Cap. 9

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Chego em casa e Pâmela já está mexendo no fogão, cozinhando algo. Me aproximo colocando as coisas na bancada e vejo que ela ia preparar uma macarronada com calabresa. Achei que teria um almoço mais elaborado, mas acho que eu não tinha realmente muitas opções do que comer, afinal não passava tanto tempo em casa. E aquela calabresa era o que tinha sobrado do churrasco passado e eu trouxe pra casa.

- Porque você mora há quatro anos sozinho? - ela pergunta de súbito me pegando completamente de surpresa, então me olha - Se não quiser responder, não tem problema.

- Não, só... não esperava por essa pergunta. - dou um sorriso meio tenso - Nunca tive que responder ela realmente.

- Desculpa se for um assunto pesado. Só perguntei por perguntar. - ela volta a atenção para o que fazia.

- Não é tão pesado assim, pelo menos não mais. - coloco o refrigerante na geladeira e coço a nuca - Sou órfão desde os dezessete anos. - ela para tudo e me olha espantada, dou uma risada aliviando o clima - Calma, não é bem assim vai. O cara que me fez só fez mesmo, engravidou minha mãe que tinha só dezesseis anos, depois sumiu. Ela me criou com a ajuda do meus avós e do irmão mais velho. Mas quando eu tava com dezessete ela sofreu um acidente e não resistiu. Fiquei vivendo com meu tio até os vinte, então decide seguir minha vida e desde então moro só.

- Seu tio dono da empresa?

Assinto e ela move a cabeça em concordância, mas parece consternada pelo que falei. Os movimentos de mexer a panela são lentos e eu esfrego a testa me aproximando e tocando nos ombros dela.

- Ei, não precisa ficar assim, isso faz tempo, já superei. Realmente não fico triste falando disso, mas vou ficar se você ficar nessa bad.

- Não é bem isso. - ela fala - É que... eu acho que meus problemas são ruins, mas... caramba, você perdeu sua mãe.

- Ei, só porque perdi ela não significa que as coisas são ruins pra mim. - solto ela e encosto na bancada - Claro que tem momento que sinto falta dela, mas já tem sete anos que ela se foi, não é algo que eu possa mudar.

- Eu sei, desculpa. - ela suspira e me olha - É que as vezes desejo que minha mãe morresse, porque é realmente impossível a gente ter uma boa convivência. Claro que depois me arrependo disso, porque ela é minha mãe afinal.

- Sua situação com ela é tão ruim assim? Porque não sai de casa?

- Acha que não tentei? - ela ri com deboche voltando a se concentrar na comida - Minha família é bem influente na cidade, e conhecida em outras cidades. Minha mãe é advogada e das três vezes que tentei sair de casa ela conseguiu me levar de volta. É o tipo de pessoa que vive de status, ter uma filha morando fora de casa não é bem visto, então não posso fazer isso. - ela bufa - Como se ela não tivesse o telhado de vidro.

- Sua mãe parece mesmo uma megera. - comento.

- É pior que isso, vai por mim. - ela me encara - Eu não sou de levar amigos em casa, só quando quero irritar ela. Sei que atura a Letícia porque a vó dela é podre de rica e sustenta praticamente a família inteira, mas a Daniela ela não gosta, porque a Dani é uma garota simples, não vem de berço de ouro. Como eu disse, ela só liga pra status.

- E qual seria a reação dela ao descobrir que você dormiu no meu muquifo? - testo com diversão.

- Ah! Se ela imaginar que estou aqui, capaz da SWAT vim pessoalmente me resgatar e você ser taxado como um bandido internacional.

- Que exagero. - rio.

Ela ri balançando a cabeça.

- Falando sério agora. Ela ficaria bem puta, mas me traria satisfação vê-la surtando porque dormi na casa de um assalariado, como ela gosta de chamar. Mesmo que a gente não tenha feito nada.

Um Caso de RiscoOnde histórias criam vida. Descubra agora