Capítulo 15

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Vinte minutos depois, o carro preto e de vidros fumê estacionava em frente a uma grande casa, antiga e mal iluminada. Luca havia sido levado para um bairro que não conhecia muito bem – um dos bairros de gente rica que ele nem ousava atravessar –, e embora se sentisse um pouco mais aliviado depois da perseguição, ainda sabia que ter entrado naquele veículo não fora uma atitude das mais inteligentes.

Os três homens desceram e o médium deixou o carro por último; estava agora de pé na calçada de uma comprida alameda. Olhou ao redor e viu poucas casas naquela rua. Era um lugar absurdamente tranquilo, e que não fosse pela aparência organizada e limpa, poderia facilmente ser confundido com um trecho desabitado da cidade.

Um dos homens abriu o portãozinho de ferro que ia até pouco acima de seu peito e todos eles passaram em fila. Luca mais uma vez passou por último, em silêncio, apenas aguardando o que o esperava no interior daquela casa. A parte direita da porta dupla foi aberta, e na mesma ordem todos eles atravessaram.

Luca se viu então em um vestíbulo com vários cabides, que dava acesso a uma sala comprida, banhada pela luz âmbar de um lustre de vidro que pendia acima de sua cabeça e refletia na cerâmica escura do piso. Além dos inúmeros quadros e cortinas, não existia nenhum móvel naquela sala: era apenas como um grande hall de entrada e que lembrava a recepção de um castelo real. Na extremidade da sala existia mais uma porta dupla, aparentemente espessa e antiga. Dois dos homens de paletó permaneceram parados ao lado da entrada como duas estátuas, enquanto o terceiro prosseguiu pelo centro da sala.

—Venha comigo, por favor, senhor Luca.

O rapaz logo o acompanhou, ouvindo os passos dos dois pares de pés sonorizando o ambiente e ecoando pelas paredes. Logo que alcançou a porta o homem parou, levou a mão até a maçaneta e olhou para o convidado.

—O Sr. August o espera do outro lado desta porta.

Com um clique a porta foi aberta, e pela fresta um suave som de piano vazou e percorreu os ouvidos de Luca. Seguindo pelo espaço que se abriu ele chegou a um estreito corredor, não muito comprido, que desbocava em outra sala. A melodia intensificava-se a cada passo percorrido – Soneto ao luar, de Beethoven –, e tão logo chegou ao fim do corredor ele já conseguiu ver de onde surgia.

Havia chegado a uma sala retangular, iluminada por um lustre exatamente igual ao da entrada. Este novo ambiente, porém, contrastava absurdamente com o anterior: era exageradamente decorado. Cada canto da parede branca exibia quadros e mais quadros, assim como prateleiras e compartimentos preenchidos pelos mais variados tipos de artefatos: vasos, estatuetas, livros antigos, máscaras de porcelana. Era quase como um pequeno museu. Em um dos recantos havia um grande piano que, após uma repentina mudança, agora tocava automaticamente o "Prelúdio em E menor" de Chopin. Próximas a ele jaziam duas poltronas de aparência aconchegante, cada uma acompanhada de uma mesinha de três pernas em seu lado esquerdo contendo uma taça e um cinzeiro. Luca seguiu até alcançar o centro da curiosa sala, parando e pondo-se a observar em silêncio.

—Olá! – disse quase um minuto depois, esperando que alguém aparecesse por detrás de alguma das inúmeras estantes que preenchiam o espaço.

Ao som da voz grave de Luca o piano calou. Ele olhou desconfiado em sua direção, mas sua atenção foi atraída de súbito por ruídos leves pouco mais à frente do local onde estava parado. Sons metálicos e que vinham de trás de um belo e grande biombo no melhor estilo japonês de séculos atrás. Dois ou três segundos depois Luca viu surgir de lá um senhor exageradamente magro, muito pálido, de cabelos grisalhos penteados para trás. Vinha em uma cadeira de rodas que movia com dificuldade, tanto por falta de forças quanto pelo pouco espaço que encontrava pelo caminho. Assim que virou-se para a frente e Luca conseguiu ver seu rosto murcho, notou que usava um tapa-olho que cobria por completo o olho direito, deixando apenas um grande globo ocular de íris castanha a refletir a luz do ambiente.

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