As pequenas construções rústicas cobertas de neve se enfileiravam ao lado das lojas mais diversas: restaurantes, docerias e tavernas. Um lugar em particular me chamou atenção: "Zonko's", parecia o local ideal para achar brincadeiras e provavelmente era um dos favoritos dos gêmeos Wealsey. Os alunos de Hogwarts se espalhavam pela vila e conversavam animadamente, andando em grupos ou duplas, olhando as vitrines e aproveitando o passeio.
Não foi tão difícil achar o lugar onde eu havia combinado de tomar cerveja amanteigada com Neville, cujo nome, "Três Vassouras", estava entalhado em uma pequena tábua de madeira envelhecida. Entro e vejo que era uma taverna um pouco movimentada, de ambiente confortável e aconchegante. Vários bruxos estavam rindo e conversando, enquanto bandejas flutuavam e uma música irlandesa suave tocava no fundo. Não demoro a encontrar Longbottom sentado sozinho em uma mesa ao fundo, e ele parecia tão triste quanto no dia em que o vi.
Me aproximo dele com um sorriso genuíno e assim que ele me vê seus olhos se iluminam em surpresa, que ele nem tenta disfarçar. Assim que sento à sua frente, ele fala:
- Eu achei que você não viria.
A incredulidade na sua voz fez com quê eu me sentisse um pouco mal por ter achado sua melancolia irritante no início. Ele parecia ter certeza de quê ficaria sozinho, e isso era triste. Dava para ver que ele não era muito sortudo e tinha plena consciência disso, e com essa parte eu conseguia me identificar até demais. Minha mãe costumava dizer que se nossas vidas são boas, se torna nossa obrigação fazer com quê as dos outros também sejam. O pensamento sobre ela traz uma pontada de saudade no meu coração, mas logo afasto tudo para focar na missão à minha frente.
- É claro que eu viria. Sonserinos não quebram suas promessas. - falo com um pequeno sorriso.
Bem, na maioria das vezes. Reparo que ele estava visivelmente nervoso com a situação, e provavelmente ele não saía com muitas pessoas. Decido conversar sobre coisas superficiais, para tentar amenizar o clima. Logo nossas cervejas amanteigadas chegam, e eu dei o meu primeiro gole (de muitos) na bebida bruxa.
- Meu Deus, isso é incrível! - falo, verdadeiramente impressionada.
Ele gesticula, sorrindo, para mostrar que a bebida incrível tinha deixado um bigode de creme no meu rosto. Limpo rapidamente com um guardanapo e continuamos a conversar. Neville me contou de coisas engraçadas que viveu, e histórias não tão legais também. Pelo visto, ele era bem desastrado, e já sofreu mais acidentes do quê pode contar. Mas ele em momento algum falou como se sentisse pena de si mesmo, o quê eu apreciei. A vida dele não parecia ter sido tão fácil, e ele aparentava lidar com isso da melhor maneira possível. E nossa conversa fluiu surpreendentemente bem, já que o tempo pareceu voar. Eu até poderia passar mais tempo ali, mas precisava encontrar o Zabini, então me despedi rapidamente de Neville.
- Espero que possamos ser amigos... - ele disse em um tom esperançoso, parecendo envergonhado pelo pedido não tão implícito.
- Acho que já somos. - sorri novamente e saímos juntos da taverna.
Ele foi se encontrar com uma menina loira que estava passando pela porta, e eu acenei. Eu já havia ouvido muito sobre Luna Lovegood, que também parecia uma pessoa legal, mesmo que eu escutasse meus colegas de Casa zombando dela constantemente.
Eu duvido muito que algum Sonserino consiga ficar tão bonito de óculos estranhos quanto ela. Andei um pouco mais do quê esperava, e não foi fácil encontrar o lugar marcado no bilhete. Era um pouco afastado das casas e lojas, então fui andando até achar um canto isolado por árvores. A fumaça marcou a localização, e logo eu cheguei na clareira.
Vi Charlie abraçada com o Nott, Pansy praticamente grudada no Malfoy, e mais alguns Sonserinos que eu conhecia apenas de vista. Pelo o quê eu contei, tinham umas 10 pessoas aqui. O barulho de risadas era convidativo, e eu nunca tinha visto meus colegas de casa tão descontraídos quanto agora. Assim que Zabini me viu, veio me cumprimentar com o seu clássico sorriso.
