. Fui raptada pelo Admirador Secreto, ameaçada, estou tentando fugir do Noah para evitar mais discussões, agora tenho que encontrar a Mirela, tem como esse dia ficar pior?
-Escuta aqui, garota idiota. - ela puxou meu cabelo e o segurava com força, aproximando meu ouvido de sua boca. - acha que esqueci o que aconteceu na festa? Você ainda vai ter o que merece. Só te falo uma coisa, não fica no meu caminho se não vai se arrepender. - Mirela me soltou e batia seus saltos contra o chão, fazendo ecoar o som por toda sala.
   Quando ela passou por mim, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
-Ah! E não se esqueça, fique longe do meu namorado. - ela continuou a subir as escadas, indo para o segundo andar, com certeza para encontrar o Noah.
Peguei o cesto de roupas sujas e fui terminar meu trabalho, só quero ir embora daqui.
Estava em um bar perto de casa, já havia bebido alguns drinks. Logo quando saí da mansão dos Martins, decidi fazer uma caminhada pelo bairro e o destino me trouxe até esse bar, então pensei: Por que não posso sentar aqui e encher minha cara, enquanto penso o quanto o Noah e a Mirela são tão idiotas e formam um casal perfeito? Nada me impediu de fazer isso, então cheguei a conclusão que era o certo a se fazer.
  Todos que entravam encaravam a minha mesa, compreendo perfeitamente o motivo, quem não olharia para uma garota com uma mesa cheia de copos de drink vazios, com uma cara inchada de tanto chorar e sozinha. É óbvio que estou tendo uma crise e todos aqui enxergam isso, devem me encarar com pena.
-Eu não preciso da pena de ninguém, quando tenho você, né amiguinha? - encarei o meu drink sorrindo.
  A porta do bar se abriu e escutei risadas masculinas. Bufei, o silêncio estava tão reconfortante. Tomei um gole da minha bebida e encarei as pessoas que adentraram o bar. Meus olhos se arregalaram quando se encontraram com os do Kevin.
-Lyla, o que está fazendo aqui? - ele se aproximou todo sorridente. - isso tudo é seu? - ele apontou para os copos vazios.
-Estou apenas aproveitando um momento sozinha. Sim, são todos meus. - sorri um pouco envergonhada. O que ele vai pensar de mim?
-Então vou me retirar, não quero atrapalhar o seu momento sozinha. - seu belo sorriso permanecia intacto no rosto.
-NÃO! - respondi depressa. - senta aí.
  Kevin se sentou na cadeira em minha frente, ele me encarava, parecia um pouco preocupado.
-Está tudo bem? - perguntou.
-Está, mas para ficar perfeito seria ótimo se um caminhão passasse em cima de uma certa pessoa. -  e essa certa pessoa é obvio a Mirela, não gosto de desejar coisas ruins para ninguém, mas estava tão nervosa com ela.
-Parece que alguém está bastante irritada. - ele começou a rir.
-Sou uma piada para você? - bebi o restante do drink de uma vez.
-Não, você nunca foi uma piada para mim. - sua expressão mudou totalmente.
-Kevin, não aguento mais ser humilhada por aquela cobra, porém, tenho que continuar aguentando tudo, não quero que uma pessoa que amo sofra consequências por causa de atitudes minha.
-Não vou pedir para entrar em detalhes no assunto, pois quero respeitar seu espaço, mas caso queira se afastar disso tudo, podemos tirar uma folguinha, posso te levar para passar um final de semana na roça dos meus tios.
-Isso seria perfeito, muito obrigada. - queria muito tirar uma folguinha dessas, mas lembrei que aos sábados estarei ocupada com o idiota que me raptou hoje. - só tem um probleminha...
-Qual?
-Nos finais de semana estou ocupada. - sorri de lado, torcendo para que ele não perguntasse com o que estaria ocupada.
-Tudo bem. Podemos ir durante a semana, pensa nisso com carinho depois, pois agora vou te levar para sua casa.
  Kevin foi até o caixa e pagou minha conta, tentei impedi-lo, mas foi em vão. Fomos até seu carro e entramos.
-Não fique se culpando muito pelas coisas que acontece entre você e quem quer que seja que esteja te fazendo sofrer, com certeza essa pessoa é idiota. - Kevin segurava firme o volante.
-Vou tentar. - sorri.
-Qualquer problema, pode sempre contar comigo.
-Obrigada por tudo, Kevin.
  O restante do caminho foi em silêncio, mas estava confortável ficar ali com ele.
-Chegamos. - Kevin abriu a porta para mim e sai do carro. - está entregue sã e salva.
-Acho que nem tão sã assim. - comecei a rir e Kevin estava me encarando sério.
  Senti seu braço envolver minha cintura e me puxar, Kevin me acolheu em um abraço, seu cheiro invadiu meu nariz. Me aconcheguei em seus braços, ele sabia exatamente o que estava precisando nesse momento.
-Vai ficar tudo bem. - ele depositou um beijo em minha cabeça.
  Nos despedimos e retornei para minha casa.