uma fuga na fuga das lembranças

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Lentamente do rio nos afastamos, lentamente despedia-se de nós aquele barulhinho agradável de água pra baixo escorrendo, partindo para algum lugar

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Lentamente do rio nos afastamos, lentamente despedia-se de nós aquele barulhinho agradável de água pra baixo escorrendo, partindo para algum lugar. Via-se estreita uma orla de capim tufada, que nem debrum, pela margem do fio dos barrancos, que percorriam longínquos. Via-se espaços; vultos gotejantes, túmidas galerias de galhos e sobre eles ninhos, acolchoados, relirentes uns aos outros, piando como pianos; os pintos
e pontos
retilíneos.

Do meio de uma rodinha de arbustos um estrepitoso casal de codornas, num murmurinho, ruidoso. Desconfiava. Era melhor que eu fosse embora logo, pensava descaminhando, com os olhos baixos, na mata miúda. Eu pensava e meu pensamento a tudo recrudesce. Suspirei, entretanto, arfava meio tenso.

Caminhamos, ilusionados quem sabe, adentrando cada vez mais a mata verde, sentindo a brisa, a vívida vibração de energias que fluíam do floema vital que nos rodeava. Não davámos um piu, pois fotografávamos, com o olhos, curiosos, as paisagens verdejantes. E assim, maravilhados permanecemos até que, enfim, chegamos a uma espécie de arvoredo fechado por copas diversas.

"Será que mora ali?", pensei. Mas era suspeito. E se esta menina tivesse tentando me emgambelar? Estava reticente, eminente. Respirava curto, as vezes deixava o ar passar devagarinho, pra disfarçar a tensão.

- Agora é lá que eu tô morando..., - disse ao apontar para uma toca engraçadinha que estava situada mais à frente, na raiz de uma carnaúba.

Talhada em madeira era a porta feita, é pelo menos do lado de fora, tinha sido cuidadosamente esculpida em ricos detalhes, motivos florais que enfeitavam-na de uma ponta a outra. E sobre ela um pequeno arco de galhos secos que era sustentado por um fio de cobre e decorado por folhas que secas também eram. Laboriosas eram as mãos de quem havia feito aquela porta.

- Parece muito agradável! -, respondi fascinado. - Eu vou poder entrar?

A casa era baixa, mas apesar disso era assaz larga e airosa. De fato era bem iluminada para a toca de um coelho; tinha cheiro de terra molhado, mato recém roçado.

- Sim, é claro! Eu por acaso ia te trazer aqui e não te convidar pra entrar? Apesar de estar meio assim, farroupilho, mas...

Eu realmente não sabia o significado dessa palavra, mas tratei de procurar isso em algum dicionário anos depois.

Subiu lentamente as escadas abrindo a porta com macio empurrão. Um cheiro adorável de bolo de cenoura tomou conta dor ar.
- Não vai entrar? -, convidou-me fazendo um pequeno charme piscando os olhos rapidamente e levantando levemente uma de suas pernas.

Confesso que ainda estava receoso, mas aceitei o convite assentindo com a cabeça. O interior mais agradável do que eu imaginava e a casa estava tão limpa que nem mesmo uma microparticula de pó poderia ser encontrada, nem mesmo no mais oculto canto.

-... Os meus pais coelhos, - continou, - estão trabalhando. O meu paizinho é marceneiro, muito habilidoso como vê... e mainha é professora... lá na escolinha para roedores e lagomorfos, - concluiu passando a ponta da língua pelos lábios gretados.

A Ursa e o LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora