Eu dormi quase imediatamente. A cama era tão confortável quanto parecia, e meu pijama de seda e os lençóis pareciam ter sido feitos um para o outro. Deveria ser uma noite tranquila de sono, para que no dia seguinte, o primeiro de aula, eu estivesse descansada e cheia de energia. Porém, poucas horas depois de deitar, eu ouvi duas vozes elevadas no meu quarto. Permaneci de olhos fechados, e decidi escutar a conversa, curiosa pelo motivo de uma discussão em plena madrugada do primeiro dia de aula.
- Como você ousa virar uma traidora do sangue?
Aquela era a voz de Pansy, disso eu tinha certeza. O tom meio agudo dela parecia se elevar quando estava irritada, e era quase estridente no silêncio do quarto. E se ela estava discutindo, provavelmente era com Charlie, já que nossa outra colega de quarto parecia ser tão ruim quanto Parkinson.
- Pan... se você pelo menos tentasse...
- Eu não quero tentar, Charlie! Você ouviu o sobrenome dela, ela é uma sangue-ruim! Imagine se os seus pais...
- Eu NÃO sou os meus pais. E nem você é, Pansy! Será que poderia pelo menos tentar pensar por conta própria? - Charlie respondeu, se exaltando apesar do esforço visível na sua voz em permanecer calma.
- Você viu o modo como ela me respondeu!
- Eu também vi o modo como você a provocou! Pelas barbas de Merlin, se você tentasse pelo menos conhecer a garota. E ela pode ter tanto dinheiro quanto nós, se quer saber...
- Não importa! Ela é impura! Eu não vou "conhecer" a garota. Eu vou fazer da vida dela um inferno. Ninguém fala daquele modo comigo, Grengrass. - Pansy exclama, e suaviza o tom de voz logo após, para minha surpresa - E se ainda tiver um pouco de inteligência na sua cabecinha traidora, vai se afastar dela antes que acabe na lama junto com a sangue-ruim.
- Pela última vez...
- Boa noite, Charlotte.
Com um barulho de frustração de Charlie, a conversa pareceu ter sido encerrada. Eu permaneci imóvel. Elas usaram apelidos no início. "Pan" e "Charlie". E se conheciam desde crianças, então provavelmente eram amigas. Mas Charlie havia tentado me defender, mesmo me conhecendo há apenas algumas horas. Porém, eu nunca poderia agradecer, já que não deveria ter escutado a conversa. Horas depois, eu escuto um despertador. Quando abro os olhos, Charlie está me encarando. Solto um gritinho de susto, e ela ri e se afasta.
- Você fala dormindo, sabia? Quem é Tom? Seu namorado?
- Eu não conheço nenhum T... - ela me interrompe logo em seguida.
- Não importa. Hoje é o primeiro dia de aula e você precisa estar linda. Agora pelo amor de Merlin, vai escovar esse seu bafo de leão, porque não estamos na Grifinória.
- Idiota!
Digo com um sorriso e jogo um travesseiro nela. Me levanto e vejo que Pansy e sua amiga loira não estavam mais no quarto, felizmente. Entro no banheiro e depois de um banho rápido e minha higiene matinal, me olho no espelho. Minha pele havia se recuperado das horas intensivas de estudo, mas meu cabelo precisou de uma ajudinha rápida. Depois de passar uma maquiagem leve - apenas rímel e um gloss claro, coloco meu uniforme e saio do banheiro satisfeita com o resultado.
- O quê é isso? - Charlie exclama.
- O quê? Tem algo no meu rosto?
- Não, tem algo nas suas pernas. A saia de uma freira.
Ela anda até mim e antes que eu me manifeste, puxa a minha saia mais pra cima e dobra um pouco a bainha, fazendo com que ficasse menor. Reparo então que a saia dela realmente era mais curta que o padrão.
- O quê diabos você está fazendo?
- Te deixando 40 anos mais jovem. Agora vamos antes que eu perca o café da manhã.
