Capítulo 30

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—Sr. August! – disse Nancy ligeiramente perturbada. – Sr. August, por favor venha até aqui!

Momentos depois, quase completamente incapaz de empurrar a cadeira de rodas, o velho August retornou à sala onde a menina e o adormecido Luca se encontravam. Exibia olhos preocupados, acompanhados de uma respiração falha e ruidosa.

—O que está acontecendo? – perguntou ele, aproximando-se da poltrona.

—Veja, ele parece muito inquieto!

August examinou o corpo rígido de Luca e percebeu que porções de seus músculos tremiam levemente, como em pequenos espasmos automáticos de alguém que luta para se livrar de algum tipo de paralisia induzida.

—Oh, não se preocupe pequena Nancy. O tempo dele está acabando. Esses são os primeiros sinais de que ele está próximo de voltar para nós – explicou o velho quase em um sussurro.

—Quanto tempo ainda resta? – Nancy perguntou aliviada.

—Alguns minutos. Vamos torcer para que tudo tenha corrido bem.

Nancy concordou com a cabeça, sem tirar os olhos do amigo. As mãos dele tremiam sem controle, e até mesmo seu rosto já esboçava leves expressões de alguém que parecia estar mergulhado em algum tipo de pesadelo.

—Me desculpe por tê-la deixado sozinha mais uma vez. Precisei fazer uma ligação muito importante e que não podia esperar.

—Tudo bem, só fiquei preocupada que algo ruim estivesse acontecendo com o Luca.

—Não deveria se preocupar tanto com ele. Ele vai retornar são e salvo, e com boas notícias. Você verá!

Augustsorriu entre seus lábios velhos e ressecados, mas seu sorriso bondoso foiinterrompido por tosses fortes que mais uma vez o obrigaram a levar o lenço nadireção da boca. A crise durou meio minuto e rendeu muitos outros pontinhosvermelhos no pedaço de tecido dobrado entre os dedos do senhor Barwell.Ligeiramente constrangido, e ao mesmo tempo um tanto incomodado por serobrigado a demonstrar tanta fragilidade perante o espírito da doce garotinha,August recostou-se no encosto da cadeira e procurou ficar um pouco maisconfortável. Todo seu corpo padecia pelas dores da doença que a cada minutosugava mais um fragmento de sua vida. Assim como o tempo de Luca no Reflexoestava prestes a acabar, o velho Barwell sabia que o seu no mundo dos vivoscompartilhava da mesma contagem regressiva.

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