Capítulo 29

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Todos os pares de olhos – os de Luca, os do garoto, os de Ji-Yun, os dos Sólidos e os de Serj – fixaram-se no pequeno ponto escuro que de repente surgiu bem acima de suas cabeças. Voava rápido como um falcão negro, deslizando para baixo em alarmante velocidade.

—Ji-Yun, isso é mesmo o que eu estou achando que é? – Luca questionou ao mesmo tempo em que movia o pescoço, procurando manter à vista o objeto voador ainda não completamente identificado.

—É sim, Luca – ela respondeu quase em uma interrupção.

O olhar do rapaz atingiu Ji-Yun, tomado por repreensão.

—Você ficou maluca?

—Vai ser mais fácil escaparmos dele do que seria escapar desses outros idiotas. Vamos, antes que fique ainda pior!

Alheios a tudo que não fosse a aproximação do ser voador, os Sólidos ignoraram por completo a ordem de Serj, permitindo que o trio deslizasse sorrateiramente por entre eles e escapasse sem que notassem. Poucos segundos depois, os fugitivos já corriam para longe da concentração, deixando para trás aquele lugar que, de acordo com os terríveis cálculos de Ji-Yun, seria o pano de fundo de uma inimaginável e iminente carnificina. Luca seguia como líder da trupe, guiando o menino pela rua invertida, ouvindo os passos da colega logo atrás. Percebeu que o ritmo dela era um pouco mais lento, o que o fez parar e averiguar se havia algo de errado com a agente. Ji-Yun nem mesmo havia notado que os outros dois haviam parado, e mesmo assim também cessou sua fuga. Olhava para trás, para a concentração, e Luca conseguiu enxergar perfeitamente uma conexão visual, uma linha invisível que unia Ji-Yun a Serj, muitos metros à frente, parado e de pé. Não parecia um olhar de trégua.

—Ji-Yun, o que está esperando? – ele perguntou atônito.

—Luca, leve o garoto de volta ao ponto de equilíbrio. Não posso ir embora sem resolver uma última pendência.

—Mas, Ji-Yun...

—Faça o que eu disse. Preciso acabar com isso de uma forma ou de outra. Serj não vai deixar a mim ou ao garoto em paz.

Embora relutante em deixá-la para trás, Luca sabia que tudo o que Ji-Yun dizia era verdade. Serj sabia onde ficava o ponto de equilíbrio, e seria questão de tempo até que chegasse até lá novamente para causar mais problemas. Cada palavra encaixada nas rápidas frases de Ji-Yun continha a carga e o peso da história que ligava aqueles dois ex-agentes. E toda história que tinha um começo e um meio necessitava de um fim.

—Está certa – Luca concordou por fim, liberando um profundo suspiro.

—Vão, vão agora e não percam mais tempo. E você, garoto, confie no Luca. Ele sabe o que fazer.

Os dois olhos coloridos fitaram Ji-Yun por poucos segundos, tendo o contato visual cortado quando Luca puxou o jovem Equilibrium pela mão. Juntos, retomaram o caminho com bastante pressa, pisando com força as pedras da calçada enquanto corriam na direção do ponto de equilíbrio.

—Vamos lá garoto. Ela vai ficar bem. É a mulher mais forte que já conheci.

Ainda parada e rígida, Ji-Yun esperou que os companheiros sumissem de vista rua afora. Seus lábios crisparam-se e a testa se enrugou, e logo ela iniciou sua ida de volta ao centro da praça. O homem, em seus quase dois metros de altura, já completamente recuperado do golpe recebido na parte mais sensível de seu enorme corpo, passou a também seguir na direção de Ji-Yun. A linha invisível ainda unia seus olhos aos dela, comunicando em silêncio que por fim havia chegado o momento do confronto final.

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