Charlie não espera a minha resposta e sai. Olho rapidamente no espelho, e realmente a saia estava melhor assim. Pego a bolsa com os livros que eu já tinha separado no dia anterior. Eu tinha planejado ler a carta que minha mãe me mandou ontem, mas me esqueci completamente. Decidi deixar o envelope em cima da cama para não me esquecer essa noite.
Saio e logo alcanço Charlie, que me esperava na porta da comunal quase vazia. Provavelmente todos já estavam no Salão. Chegamos em alguns minutos, e sentamos na beirada da mesa, próximo às portas, por ser um dos poucos lugares disponíveis. Pego apenas uma maçã, porque não sentia muita fome de manhã. Ron, por outro lado, parecia um trator comendo.
Da minha mesa, eu conseguia ver o trio conversando. Eles me notaram logo depois, e enquanto Harry e Hermione sorriram para mim, Ron me olhou com uma cara feia. Sinceramente, qual era o problema dessas pessoas? Charlie estava flertando com um menino, então apenas comi a minha maçã e observei o resto do Salão. Vi que na porta estavam Sam e Vince, conversando animadamente. Disse para Charlie que a encontraria na aula de DCAT, e ela pareceu não se incomodar, então levantei e fui até eles. Ambos sorriram ao me ver.
- Ah, você não imagina nosso alívio! Pensamos que seria assassinada no covil dos Sonserinos.
Sam disse, e Vince sorriu. Antes que eu respondesse, ele completou a frase da irmã.
- Pense pelo lado positivo, verde definitivamente é a sua cor.
Decidimos andar até as aulas juntos, mas tivemos que nos separar porquê enquanto eles tinham Poções, eu tinha Defesa contra as Artes das Trevas, o quê soava muito dramático para o meu gosto. O quão perigoso poderia ser esse mundo se todos tinham magia para se defender? Ando até a sala, feliz por ter lido o livro sobre Hogwarts e evitar ficar perdida. Charlie já estava lá, já que eu demorei pela conversa, mas sua dupla era o menino com quem estava flertando mais cedo. Procuro uma cadeira vazia e encontro uma ao lado de Harry. Sento e arrumo o meu pergaminho e pena em cima da mesa.
- Devo admitir que não esperava que fosse da Sonserina - ele finalmente diz, após alguns instantes de silêncio desconfortável.
- Eu também não esperava. É por isso que Ron está me olhando estranho?
- Provavelmente. Nossas casas não se dão bem, sabe? - ele responde, meio sem graça
- Então realmente acredita que as Casas definem se alguém é bom ou não? Uau.
- Não... desculpe. Eu só quis dizer que...
Eu não saberia o quê ele quis dizer, porque um homem entrou com um estrondo na sala e interrompeu nossa conversa. Ele tinha algo no rosto que parecia um monóculo, só que com um olho meio bambo atrás que parecia querer saltar a qualquer. Definitivamente era uma aparência incomum, até entre os bruxos. Porém, não foi isso que me incomodou. A presença dele me deu uma sensação estranha, uma sensação ruim de formigamento.
- Sou Alastor Moody. - ele falou com a voz ríspida enquanto um giz enfeitiçado escrevia seu nome na lousa atrás.
Ele olhou para a sala inteira, e quando seus olhos pousaram em mim, ele por um segundo pareceu surpreso. Ele disfarçou rapidamente para que ninguém além de mim notasse. Logo me esqueci da sua reação, porque a sua aula me deixou muito mais perturbada que o olhar.
Ele demonstrou e descreveu cada uma das Maldições Imperdoáveis, com detalhes até demais. Eu não esperava isso na primeira aula da matéria, e muito menos que algum animal fosse machucado apenas para que víssemos os efeitos ao vivo. A aranha que ele usou de cobaia morreu na minha frente com um Avada Kedavra, e eu só percebi que estava prendendo a respiração quando ela caiu na mesa.
E eu poderia jurar que já tinha visto aquela luz verde antes.
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Sonserina: Born to Die (Completa)
FanfictionLily Walton é uma órfã, adotada por um casal bilionário e sem pista nenhuma de quem realmente é. Ela não acreditava em magia. Assim como não acreditava em destino. Mas quando uma mulher misteriosa a leva para a uma escola de magia e bruxaria chamada...