Um Caso de Risco

Cap. 4

Queria evitar pensar na proposta de Aurora até o fim da semana, mas assim que cheguei em casa, no mesmo dia, minha cabeça formigou com suas palavras e todos os benefícios que eu podia ter com aquilo. Só que dois pontos me deixavam completamente pé atrás com aquilo: 1- Se Antônio descobrisse, eu perderia meu emprego; 2 - Se o marido dela descobrisse, eu poderia perder muito mais que meu emprego.

As vantagens eram muito boas. Sexo com ela, que era muito gostosa, e finalmente poder fazer faculdade. Quando pesava só nisso, minha mão coçava para pegar o celular e ligar para o número no cartão que ela me deu. Só que os contras também eram bem satisfatórios.

Eu podia pagar quatro semestres com o dinheiro que já tinha juntado durante esse tempo, mas precisaria ter um trabalho melhor para continuar o curso, senão trancaria para continuar em outro momento, e como meu grau de instrução não ia além do ensino médio e a única experiencia profissional da minha vida era de atendente de supermercado e de desentupidor de privada, não tinha muita expectativa de conseguir um trabalho que ganhasse ao menos duzentos reais a mais do que eu ganhava.

Quando a quarta-feira chega, estava decidido a não aceitar. Isso até Julio chegar falando as boas novas da sua vida.

- Entrei na universidade. - avisa deixando sua bolsa de academia no chão da área de funcionários.

- Como assim? - Paulo o olha de lado - Você nem sabe ler direito.

- Ha ha ha. Bem engraçado mesmo. - debocha ele - Quem não sabe é o Guto.

- Teu cu. - responde Augusto já tirando a camisa pra colocar a roupa pro trabalho.

- Serio isso mesmo que ele tá falando Augusto? - pergunto colocando minha polo.

- É. Ontem a gente passou lá de tarde pra ele fazer a matricula. - diz enfadado.

- Tô bem impressionado. - Paulo fica encarando Julio que agora também tirava a camisa.

Não era o fato de ele ser burro ou não que nos deixava surpresos, mas que Julio jamais demonstrou interesse em fazer faculdade. Na verdade ele só falava em ser bodybuilder junto com o irmão.

- Achei que quisesse viver de academia. - comento sentando pra calçar a bota.

- Ainda posso fazer isso. - ele dá de ombro colocando a polo - Mas decidi que queria fazer faculdade de fisioterapia, então fui lá e me matriculei.

- Fisioterapia? - Paulo, que ia colocar a camisa, para chocado e o encara - Você sabe que é um curso de saúde e que isso dá bastante trabalho, né?

- Sei. Eu pesquisei antes. Acha que sou idiota, por um acaso?

- Acho.

Paulo começa a xingar ele e rimos. Antônio entra pouco depois, comentando sobre a nossa animação e começa a passar os serviços do dia, que demonstrava que seria um dia tranquilo.

No caminho para a casa que eu teria que fazer manutenção de uma pia, fico pensando sobre Julio ter se matriculado, e que já era julho, as faculdade já estavam pegando novas matriculas, fora que as aulas estavam prestes a começar. Então penso em Aurora e sua proposta. Eu podia aturar ela por um tempo, pegar uma grana e ir pagando pelo menos o primeiro semestre, e como ela parecia ser influente, talvez depois de um tempo podia a convencer de me arranjar um trabalho melhor, que assim poderia me ver livre dela, teria minha grana guardada ainda intacta e poderia pagar o resto da faculdade com o resto do dinheiro que teria que juntar.

Mas no fim não estava tão feliz em ter que aceitar isso.

No fim do meu turno de trabalho, já havia decidido que faria aquilo. Por pelo menos um semestre acho que poderia dar certo, ou podíamos alongar isso por mais um tempo. Levar até onde dava, arriscar era algo que precisava se fazer na vida, e se não desse certo, eu usaria minha economias, afinal ela era pra isso, pagar a faculdade. Quando tivesse no fim eu dava um jeito, sempre foi assim, sempre dei um jeito.