O Expresso

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- Pela última vez, Vince, eu não vou sair com o Farley só porque você quer um encontro com o primo dele! - escuto uma menina dizer de forma exasperada, como se estivesse cansada da discussão.

- A dor de ter uma irmã tão egoísta... ah, a agonia!

Uma voz masculina exclama teatralmente, e a minha solidão é atrapalhada por duas pessoas que entram debatendo entre si na cabine. Ambos usavam suéteres azuis, mas a diferença parava por aí. Enquanto a aparência da menina parecia impecável e não havia um fiapo de cabelo fora do lugar, ele tinha um jeito mais despojado de se vestir. Eles pareciam ser da minha idade, e ficaram surpresos ao me ver lá.

- Oh, desculpe. Achamos que estava vazia.

A menina se pronunciou primeiro. Era morena, assim como o menino, e tinha cabelos cacheados lindos e compridos que dariam inveja em muitas meninas. Estavam todos definidos e arrumados, e o castanho escuro parecia reluzir até sob a luz artificial do trem. Tinha sardas leves e usava óculos redondos, enquanto o irmão, provavelmente seu gêmeo pela semelhança física, tinha um sorriso travesso e sardas apenas no seu nariz. Ele parecia menos adorável e mais alguém que envenenaria algo só por curiosidade.

- Na verdade, podem ficar.

Dou um sorriso polido, já que não me incomodava em ter um pouco de companhia. Eles pareciam simpáticos, e poderia ser bom conhecer pessoas antes mesmo de chegar na escola. O menino estende a mão na minha direção em um cumprimento, e eu a aperto educadamente.

- Sou Vince Abbot e essa dama ao meu lado é a minha irmã gêmea Sam. Desculpa pelo show que acabou de presenciar, é só que não se fazem mais irmãos como antigamente...

A menina revira os olhos e decide ignorar o comentário do irmão, sorrindo para mim depois como se pedisse desculpa pela excentricidade do mesmo. Os dois sentaram lado a lado na minha frente, e Sam se inclinou para guardar sua bolsa no compartimento da cabine. Vince arrumou a bagagem deles, enquanto resmungava pelo peso da mala da irmã. Depois que terminam, Sam me olha simpática e decide iniciar uma conversa.

- Somos da Corvinal. Qual é a sua casa? - ela pergunta naturalmente.

E novamente eu estava na situação em que não gostava. Imaginava quais teorias eles criariam ou o quê achariam de mim. Suspiro ao ver que Vince também parecia querer saber a resposta, então decido ser sincera...

- Eu sou novata em Hogwarts.

- Ah sim. - Sam disse, antes de prosseguir com mais perguntas - Veio de Beauxbatons? Ou Durmstrang? Ou algo mais exótico como....

- Na verdade eu vim do mundo trouxa. - falei antes que ela terminasse seu questionamento, afim de poupar tanto o tempo dela quanto o meu.

Bem, principalmente o meu. Sam pareceu confusa, e sua mente estava procurando justificativas para um bruxo só ter seus poderes descobertos aos 16. Provavelmente ela estava tentando responder suas dúvidas sozinhas, talvez para não me incomodar com mais perguntas e arriscar me ofender. E nem ofenderia, eu só não poderia responder porque também não fazia ideia do motivo. Vince tentou sussurrar algo para ela, mas aparentemente ele não conseguia ou não tinha intenção de ser discreto.

- Não seja indelicada, Sam. Talvez ela tenha algum tipo de... atraso. - ele tenta soar baixo, mas eu escuto inevitavelmente e acabo dando uma gargalhada.

Se eles achavam que eu tinha alguma doença mental que tinha atrasado minha magia, provavelmente rir não tinha sido a escolha ideal. Os dois me encararam e por mais que eu tivesse algumas ideias de como usar essa situação para tirar sarro deles, decidi ser aberta.

- Eu não tenho nenhum problema do tipo. Minha magia foi reprimida em mim até pouco tempo, por isso só estou entrando agora. - falei da forma mais simples e direta possível, sem explicar mais do quê o suficiente.

Sonserina: Born to Die (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora