Estava na hora. Seria naquela noite. Ela enfim estaria livre.
Aos vinte e quatro anos, Louise estaria experimentado o que realmente era liberdade. Se achava sua vida infeliz antes do naufrágio ela não poderia estar mais errada. O pai havia falecido quando foi resgatada, parecia que ele estava apenas esperando para ela se despedir, e então se foi, deixando Louise aos cuidados do irmão. Olivier achava que tinha o mundo nas mãos, antes ela o achava pior, mas então seus problemas ficaram maiores, quando ele próprio abriu a boca e arruinou a reputação da irmã em Surrey, condado onde moravam. Ele bebeu e contou aos amigos sobre o resgate da irmã, fazendo questão de dar detalhes das vestes que ela usava quando a encontrou e quantos dias ficou presa naquela ilha com um homem.Louise passou a ser vista com outros olhos com seus apenas quatorze anos. Porque o irmão havia feito aquilo, ela já estava cansada de procurar uma razão. As poucas amigas se afastaram e só lhe restou os criados e seus filhos, mas jovens demais para acompanhar ela. Não compareceu a eventos, não debutou em Londres. Sem apoio, enfiou a cara nos livros. Se não fosse pelo Senhor Thomas e sua esposa Marrie, ambos criados mais antigos da família, ela não teria ninguém, e não teria como conseguir formular o plano daquela noite.
Sobre Simon; ela ainda guardava o bilhete que ele lhe escreveu quando foram resgatados, o papel velho, amarrotado, depois de dez anos, as lembranças de seus olhos azuis, seus lábios e sua voz, estavam se apagando. Ele nunca a procurou, ela não teria como, mas ele era um homem e certamente tinha recursos. Não perguntou por ele, porque quando o fez, o irmão lhe deu um tapa e a chamou de suja. Louise não queria passar por certa humilhação mais uma vez, seu coração tinha dono, porém ele havia desaparecido.
Um toque na porta de seu quarto a fez levantar da cama, colocando o plano em prática. Assim que o irmão se recolhesse em seus aposentos ela sairia de casa. Senhor Thomas, o mordomo, estaria preparando tudo para que o plano ocorresse perfeitamente, assim como sua esposa. Seria seu último dia de serviço naquela casa. Louise pegou só o essencial colocando em sua bolsa de pano, tirou sua bagagem debaixo da cama e abriu a porta encontrando o mordomo que lhe deu um sorriso amigável.
- Marrie estará te esperando na cozinha, pronta para sairmos.
- Obrigada, senhor Thomas.
Ela desceu as escadas de madeira em silêncio, indo em direção a cozinha, não teria mais empregados para bisbilhotar e fofocar para Olivier, eles estavam falidos e há meses atrás dispensaram a criadagem.
- Oh minha menina, vamos, se apresse. A carroça está pronta para podermos ir.
- Estou pronta, Marrie.
A senhora olhou para Louise com carinho e tocou seu queixo sorrindo.
- Jamais deixaríamos você aqui, minha querida, desculpe-nos por demorarmos tanto a fazer algo.
Os olhos de Louise marejaram e sua garganta apertou, ela pegou na mão de Marrie e virou o rosto para beija-la.
- O que importa é o agora, Marrie, vamos ficar bem.
Minutos depois os três estavam acomodados e o senhor Thomas direcionava os cavalos em direção a estrada. Teriam um longo caminho até o porto, as passagens, pelo menos, já estavam compradas. Louise se sentiria em dívida para sempre com o casal por estarem tomando conta de todas as finanças desta fuga.
- Vocês têm certeza de que não seguirão para os Estados Unidos comigo? - Louise perguntou durante o almoço no outro dia, em uma pensão já bem distante de casa.
- Visitaremos nossa filha na Escócia, teremos de nos separar querida. - Marrie tocou-lhe a mão com o carinho e olhar de uma mãe - Mas você pode vir conosco, não precisa ir para tão longe.
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Em um Naufrágio com o Marquês [LIVRO 1]
RomanceCONCLUÍDO Pode o amor surgir do resultado de uma grande tragédia? Cinco dias após o naufrágio, Simon e Louise sabiam que pertenciam um ao outro. Infelizmente precisavam serem vítimas de uma naufrágio para reconhecerem a outra metade de seus corações...