- Se não é a Sonserina mais linda que conheço...
Consigo sentir Parkinson revirando os olhos, então respondo o elogio de Blasio com um sorriso e uma reverência irônica. Minha presença é notada pelo resto do grupo e recebo alguns olhares que, para minha surpresa, não eram tão negativos. Blasio indica um lugar para que eu me sente e sobre teatralmente em um pequeno banco de madeira.
- Como todos sabem, nós somos o melhor grupo de amigos da Sonserina... - alguns aplausos interrompem Zabini, fazendo com quê eu involuntariamente revirasse os olhos para o narcisismo dos meus colegas.
Mas ao observar, eu reparei que aqui só haviam os Sonserinos mais amados ou odiados da escola, sem meio termo. Desde Charlie (que era tão reconhecidamente bonita que eu já havia flagrado o Ron encará-la nada discretamente) até Parkinson, que, bem, era odiada até mesmo por alguns professores (não que eu os culpasse por isso).
Todos tinham esse ar de exclusividade, com suas poses de realeza e nariz empinado (alguns consideravelmente mais que os outros). Era como a elite da Casa, exceto por mim que era basicamente só uma novata bem azarada. Mas no pequeno discurso do Zabini, foi a palavra "amigos" que mais me incomodou. Como pessoas egoístas e traiçoeiras como Pansy Parkinson ou Hannah Yaxley poderiam ser leais a algo além dos próprios umbigos?
- E hoje vamos anunciar que os Sagrados 10 se tornarão os Sagrados 11! Aplausos para Lílian, por favor. - ele anuncia ao pequeno grupo, parecendo "esquecer" de mencionar meu sobrenome propositalmente.
Todos menos Pansy e Hannah aplaudem por uns intantes. Eu admito ter gostado de ser inclusa, mas então percebi porque eu estava aqui. Não era porque eu era uma pessoa legal ou divertida e minha companhia era apreciada. Afinal, se esse fosse o critério dessas "amizades", Parkinson com certeza não estaria nesse grupo. E sim porque o meu sangue, seja lá qual fosse, era considerado digno o suficiente por eles. Desde que eu falei com aquela serpente, os sonserinos em geral tem sido mas receptivos. E também porque fiz Pansy desmaiar, eu era uma Sonserina gostada por muitos (inclusive por alguns colegas de casa que também eram vítimas da implicância dela). Mas eu nunca poderia imaginar que eu seria aceita em algum lugar simplesmente pela possibilidade de ter sangue bruxo em minhas veias.
Mas então eu me lembrei. No mundo dos trouxas, eu também era tratada bem. Novamente, não por quem eu era ou minha personalidade. E sim pelo o quê eu tinha, pelo sobrenome que eu carregava. Acho que não era uma realidade tão diferente, no fim das contas. Isso fez com quê os aplausos soassem mais frios, mas talvez fosse melhor ignorar a motivação por trás deles e aceitá-los mesmo assim. Era melhor ser aceita sob esses termos do quê não ser aceita em nenhum.
Eu ainda tinha amigos em outras casas que gostavam de mim genuinamente, e se eu precisava passar mais três anos na Sonserina, que fosse com esse grupo. Mesmo que não fossem as melhores pessoas, eu pelo menos sabia exatamente o quê esperar deles: geralmente, o pior. Zabini me entrega uma garrafa de vidro média enquanto sorri para mim.
- E como rito de passagem, aqui está seu melhor amigo da noite.
Olho para a garrafa e vejo um líquido marrom avermelhado dentro. O cheiro de álcool era forte, e provavelmente não era uma boa ideia beber em uma floresta escura com pessoas que não gostavam de mim por perto. Percebo que os "Sagrados 10" me olhavam com expectativa para que eu bebesse, me analisando como se eu estivesse passando por um teste. Decido por fim dar o pequeno gole na bebida de aparência flamejante.
E, Merlin, aquilo queimava como fogo
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Sonserina: Born to Die (Completa)
FanfictionLily Walton é uma órfã, adotada por um casal bilionário e sem pista nenhuma de quem realmente é. Ela não acreditava em magia. Assim como não acreditava em destino. Mas quando uma mulher misteriosa a leva para a uma escola de magia e bruxaria chamada...