Capítulo 25

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Os últimos metros do trajeto escolhido por Ji-Yun finalmente deram as caras mais à frente, quando os dois caminhantes conseguiram avistar a plataforma onde desejavam chegar. Andavam já por mais de meia hora, percorrendo a escuridão do túnel e seguindo pelos trilhos, ainda perturbados pela intensa luta contra o Inversor que quase havia feito Luca literalmente perder a cabeça.

—Sinto muito por você ter desperdiçado uma de suas últimas balas – disse Luca apontando para a pistola presa na cintura da garota.

—Tudo bem. Salvei sua vida e ainda restaram duas na agulha. Por favor, não se meta em nenhuma outra enrascada – ela retrucou dando-lhe um soco leve no ombro.

Por fim, chegaram até a plataforma e sem demora deixaram os trilhos; Ji-Yun subiu na frente e puxou Luca pelos braços, e num instante os dois se viram caminhando pela estação. Era ampla, maior e mais moderna do que a anterior. Precisaram passar por duas catracas até que chegassem aos tão esperados degraus, por onde subiram com ansiedade. Segundos depois já estavam mais uma vez a céu aberto, dois humanos vivos sob as nuvens imóveis do mundo dos mortos. Luca curvou o tronco e apoiou-se nos próprios joelhos, atingido por uma enorme dose de alívio ao ver-se finalmente livre das paredes e da escuridão do túnel.

—Cansado?

—Nunca corri tanto em toda minha vida. Daria tudo por uma garrafa de água gelada agora.

—Está com sede? – perguntou Ji-Yun olhando o rapaz de esguelha, com as sobrancelhas franzidas.

—Hum, não realmente – Luca respondeu, erguendo-se e lambendo os lábios. Estava ainda ofegante, mas percebeu que sua boca e sua garganta não estavam secas.

—Isso é o Reflexo. Aqui não sentimos fome, nem sede. É como se o tempo não passasse pra quem está aqui.

Luca deu de ombros e acrescentou mais aquela informação no bloquinho imaginário de anotações sobre aquele mundo tão parecido, mas também tão diferente do seu próprio. Com a postura novamente ereta, olhou ao redor e tentou espelhar mentalmente o que via para tentar localizar-se. Reconheceu um prédio muito alto e largo que ocupava o outro lado da rua, assim como as fachadas de alguns outros menores que naquela área eram comumente utilizados como departamentos públicos. Estavam na área importante da cidade, onde ficava o tribunal, o fórum eleitoral e a parte mais ansiada por eles: a prefeitura.

—Estamos a poucas quadras da prefeitura agora – Ji-Yun sibilou com o rosto apontado para a frente, mirando na direção de onde a rua se transformava em bifurcação. – Mas aqui teremos que prosseguir com cautela. Essa é a parte mais perigosa de todo o Reflexo.

—Perigosa? O que pode haver de ainda mais perigoso do que aquela coisa que enfrentamos lá embaixo?

Ji-Yun afastou-se da mureta que protegia a entrada da estação, onde havia se recostado para recuperar a respiração perdida, e chegou perto de Luca, tão perto como ainda não havia feito. Olhou bem no fundo de seus olhos, um azul e um castanho, e com a mão repousada sobre o ombro direito dele, disse:

—Os vivos, Luca. Os Sólidos aqui são a maior ameaça, muito mais do que qualquer criatura natural que habita esse lugar.

Sem dizer mais nada, mais uma vez afastou-se dele e retomou o caminho pela calçada. Luca precisou de alguns segundos até recobrar a confiança, e com os nervos agitados virou-se e seguiu também pelo chão de pedra. Apressou os passos até parear os ombros com os de Ji-Yun, lançando a ela um olhar rápido, mas que foi o bastante para perceber que ela parecia preocupada. As pupilas da garota mostravam-se atentas como as de um predador e de uma caça ao serem postas frente a frente – e naquele caso ela e Luca se enquadravam muito bem na segunda categoria.

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